Veremos agora um exemplo histórico de como uma boa escatologia pode gerar bons frutos em termos da missão integral da Igreja. Estaremos examinando como a teologia de John Wesley fez com que ele desenvolve-se um ministério integral de grande impacto social. Sua teologia só pôde impactar a sociedade, porque, em primeiro lugar havia impactado sua própria vida. Wesley procurava fazer com que sua vida e a vida dos metodistas de seu tempo servisse de exemplo de sua mensagem. Ele revelava um forte comprometimento com o Reino de Deus, através de seu estilo de vida simples, caracterizado pelas boas obras, vida abundante, frutos do Espírito, santidade, disciplina e evangelização, dando muita prioridade aos pobres. Além disto, temos a grande contribuição de Wesley para a eclesiologia, que foi a dinâmica, revolucionária para a época, de seu ministério, que proporcionou uma abertura para a participação dos leigos no ministério da Igreja, e com o seu sistema de grupos pequenos para edificação de comunidades de crentes maduros que pudessem cumprir a missão de serem sal da terra e luz do mundo. Estamos seguros de que, como todo exemplo humano, este também não está isento de erros, mas é um dos melhores que podemos encontrar em toda a história da Igreja, podendo servir de referência para aqueles que procuram fidelidade a Palavra de Deus e a Missão da Igreja.
João Wesley nasceu no dia 17 de junho de 1703 na cidade de Epworth. Seu pai se chamava Samuel Wesley e sua mãe Suzana Wesley. Teve 18 irmãos. João Wesley estudou na tradicional Universidade de Oxford, onde estudaram seu bisavô Bartolomeu Wesley, seu pai Samuel e o seu irmão mais velho, Samuel Filho. Todos se preparam para o sagrado ministério teológico pastoral. Em Oxford, João Wesley criou um grupo de estudantes, que ficou conhecido como 'Clube Santo'. Os demais alunos, notando que os membros do grupo tinham horário e método para tudo que faziam, os taxaram como 'metodistas'. Após os estudos, Wesley iniciou seu ministério pastoral na Igreja Anglicana, como assistente de seu pai. Aos 32 anos de idade, ele vai para os Estados Unidos como missionário, acompanhado de seu irmão Carlos Wesley. Esta experiência missionária durou quase três anos e não foi muito bem sucedida. Mas serviu para conscientizar Wesley de sua frieza espiritual, conduzindo-o a sua experiência de avivamento, que o levou a experimentar uma vida de santificação através da plenitude do Espírito Santo. Já na viagem de ida para os Estados Unidos, seu navio enfrentou uma terrível tempestade. Wesley ficou super abalado, sentindo medo de morrer. Mas existia ali, um grupo de Moravianos, que expressavam muita confiança e paz em Deus mesmo diante da perspectiva iminente da morte. O contraste foi evidente. Wesley começou a buscar o segredo para viver uma vida assim tão abundante e segura. Vemos aqui o fundamental papel do Espírito Santo que sacudiu Wesley em alto mar e o avivou e capacitou para a Missão. Já de volta a Inglaterra, em 24 de maio de 1738, Wesley foi para uma reunião dos moravianos em Aldersgate, onde teve sua experiência de avivamento quando ele sentiu o seu coração sendo estranhamente aquecido. Podemos dizer com segurança que tal experiência de plenitude do Espírito Santo, foi um divisor de águas, que impactou sua vida e começou a impactar o mundo ao seu redor.
Como não havia muitas oportunidades na Igreja Anglicana, Wesley pregava aos operários em praças e salões, algo muito incomum na época - muito embora ele não gostasse de pregar fora da Igreja! Mas vendo a necessidade de uma sociedade bíblica, João Wesley pregava a toda hora, 4 vezes por dia, aos mineiros e pobres, a todas as pessoas, em todos os lugares nas ruas, nos campos, nas casas e até em teatros. Havia protestos daqueles que diziam que estes não eram terrenos consagrados, mas Wesley respondia dizendo Jesus consagrou cada metro quadrado desta terra ao vir neste mundo! E tornou-se conhecidíssima sua frase que diz: "o mundo é a minha paróquia". Os novos convertidos e interessados eram convidados a fazer parte de uma classe de mais ou menos 12 pessoas com estudos que enfatizavam a formação do caráter cristão. Wesley criou uma nova fórmula de Igreja, introduzindo um sistema de grupos pequenos, denominado classes, que eram liderados por leigos.
Wesley parecia incansável em sua missão. Calcula-se que, em 50 anos, Wesley tenha percorrido 175 mil quilômetros e pregado 40 mil sermões, com uma média de 800 sermões por ano. A informalidade e o dinamismo do movimento wesleyano fez com que a nova Igreja Metodista crescesse nos Estados Unidos de 15.000 em 1780 para 2.675.035 em 1898. Segundo Mateo Lelièvre, “mais de 25.000.000 dos habitantes do globo terrestre achavam-se em 1898 debaixo da influência religiosa dos discípulos de Wesley”i. E pensar que Wesley tinha experimentado um verdadeiro fracasso em sua primeira viagem missionária aos Estados Unidos! O que o poder de Deus não é capaz de fazer!
Em 1738, Wesley enfrentava um período com as seguintes características: revolução industrial, urbanização, êxodo rural, povo pobre e marginalizado nas grandes cidades e que não eram muito bem-vindos nas igrejas anglicanas, que estavam elitizadas, racionalista, distante dos pobres e de suas necessidades, com grande disparidade entre clero e povo. O clero fazia parte da elite da sociedade. O puritanismo já havia se desvanecido e o que prevalecia era o cristianismo nominal. Havia muita embriagues, principalmente entre os pobres. Pessoas eram enforcadas publicamente por crimes banais. E havia ainda o grave problema da escravidão e do tráfico e comércio de escravos. A situação era tão difícil, que Voltaire anunciava e profetizava a ruína do Cristianismo, dizendo: “Na Inglaterra, estão tão cansados da religião que, caso se apresentasse uma nova, ou até mesmo uma antiga, renovada, fracassaria por completo.”ii Wesley não como uma nova religião, mas com uma religião renovada vai desmentir Voltaire. A seguir, veremos como a teologia e, em especial, a escatologia de Wesley, contribuíram para que Wesley não se conformasse diante dos desafios e dos problemas de seu tempo e agisse para mudança.
iLelièvre, Mateo. João Wesley, sua vida e sua obra. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 1997. P. 371.
iiLelièvre, Mateo. João Wesley, sua vida e sua obra. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 1997. P. 17.
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