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Os 3 gemidos de Romanos 8

(Autor: Bispo José Ildo Swartele de Mello)


Como Deus se sente diante do sofrimento que abate sua criação? Qual o papel da igreja diante das injustiças e sofrimentos que há no Mundo? Qual a reputação de nossa igreja na comunidade? Qual o significado da Igreja para a comunidade onde ela está inserida, ou seja, como ela é vista pelos de fora?

Em tempos tão conturbados como estes em que estamos vivendo, os cristãos precisam ter em mente, com muita clareza, qual é o seu papel no mundo. Digo isto, a propósito, por perceber que, muitos são os crentes que estão confusos e outros tantos que se mostram indiferentes. É triste perceber que a esperança da maioria é puro escapismo, pois sequer esperam estar no mundo quando da manifestação do anticristo. E nem percebem a insensatez da idéia da aparição do anticristo após a remoção da Igreja e do Espírito Santo da Terra. Pois, se o anticristo se levantasse quando já não estivessem mais na Terra nem a Igreja e nem o Espírito de Deus, neste caso, ele seria anti o que? Observe que o próprio João, autor do Apocalipse, disse que, já em seu tempo, muitos anticristos haviam surgido, pelo que ele podia saber que estava vivendo a hora derradeira (1 Jo 2.18). Portanto, em vez de estarem aguardando um escape do anticristo, os cristãos deveriam reconhecer, confrontar e encarar as distintas manifestações do mal no tempo presente, que se opõem aos valores e a pessoa de Cristo.

A Igreja precisa se conscientizar de sua missão no mundo e não deve sucumbir ao perigos de uma teologia alienante, escapista, individualista e que gera acomodação diante das circunstâncias da vida. O cristão não deve fazer da Igreja um gueto ou um museu de santos e nem deve cair no outro extremo de se acomodar a este mundo. O cristão não pode ficar como espectador passivo dos eventos escatológicos, um crente de arquibancada, ou atuar como mero prognosticador do caos, um agoureiro do fim. Dentre os quais, existem alguns que chegam até a esboçar alguma espécie de alegria mórbida diante das catástrofes, o que não se justifica, nem mesmo com a alegação de que as Escrituras estão se cumprindo. Pois Deus não se alegra com o mal e nem com o sofrimento ou com a morte de quem quer que seja (Ez 33.11 e 1 Co 13.6). Os textos bíblicos que tratam de escatologia não existem para saciar nossa curiosidade, nem para nos tornar mais "sabidos", nem nos tornar espectadores e nem muito menos para servir de escapismo e fuga da realidade.

Jesus deixou claro qual deveria ser o papel dos cristãos: "vós sois a luz do mundo e o sal da terra" (Mt 5.13 e 14). Luz, sabemos, tem a ver com vida, verdade, justiça e paz; enquanto o sal possui duas propriedades muito relevantes para o tema em questão, a saber: preservação e tempero. Soma-se a isto, muitos outros textos que nos exortam a orarmos e buscarmos a paz (1 Tm 2 e 1 Pe 3.11; Rm 12.18, Hb 12.14 e Tg 3:18) e a sermos servos da justiça (Rm 6:18). Portanto, a Igreja possui uma enorme responsabilidade social. Os cristãos, como embaixadores que são de Cristo (2Co 5.20) e como promotores do bem, da paz, do amor, da verdade e da justiça, devem assumir uma postura ativa, como protagonistas da história, na construção de uma sociedade melhor e na promoção da paz, da justiça e da alegria, que são características marcantes do Evangelho do Reino que pregamos e vivemos. Neste sentido, a Igreja deve ser testemunha viva da eficácia e do valor de seu próprio ensino. A nossa luz deve brilhar não apenas em palavras, mas, principalmente, em boas obras (Mateus 5:16) e em atitudes que revelem o nosso compromisso com a mensagem do Evangelho. Aguardamos e apressamos a Vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, não de braços cruzados, mas cumprindo a missão que Ele nos deu (1 Pe 3), pois o Seu retorno está atrelado ao cumprimento da missão da Igreja, que é a de proclamar por palavra e obras o Evangelho do Reino (Mc 13.10).

Deus se importa com este Mundo e nós também devemos nos importar. Deus tem compaixão pelos que sofrem e é movido por esta compaixão para socorrer os aflitos, assim devemos nós também ser movidos por compaixão.


Os 3 Gemidos de Romanos 8

1. O gemido da Criação

Romanos 8:22 "Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora".

Isaías 33:9 "A terra geme e desfalece; o Líbano se envergonha e se murcha; Sarom se torna como um deserto, Basã e Carmelo são despidos de suas folhas".


2. O Gemido do Povo (Nós também gememos)

Paulo, em Rm 8. 22, afirma que não apenas a criação geme e suporta angústias, mas que nós também gememos. O povo de Deus também sofre muito.

Êxodo 2:24 "Ouvindo Deus o seu gemido, lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó".

Atos 7:34 "Vi, com efeito, o sofrimento do meu povo no Egito, ouvi o seu gemido e desci para libertá-lo. Vem agora, e eu te enviarei ao Egito".

Salmos 12:5 "Por causa da opressão dos pobres e do gemido dos necessitados, eu me levantarei agora, diz o SENHOR; e porei a salvo a quem por isso suspira".

Juízes 2:18 "Quando o SENHOR lhes suscitava juízes, o SENHOR era com o juiz e os livrava da mão dos seus inimigos, todos os dias daquele juiz; porquanto o SENHOR se compadecia deles ante os seus gemidos, por causa dos que os apertavam e oprimiam".

Isaías 35:10 "Os resgatados do SENHOR voltarão e virão a Sião com cânticos de júbilo; alegria eterna coroará a sua cabeça; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido".


3. O Gemido do Espírito Santo

Romanos 8:26 "Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis."

Observamos aí, a sensibilidade do Espírito de Deus, que geme em favor do seu povo. Deus ouve com compaixão o gemido do povo e da Criação e se move, intercedendo e agindo a nosso favor.

Conclusão

Esta mensagem é contra um pseudocristianismo: individualista, alienado da realidade social, que serve mais como escapismo por conceber o Reino de Deus apenas em termos futuros e celestes e também contra aquele tipo de evangélico que está acomodado ao status quo, buscando apenas a sua própria prosperidade e felicidade. Uma palavra de alerta para os que se abstém de sua missão de ser sal (preservação) da Terra e Luz do Mundo.

Esta é uma tentativa de despertar a Igreja para o exercício pleno de sua missão no Mundo. Propondo a redenção do homem e da sociedade através de uma mais profunda inserção social, cumprindo nosso papel de "Sal da Terra e luz do Mundo". Deus está preocupado com as necessidades do povo - Ele está em plena atividade e conta conosco, ou seja, Deus está recrutando homens e mulheres de todas as idades para entrarem neste serviço de promover o bem-estar do ser humano e da sociedade em que estão inseridos, em todos os níveis, não apenas o espiritual.

Deus ama o mundo de maneira profunda. Ele tem compaixão. Deus se importa com todos os que sofrem. Não apenas com suas almas, mas também com seus corpos, sentimentos e com todas as circunstâncias de suas vidas. Ele ouviu o gemido do povo no passado e continua ouvindo com sensibilidade e se movendo por compaixão, levantando profetas como Moisés, para que sirvam como agentes de salvação e libertação no Mundo atual.

Jesus disse: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor". (Lc 4.18-19); Assim como o Pai enviou a Jesus, assim também Jesus nos envia ao Mundo, de modo que partilhamos de sua missão redentora e buscamos que a vontade de Deus seja feita na Terra como acontece no céu: "Venha a nós o Teu Reino e seja feita a Tua vontade assim na Terra como nos Céus".

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