Por Bispo José Ildo Swartele de Mello
Hoje, vivemos numa sociedade de consumo, antes, o que tínhamos era uma sociedade de produção, onde se exigia muita abnegação e renúncia em prol da produção e também da construção da própria felicidade, realização e prazer que eram adiados para um tempo futuro ou de aposentadoria. Foi àquela sociedade que Freud se reportou. Mas na tentativa de combater um extremo de repressão, acabamos mergulhando num extremo oposto, num mundo do "não se reprima!", "experimenta!", "No limit!"...
Portanto, na sociedade atual de consumo, o que predomina é o individualismo e o hedonismo. Não existe disposição para se adiar nada. Os próprios pais procuram satisfazer todos os desejos dos filhos, que acabam não aprendendo a lidar com frustrações e "nãos".
As propagandas, que são o pulmão deste sistema, criam novas "necessidades" e nos falam de uma vida plena de satisfação imediata, tipo êxtase proporcionado pelas drogas. Só que isto é utópico para a maioria das pessoas que estão excluídas dos bens de consumo. Tal frustração, incrementada pelo grande contraste entre a realidade e o sonho, só faz é escancarar ainda mais a porta para o alcoolismo e para o mundo das drogas. As drogas parecem, em algum sentido, ainda que por pouco tempo, proporcionar a sensação de prazer tão valorizada por esta sociedade de consumo. O incremento da violência também é uma outra decorrência! Esta visão tão colorida da vida, que pouco tem a ver com a realidade da grande maioria das pessoas, acaba fomentando ainda mais inveja, cobiça e frustração, não apenas pela ausência do básico, mas, agora, também pela ausência do supérfluo que nos é apresentado como sendo indispensável para a sensação de bem-estar.
Temos também que, em nome da felicidade individual e também fascinado pela "grama do vizinho que parece mais verde que a nossa", impaciente e frustrado com as naturais crises do casamento, o indivíduo, está cada dia menos disposto a pagar um preço de renúncia em prol da sobrevivência da relação, e, não tendo disposição de suportar frustração a curto prazo para conquistar realização a médio e longo prazo, acaba optando pelo caminho aparentemente mais fácil e de recompensa mais imediata ainda que isto possa lhe custar sua felicidade futura.
A teologia da prosperidade é produto desta sociedade de consumo, prometendo conceder através da fé tudo aquilo que as propagandas dizem que uma pessoa precisa ter para ser feliz. Fazendo da fé uma varinha de condão e, do nome de Jesus, uma espécie de abracadabra ou lâmpada de Aladin para a realização de todos os sonhos despertados pela sociedade de consumo. Alguns pastores sucumbem aos encantos do sucesso e, buscando se tornarem celebridades, acabam entrando no espírito deste mundo consumista. Passam a pregar uma mensagem triunfalista e adocicada que esconde o preço do discipulado, nada falando sobre a necessidade da negação de si mesmo e de se carregar cada um a sua própria cruz, nada dizendo também sobre a graça de padecermos por Cristo. Com a promessa de prosperidade e saúde sempre em nome da fé, entram numa competição desenfreada em busca de adeptos ou "consumidores", chegando a apelar para novidades e "promoções" a fim de atrair o "freguês".
Por falar no "freguês", é ele a grande vítima de todo este complexo sistema de nossa sociedade consumista, que acabou até seduzindo parte da igreja evangélica. Diante da grande mentira de que o prazer, o sucesso e o bem-estar físico, econômico e social são o grande alvo da vida e que tudo isto está acessível a todos, iludido, o freguês busca no consumo a realização imediata deste ideal, mas tem de lidar com a realidade de uma vida de privações, injustiças, lutas e muito sofrimento. Frustrado, desamparado e só está o freguês, sente-se fracassado e oprimido pela ditadura do ter. Agora, nem em boa parte das igrejas, ele encontra respostas para a sua dor, mas apenas ainda mais culpa por não ter tido fé suficiente para conquistar seus anseios, pois a teologia da prosperidade promete tudo rápido através da fé e se não funcionar como prometido, a culpa não é dos pregadores, mas da falta de fé do indivíduo.
- Temos sido seduzidos em alguma medida pelo espírito desta sociedade de consumo?
- Qual tem sido nossa postura diante disto tudo?
- Como agir diante do quadro apresentado acima?
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