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Missão da Igreja e envolvimento político


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Missão da Igreja e envolvimento político

Alguns fazem objeção à participação política da Igreja alegando a afirmação de Jesus de que seu reino não é deste mundo (Jo 18.36), mas Jesus disse isto não porque ele não tenha nada a ver com o mundo, mas porque o seu Reino não se amolda à política dos homens. É um reino com sua própria política, uma política marcada pelo sacrifício. Jesus é um rei que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Mc 10.45). O serviço até o sacrifício pertence à própria essência de sua missão. E esta tem que ser a marca distintiva da comunidade que o confessa como rei. Por esta razão, é que Jesus denunciou a ambição de poder e a disputa pelos primeiros lugares, proclamando uma alternativa que se baseia no amor, no serviço, na auto-entrega aos demais. “Mas Jesus, chamando-os para junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc 10.42-45).
A Grande Comissão é uma chamada para converter não somente indivíduos, mas as nações em discípulos “ensinando a obedecer tudo o que Jesus ordenou” (Mt 28.20).i A Missão da Igreja, como agente do Reino de Deus, tem alcance social e político.Isto não quer dizer que a Igreja deve ambicionar o poder, mas sim que sua influência deve se fazer sentir em todas as esferas da vida, o que inclui a política. O envolvimento político da Igreja não deve ser encarado como uma defesa dos seus próprios interesses. Pois, como vimos, a natureza da Igreja e de sua missão é existir para servir aos interesses do Reino. A Igreja não existe para si mesma, mas existe para os outros. Seria muito interessante que tivéssemos um dia, deputados evangélicos, por exemplo, sendo eleitos por uma ampla maioria de não evangélicos, que estão reconhecendo neles pessoas íntegras na luta de interesses de justiça social e não como aqueles que se concentram na defesa de interesses da Igreja. E, por falar nisto, quais deveriam ser os interesses da Igreja? Não deveria a Igreja deixar sua mentalidade de gueto para ampliar os seus horizontes na busca do Reino de Deus e da sua justiça? Não deveria ela ter fome e sede de justiça? Não deveria também estar solidarizada com a causa do desvalido, do fraco, do pobre e do oprimido? A pobreza, por exemplo, tem a ver com relações que não funcionam, promovendo exclusão, abandono e desvalorização. Já, a transformação tem que ver com a restauração das relações, na promoção de relações justas e corretas em todas as dimensões, a começar pela cura da relação do homem para com Deus, seguida pela cura da relação do homem consigo mesmo, se encaminhando para a cura da relação do homem para com o outro e também da cura das relações do homem com o seu meio ambiente.ii
A Igreja em sua participação política não deve chamar atenção para si. Mas, seguindo a própria natureza do Reino de Deus, a Igreja deve exercer sua influência de maneira discreta, mas eficaz, como sal, fermento e luz. O mais importante não é ter sua participação reconhecida ou evidenciada, mas sim ter sua participação efetiva de modo a transformar a realidade. Neste sentido a Igreja deve fazer coro com todos que esposam os valores do Reino e deve também agir de modo a influenciar para bem aqueles que estão indiferentes ou contrários a causa da justiça do Reino de Deus. A participação da Igreja deve ser apartidária, ao mesmo tempo em que toma partido ao lado daqueles que defendem a causa da justiça e os valores do Reino.
A ação política deve tanto radical como conservadora. Stanley Jones disse que o Reino de Deus é ao mesmo tempo radical e conservador. Radical para transformar o que está errado e conservador na preservação das coisas que estão boas.iii
Veremos a seguir, um exemplo histórico de como uma boa escatologia produz uma boa consciência da missão integral da Igreja e de como a Igreja pode se envolver com questões sociais e políticas de maneira a cumprir sua missão de ser sal da terra e luz do mundo.

iMyers, Bryant L. Caminar con Los Pobres. Manual teórico-prático de desarrollo transformador. Buenos Aires: Kairós. 2002. P. 56.
iiMyers, Bryant L. Caminar con Los Pobres. Manual teórico-prático de desarrollo transformador. Buenos Aires: Kairós. 2002. P. 38.


iiiMyers, Bryant L. Caminar con Los Pobres. Manual teórico-prático de desarrollo transformador. Buenos Aires: Kairós. 2002. P.51.

Comentários

  1. PARABENS AMADO E COLEGA... O COMENTARIO SOBRE POLICA X IGREJA , LINDO...
    O SENHOR TE ABENÇOE
    PR.FREITAS
    MEU I-MAIL
    PLATAFORMADENEGOCIOS@HOTMAIL.COM

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  2. Caro pr. Freitas,
    Fico feliz que tenha apreciado o artigo.
    Um grande abraço,
    Ildo

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  3. PARABENS PELO SEU ARTIGO NÃO SOU EVANGELICO,POIS AQUI EM MANAUS-AM
    EU NÃO CONHEÇO UMA IGREJA QUE NÃO USE A INSTITUIÇÃO COMO SEU CURRAL ELEITORAL. QUE BOM QUE ALGUEM PENSA DIFERENTE VOU FICAR LIGADO EM SEUS ARTIGOS MUITO BOM!!!

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  4. Olá Isaque,

    Fico feliz em saber que você tem gostado dos artigos que tenho escrito. É realmente triste ver pastores buscando fazer do povo de Deus um instrumento de manobra política.

    Causa revolta ver a maneira como muitos estão usando os púlpitos e as marchas para Cristo como palanques políticos.

    Um abraço.

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  5. GOSTEI BASTANTE DO ARTIGO ESCRITO PARABENS BP. JOSÉ DE MELLO. QUE DEUS USE AO IRMÃO COM TAIS PENSAMENTOS E E QUE POSSAMOS FAZER CORO COM SUA VOZ, PENSO DO MESMO GEITO. PR. HAROLDO AZEVEDO.

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  6. Olá Haroldo,

    Bom saber que comungamos da mesma visão.
    Deus abençoe sua vida e ministério!

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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