Mostrando postagens com marcador casamento. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador casamento. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 14 de julho de 2025

A Prioridade do Cônjuge na Constituição Familiar

A Prioridade do Cônjuge na Constituição Familiar

Por Bispo Ildo Mello


Por que o casamento deve ter primazia sobre todos os outros vínculos familiares, inclusive com pais e filhos


Introdução


Vivemos em uma cultura onde os papéis familiares estão confusos. Por isso, é fundamental reafirmarmos os princípios que Deus estabeleceu para o lar. De acordo com as Escrituras, o casamento é a base da família, e a relação conjugal deve ser a prioridade máxima entre todos os relacionamentos humanos — sim, inclusive em relação aos pais e filhos.


Essa afirmação pode gerar dúvidas: o que significa "deixar pai e mãe"? A Bíblia estaria ensinando que devemos abandonar nossos pais? Absolutamente não. O que as Escrituras propõem é uma reorganização de prioridades, não abandono ou negligência.


Vamos examinar essa verdade de forma clara e pastoral.


1. O que realmente significa "deixar pai e mãe"?


O texto fundamental está em Gênesis:


"Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne"* (Gn 2.24, NAA).


Esta passagem não ordena o abandono dos pais nem quebra o mandamento de honrá-los (Êx 20.12). O termo "deixar" se refere à *transferência da centralidade* do vínculo familiar. Ou seja:


  • Deixar não é abandonar, mas reorganizar prioridades
  • Não é desonrar os pais, mas honrá-los de forma madura a partir de um novo núcleo familiar
  • É sair da dependência para assumir responsabilidade


O casamento marca o início de um novo lar, com nova autoridade espiritual, afetiva e prática. A relação com os pais continua, mas deixa de ser o eixo principal da vida. O casal assume juntos um novo compromisso que exige exclusividade, aliança e prioridade.


2. Um vínculo único: "uma só carne"

Quando se casam, marido e esposa se tornam, segundo Jesus, "uma só carne" (Mt 19.6). Esta é a união mais profunda possível entre dois seres humanos. Nenhuma outra relação é descrita nesses termos — nem mesmo entre pais e filhos.


Por isso, o relacionamento conjugal deve ocupar o primeiro lugar entre todos os afetos humanos. Isso significa priorizar o cônjuge:

  • Acima dos pais — porque uma nova família está sendo formada
  • Acima dos filhos — porque os filhos são fruto do amor conjugal e precisam da unidade dos pais para se sentirem seguros


Quando negligenciamos essa ordem de prioridades, criamos confusão, tensão e enfraquecemos a estrutura do lar.


3. Priorizar o cônjuge também abençoa os pais

Muitas pessoas resistem à ideia de que o cônjuge deve vir antes dos pais porque associam isso à ingratidão. Mas quando um filho ou filha deixa o lar para construir um casamento saudável, isso na verdade traz alegria e tranquilidade aos próprios pais.


Pais verdadeiramente amorosos não querem manter os filhos emocionalmente dependentes. Eles desejam vê-los amadurecendo e formando lares estáveis, cheios de amor e temor a Deus. Um casamento sólido é motivo de orgulho para os pais e pode se tornar um ponto de apoio futuro em sua velhice, como ensina 1 Timóteo 5.4:


"Aprendam primeiro a exercer piedade para com a própria família e a recompensar seus pais, pois isto é agradável diante de Deus."


Portanto, "deixar pai e mãe" no casamento faz parte do processo natural de amadurecimento. Isso não exclui cuidar deles com carinho, gratidão e responsabilidade, especialmente quando mais precisarem.


4. O bem dos filhos depende da prioridade conjugal

Aqui está um erro comum: muitos casais, mesmo entendendo que os pais não devem ser prioridade, acabam colocando os filhos nesse lugar central. Quando os filhos se tornam o centro do lar e o relacionamento conjugal é negligenciado, todos saem perdendo:

  • O casal se distancia emocionalmente
  • A intimidade é abandonada
  • Os filhos crescem com uma visão distorcida de amor, limites e autoridade


A melhor forma de amar os filhos é oferecer-lhes pais que se amam.** A unidade conjugal proporciona às crianças:

  • Segurança emocional
  • Estabilidade espiritual  
  • Um modelo saudável de masculinidade e feminilidade


5. A ordem divina fortalece toda a família

Seguir o princípio bíblico da prioridade conjugal não destrói os outros laços familiares — pelo contrário, os fortalece. Quando marido e esposa vivem em aliança, diálogo e harmonia, toda a família prospera. Os pais são honrados com maturidade, os filhos crescem em ambiente seguro, e Deus é glorificado.


Ignorar essa ordem gera lares desestruturados, conflitos entre gerações e filhos inseguros. Obedecê-la, por outro lado, produz bênçãos duradouras.


Conclusão

O cônjuge deve ser a pessoa mais importante no contexto familiar — esta é a ordem estabelecida por Deus. Isso não significa abandonar os pais nem desprezar os filhos, mas colocar cada relacionamento em seu devido lugar. 


No casamento, um novo vínculo é formado — "uma só carne" — que exige prioridade exclusiva, cuidado mútuo e compromisso de vida. Quando o cônjuge é priorizado, os pais se alegram, os filhos se sentem seguros, e o lar se torna um reflexo da vontade de Deus.


Que cada cristão compreenda e viva essa verdade com sabedoria, honra e amor — para a glória de Deus e edificação de sua casa.

sexta-feira, 27 de março de 2020

A Igreja e o Divórcio


DIVÓRCIO E NOVO CASAMENTO

Bispo Ildo Mello

A questão do divórcio e do novo casamento é complexa, envolvendo profundas implicações teológicas, éticas e pastorais. Para lidar com o tema, precisamos compreender a tensão entre a vontade de Deus para o casamento e as situações criadas pelo pecado humano que levam muitos casais à separação. Como enfrentar essas realidades, os dramas familiares, e como oferecer auxílio e esperança no Evangelho?

O Ideal Divino para o Casamento

No relato da criação, o casamento é apresentado como a união em “uma só carne” estabelecida por Deus no contexto de um ambiente sem pecado (Gn 2.24). Nesse cenário ideal, a dissolução do matrimônio era inconcebível. Porém, o pecado trouxe ruptura, não apenas na relação entre Deus e o ser humano, mas também entre homem e mulher.

Antes da Queda, ambos foram criados à imagem de Deus (Gn 1.27) e chamados a exercer domínio sobre a criação como parceiros iguais (Gn 1.28). Após a Queda, o pecado introduziu desigualdade e sofrimento: a mulher passou a estar sujeita ao homem (Gn 3.16), enquanto o homem ficou sujeito à terra (Gn 3.19). Essa desigualdade deu origem a práticas como a poligamia (Gn 4.19; 16.3) e o divórcio (Dt 24.1-4), que jamais fizeram parte do plano original de Deus.

As disposições mosaicas sobre o divórcio foram concessões à dureza do coração humano (Mt 19.8 ). Homens podiam repudiar suas esposas, mas as mulheres não tinham o mesmo direito, ficando vulneráveis e muitas vezes expostas à miséria. Ainda assim, Deus, em Sua misericórdia, estabeleceu regulamentos para mitigar o sofrimento, como a exigência de uma carta de divórcio para proteger as mulheres repudiadas (Dt 24.1-4).

Deus odeia o divórcio (Ml 2.16), não apenas por ser contrário ao propósito original, mas também pelos danos que ele causa, especialmente às mulheres e aos filhos. Contudo, a regulamentação mosaica reflete a compaixão divina diante das realidades de uma humanidade caída.

O Ensino de Jesus sobre o Divórcio


Durante Seu ministério, Jesus reafirmou o padrão original para o casamento: “Portanto, o que Deus ajuntou, não separe o homem” (Mt 19.6). Ele retirou o direito autoritário dos homens de repudiar suas esposas por qualquer motivo e limitou o divórcio a casos de infidelidade conjugal (Mt 5.31-32; 19.9).

Jesus enfatizou que o divórcio e o novo casamento fora desse contexto equivalem a adultério (Mc 10.11-12; Lc 16.18). Sua posição é clara: o divórcio nunca foi parte do ideal de Deus, mas Ele permitiu a separação em casos de adultério como um recurso de misericórdia para o cônjuge inocente.

A Perspectiva Pastoral de Paulo


O apóstolo Paulo, ao tratar de questões matrimoniais, reafirma o ideal divino, mas também introduz uma nova exceção: a deserção. Ele escreve: “Mas, se o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã; Deus vos tem chamado à paz” (1Co 7.15).

Essa exceção pastoral reconhece que Deus nos chama à paz, permitindo o divórcio e o novo casamento quando há abandono ou ameaça à vida. Assim, além do adultério, Paulo reconhece que o abandono do lar pelo cônjuge descrente é uma situação que justifica a dissolução do casamento.

Questões Teológicas e Pastorais


É fundamental que a igreja trate cada caso com discernimento pastoral e sensibilidade à graça de Deus. Enquanto pregamos o ideal divino, enfrentamos uma realidade marcada por corações endurecidos e relacionamentos quebrados.

Devemos lembrar que o perdão de Deus cobre pecados do passado pré-conversão, tornando o pecador uma nova criatura em Cristo (2Co 5.17). Portanto, as restrições bíblicas ao divórcio não se aplicam a crentes divorciados antes de sua conversão.

Reflexões Teológicas Adicionais

 1. Graça e Misericórdia: Jesus demonstrou compaixão em casos de pecado, como na história da mulher adúltera (Jo 8.1-11). A igreja deve seguir esse exemplo, equilibrando a proclamação do padrão divino com a oferta de perdão e restauração.
 2. Oséias e Gômer: A história de Oséias (Os 1-3) ilustra o compromisso fiel de Deus, mesmo diante da infidelidade. Isso aponta para o chamado à reconciliação e ao amor redentor sempre que possível.
 3. Exegese dos Termos Gregos: A palavra “porneia” (relações sexuais ilícitas) em Mateus 19.9 é crucial para compreender as bases bíblicas para o divórcio. Além disso, a expressão “não sujeito à servidão” (1Co 7.15) reforça a ideia de que o cônjuge inocente está livre para se casar novamente.
 4. Perspectiva Escatológica: O casamento reflete a união entre Cristo e a Igreja (Ef 5.31-32; Ap 19.7-9). Isso nos chama a enxergar o casamento como um símbolo do plano redentor de Deus.

O Papel da Igreja


A igreja deve ser um lugar de acolhimento, cura e restauração. Pessoas divorciadas frequentemente carregam cicatrizes profundas e precisam de apoio amoroso para reconstruir suas vidas. Algumas iniciativas práticas incluem:
 • Estabelecer ministérios de aconselhamento para casais em crise.
 • Criar grupos de apoio para divorciados.
 • Ensinar regularmente sobre os princípios bíblicos do casamento.

Além disso, a igreja deve ajudar os casais a enxergar o casamento como um reflexo do amor sacrificial de Cristo, promovendo reconciliação sempre que possível. Contudo, deve-se reconhecer que, em situações de traição ou abandono, o divórcio pode ser inevitável.

Conclusão


Embora o divórcio nunca tenha sido parte do ideal divino, a Bíblia reconhece que ele pode ser necessário em casos de infidelidade ou deserção. Nessas situações, a graça de Deus se manifesta em restaurar vidas quebradas e oferecer um novo começo.

A igreja, como comunidade redentora, deve proclamar o padrão de Deus para o casamento, mas também ministrar compaixão àqueles que sofrem as consequências do pecado. Deus é especialista em transformar cinzas em beleza (Is 61.3), e é essa esperança que devemos transmitir ao mundo.

Postagem em destaque

Como Enfrentar os Desafios Contemporâneos do Ministério Pastoral

Introdução Pastorear o rebanho de Deus nunca foi uma tarefa fácil. Hoje, então, nem se fala! Desde 1986, quando plantei minha primeira igre...

Mais Visitadas