Mostrando postagens com marcador Segunda Vinda. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Segunda Vinda. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Sermão Escatológico de Jesus


Mateus 23 e 24 e o Sermão Escatológico de Jesus


Mateus 23 a partir do versículo 29

"Ai de vocês, escribas e fariseus, hipócritas! Porque edificam os túmulos dos profetas, enfeitam os monumentos dos justos e dizem: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no derramamento do sangue dos profetas. Assim, vocês dão testemunho contra si mesmos, de que são filhos dos que mataram os profetas. Portanto, tratem de terminar aquilo que os pais de vocês começaram! Serpentes! Raça de víboras! Como escaparão da condenação do inferno? Por isso, eis que eu lhes envio profetas, sábios e escribas; a uns vocês matarão e crucificarão; a outros açoitarão nas sinagogas e perseguirão de cidade em cidade, para que venha sobre vocês todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem vocês mataram entre o santuário e o altar. Em verdade lhes digo que todas estas coisas hão de vir sobre a presente geração." (Mt 23.29–36)


Aqui, Jesus está se dirigindo de forma dura e direta aos líderes religiosos — escribas e fariseus. Ele os chama de hipócritas porque, apesar de honrarem os profetas mortos no passado, decorando seus túmulos, afirmavam que jamais fariam o que seus antepassados fizeram. No entanto, Jesus denuncia que eles não são melhores, mas piores, pois rejeitariam e matariam o próprio Messias, além de perseguirem seus enviados.


"Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, mas vocês não quiseram! Eis que a casa de vocês ficará deserta. Pois eu lhes afirmo que, desde agora, não me verão mais, até que digam: Bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mt 23.37–39; cf. Sl 118.26)

Esta lamentação de Jesus expressa sua compaixão e também o juízo que viria. "Casa deserta" aponta para a destruição iminente de Jerusalém e do templo, algo que se cumpriria cerca de 40 anos depois, no ano 70 d.C.


Mateus 24 — Profecia sobre a destruição do templo

“Jesus saiu do templo e, enquanto caminhava, seus discípulos se aproximaram para lhe mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse: ‘Vocês estão vendo tudo isto? Em verdade lhes digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.’” (Mt 24.1–2)

Impressionados com a grandiosidade do templo, os discípulos o contemplavam com admiração. Contudo, Jesus anunciou que ele seria totalmente destruído — profecia que se cumpriu literalmente no cerco romano de 70 d.C. (cf. Lc 21.5–6; Mc 13.1–2).


Conexão entre Mateus 23 e 24

O capítulo 23 de Mateus revela a gravidade da rejeição do Messias por aquela geração. Jesus declarou que todo o sangue justo, desde Abel (Gn 4.8) até Zacarias (2Cr 24.20–21), seria cobrado dela (Mt 23.35–36). Tal sentença apontava para um juízo histórico específico — a destruição de Jerusalém — e, ao mesmo tempo, prenunciava o juízo final.

O historiador judeu Flávio Josefo descreve o cerco como um período de fome extrema, violência interna e até casos de canibalismo. A cidade permaneceu sitiada por cerca de cinco meses, até ser invadida e arrasada. O templo foi queimado e nenhum bloco permaneceu sobre outro, cumprindo com precisão as palavras de Jesus (Lc 21.20–24).


O anúncio nos Evangelhos Sinóticos

Nos três Evangelhos, Jesus antecipou com clareza a queda da cidade e do templo:

  • Mt 24.1–2 – “Não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.”
  • Mc 13.1–2 – repete a mesma profecia.
  • Lc 21.6 – reforça a destruição total.
  • Lc 19.43–44 – descreve inimigos cercando Jerusalém com trincheiras e derrubando-a com seus habitantes.

Essas palavras foram pronunciadas cerca de 40 anos antes de seu cumprimento, dentro do limite da “presente geração” mencionada por Jesus (Mt 23.36; Mt 24.34).


O sinal e a instrução de Jesus

Lucas registra o sinal específico dado por Cristo:

“Quando, porém, virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei que é chegada a sua devastação.” (Lc 21.20)

  • Não se tratava de um sinal do fim do mundo, mas de um evento histórico ligado ao juízo sobre a cidade que rejeitou o Messias.
  • Jesus orientou: “Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade saiam; e os que estiverem nos campos não entrem nela” (Lc 21.21).

Eusébio de Cesareia relata que muitos cristãos, recordando essa instrução, fugiram para Pella, na Pereia, e assim escaparam da tragédia.


Linha do tempo da guerra judaico-romana

  • 66 d.C. – Início da rebelião judaica contra Roma.
  • 67–69 d.C. – Avanço de Vespasiano e Tito pela Galileia e Judeia, conquistando cidades e isolando Jerusalém.
  • 14 de abril de 70 d.C. – Início do cerco à cidade, durante a Páscoa.
  • Agosto de 70 d.C. – Incêndio e destruição do templo (9º dia do mês de Ab, mesma data da destruição do Primeiro Templo em 586 a.C.).
  • 8 de setembro de 70 d.C. – Queda total da cidade.

O cerco durou cerca de cinco meses, mas a guerra como um todo se estendeu por quatro anos.


As condições durante o cerco

O relato de Josefo confirma, de modo impressionante, as palavras de Jesus:

  • Fome extrema“Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias” (Mt 24.19; Lc 21.23).
  • Angústia sem escape“Haverá grande aflição sobre a terra e ira contra este povo” (Lc 21.23).
  • Mortes e dispersão“Cairão ao fio da espada e serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será pisada pelos gentios” (Lc 21.24).

Josefo narra episódios de canibalismo por desespero e destaca que a luta interna entre facções judaicas matou muitos antes mesmo da invasão romana.


Cumprimento ponto a ponto

  • “Não ficará pedra sobre pedra” – O templo foi completamente demolido; até sua plataforma foi desmontada para extração de ouro derretido nas fendas.
  • “A casa ficará deserta” – Jerusalém foi reduzida a ruínas; seus sobreviventes morreram ou foram levados cativos.
  • “Será pisada pelos gentios” – A cidade permaneceu sob domínio estrangeiro por séculos.


Aplicação teológica

  1. Marco profético histórico – Cumpriu literalmente parte do discurso de Jesus no Monte das Oliveiras.
  2. Tipo e prenúncio do juízo final – Assim como o cerco foi juízo sobre Israel que rejeitou o Messias, a volta de Cristo trará juízo sobre toda a humanidade impenitente.
  3. Lição de vigilância – Os cristãos daquela época escaparam porque creram e obedeceram à palavra do Senhor; isso nos lembra que nossa segurança está em viver sob Sua direção (Sl 91.1–2; Hb 2.3).


Sinais e advertências

Jesus também advertiu seus discípulos que não confundissem sinais preliminares com o fim imediato:

"Vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras. Não se assustem, porque é necessário que assim aconteça, mas ainda não é o fim. Pois nação se levantará contra nação, e reino contra reino; e haverá fomes e terremotos em vários lugares. Porém tudo isto é o princípio das dores." (Mt 24.6–8)

Assim como as dores de parto indicam que o nascimento se aproxima, mas não acontece de imediato, esses sinais mostram que o fim se aproxima, mas ainda não chegou.

Entre os sinais mais graves, Jesus menciona perseguição, apostasia, falsos profetas e o esfriamento do amor (Mt 24.9–12). O apóstolo Paulo também alerta para a apostasia antes da volta de Cristo (2Ts 2.3).


O Evangelho pregado a todas as nações

"E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim." (Mt 24.14)

O alcance missionário é parte do plano divino. Em Apocalipse, João vê uma multidão de "todas as nações, tribos, povos e línguas" diante do trono (Ap 7.9), indicando que a missão será cumprida.


O abominável da desolação e a fuga da Judeia

Jesus aplica à iminente destruição de Jerusalém a profecia de Daniel (Dn 9.27; 11.31; 12.11):

"Quando, pois, vocês virem o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda), então os que estiverem na Judeia fujam para os montes. Quem estiver no terraço não desça para tirar de casa alguma coisa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa. Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Orem para que a fuga de vocês não aconteça no inverno, nem no sábado." (Mt 24.15–20)

A expressão “abominável da desolação” remete a uma profanação do lugar santo. Daniel fala de um evento em que o santuário seria invadido e seu serviço interrompido. No contexto imediato das palavras de Jesus, esse sinal indicaria que o cerco romano e a destruição de Jerusalém estavam prestes a acontecer.

Lucas registra o equivalente da advertência de Jesus em termos mais claros para o cumprimento histórico:

"Quando virem Jerusalém cercada de exércitos, saibam que está próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes; os que estiverem no interior da cidade saiam, e os que estiverem nos campos não entrem nela." (Lc 21.20–21)

O “abominável” se cumpre no ato de profanação e devastação do templo e da cidade pelas legiões romanas. Jesus fala de algo muito localizado: a Judeia, Jerusalém, o templo. A ordem é clara: não tentar salvar bens, mas fugir imediatamente. “Pernas, pra que te quero” — o livramento viria pela obediência, não por resistência militar e nem por um arrebatamento secreto.

Eusébio de Cesareia relata que, lembrando-se dessa profecia, muitos cristãos judeus abandonaram a cidade antes do cerco completo, refugiando-se em Pella, na Pereia. Dessa forma, escaparam da tragédia que se abateu sobre aqueles que permaneceram.


A comparação com os dias de Noé

Jesus prossegue usando um paralelo com o dilúvio para ilustrar a sua vinda:

"Pois assim como foi nos dias de Noé, também será na vinda do Filho do Homem. Porque, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem. Então dois estarão no campo: um será levado, e o outro deixado. Duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada, e a outra deixada." (Mt 24.37–41; cf. Gn 6.5–13)

Nos dias de Noé, “levados” foram os que pereceram sob as águas do juízo; “deixados” foram Noé e sua família, preservados para habitar a terra renovada após o dilúvio. Portanto, no ensino de Jesus, na sua vinda, ser “levado” é ser removido pelo juízo divino, e ser “deixado” é permanecer para o Reino. A imagem não fala de um arrebatamento secreto, mas da separação final entre justos e ímpios no dia do Senhor (cf. Mt 13.41–43, 49–50).


Conclusão prática

Após anunciar esses sinais e ilustrações, Jesus conclui com uma exortação à vigilância:

"Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor." (Mt 24.42; cf. Mt 25.13; Mc 13.35–37)

O chamado é claro: vigilância constante, preparo espiritual e fidelidade até o fim (Mt 24.13; Ap 2.10). Assim como Noé construiu a arca com perseverança, aguardando o cumprimento da palavra de Deus, o discípulo de Cristo é chamado a viver preparado, não especulando datas, mas permanecendo firme na obediência, sabendo que a vinda do Senhor será repentina e inescapável para os que não o aguardam.




domingo, 20 de julho de 2025

Desconstruindo o Mito dos “Precursores” do Pré‑Tribulacionismo

Desconstruindo o Mito dos “Precursores” do Pré‑Tribulacionismo

Uma análise histórica e crítica

Por Bispo José Ildo Swartele de Mello


Introdução

Quando alguém afirma que Jesus arrebatará a Igreja sete anos antes da sua volta em glória, logo surge a pergunta: “Mas onde isso foi ensinado ao longo da história cristã?” A verdade é que, por dezoito séculos, ninguém descreveu um esquema em duas etapas  — primeiro, um arrebatamento secreto, antecedendo a Grande Tribulação, seguido por uma segunda fase da Vinda de Cristo, de forma pública e visível. O próprio John Nelson Darby, pai do pré‑tribulacionismo, não recorreu aos Pais da Igreja nem a teólogos medievais para sustentar sua tese; baseou‑se exclusivamente na sua leitura da Bíblia, distinguindo Israel da Igreja, interpretando as semanas de Daniel e vendo tipos proféticos no Apocalipse.
Só mais tarde, apologistas dispensacionalistas passaram a “garimpar” frases antigas que, fora do contexto, parecem antecipar um arrebatamento prévio. Irineu, o sermão atribuído a “Pseudo‑Efrem”, a lenda inquisitorial sobre Frei Dolcino e notas dispersas de pregadores puritanos do século XVII foram convocados para dar ao sistema uma genealogia mais longa.

Neste estudo, voltamos às fontes originais — em grego, latim ou boas traduções — e fazemos a pergunta decisiva: essas passagens realmente falam de um arrebatamento antes da Grande Tribulação, separado da vinda gloriosa de Cristo? À medida que avançamos, fica claro que as supostas provas resultam de leituras anacrônicas, recortes fora do contexto ou equívocos de tradução. No fim das contas, o pré‑tribulacionismo plenamente articulado continua sendo uma novidade nascida no século XIX.


1. Pastor de Hermas e a tribulação espiritual (séc. II)

Na Visão II, cap. 6 do Pastor de Hermas¹ lê‑se: “Felizes sois vós que suportais a grande tribulação que está para vir…”. Alguns veem aí um convite à fuga, mas o próprio livro exorta os cristãos a carregarem cruzes, enfrentarem prisões e não negarem a fé. A bem‑aventurança recai sobre quem suporta, não sobre quem escapa. Gregory Beale² lembra que, na Igreja primitiva, a glória vinha depois da provação; não havia expectativa de remoção secreta antes do sofrimento.


2. Pais quilias­tas: Irineu de Lião e Vitorino de Pettau (sécs. II‑III)

2.1. Irineu

Dispersos em busca de pedigree histórico, alguns defensores do pré‑tribulacionismo agarram‑se a Irineu de Lião († c. 202), autor do monumental Contra as Heresias.³ Se um bispo do século II ensinasse um arrebatamento antes da tribulação, o argumento ganharia peso considerável. O verso mais citado é 5,29,1, na tradução ANF: “When, in the end, the Church shall be suddenly caught up from this, there shall be tribulation such as has not been since the beginning…”. Lendo só essa linha, parece haver dois atos: primeiro a Igreja sobe; depois começa a tribulação. Mas o efeito nasce de três equívocos.

Primeiro, a frase é arrancada do bloco que vai do capítulo 29 ao 30, onde Irineu organiza a sequência completa. Ele recorda dois períodos de três anos e meio — a meia‑semana de Daniel — e coloca neles a perseguição do Anticristo. Só depois declara que Cristo desce, os mortos ressuscitam, os vivos são transformados e então se inicia o reino. Segundo, o grego original usa ὅταν… γένηται, partícula temporal que significa “quando/ao mesmo tempo em que”, jamais “antes de”. Irineu descreve simultaneidade, não sucessão. Terceiro, o próprio autor chama esse tempo de “última prova dos justos”, o que pressupõe a Igreja ainda na cena, não ausente.


A coerência interna confirma o quadro. No mesmo Livro V ele diz que a Besta “perseguirá a Igreja, mas será destruída pela vinda do Senhor” (5,26,1) e que a ressurreição dos justos se dará “depois do advento do Anticristo” (5,35,1). Nada aqui indica um hiato de sete anos. A posição de Irineu também combina com a Didaquê 16, com o Diálogo de Justino (cap. 110) e com Hipólito (Tratado sobre Cristo e o Anticristo, capítulo 60): todos preveem a Igreja atravessando a tribulação e acolhendo Cristo numa única vinda gloriosa.

Assim caem as quatro colunas da tese pré‑tribulacionista: não existe intervalo de sete anos sem Igreja; há uma única segunda vinda, não duas; a gramática de Irineu dispensa a leitura “antes de”; e o testemunho patrístico é uniforme em esperar tribulação com a Igreja na terra. A “prova” pré‑tribulacionista é fruto de uma citação isolada, traduzida com viés e desligada do contexto. Quando lido por inteiro, Contra as Heresias exibe o esquema clássico pós‑tribulacionista: reinado final do Anticristo, perseguição derradeira aos santos, descida pública do Senhor, arrebatamento/ressurreição e início do reino milenar. Em vez de legitimar o pré‑tribulacionismo, Irineu confirma a expectativa primitiva: o povo de Deus enfrenta a tribulação, mantém‑se fiel e é vindicado na mesma e única manifestação de Cristo — nunca sete anos antes dela.


2.2. Vitorino

Alguns autores dispensacionalistas recorrem a Vitorino de Pettau para sugerir um arrebatamento antes da ira final. O argumento é que, no seu comentário de Ap 6.14, ao falar do “céu que se enrola como um pergaminho”, Vitorino veria ali o momento em que a Igreja seria retirada da Terra antes que os juízos seguintes caiam sobre o mundo.
Mas o próprio texto de Vitorino desmente essa leitura.⁴ Ele identifica o colapso cósmico do sexto selo como o anúncio do Juízo Final, imediatamente seguido da “primeira ressurreição” de Ap 20.4‑6. Em outras palavras, para ele o selar do céu não inaugura sete anos de ira sem Igreja; marca o clímax da parusia pública, logo antes do reino milenar. Vitorino, tal como Irineu, é quiliasta (pré‑milenista), mas nitidamente pós‑tribulacionista: a Igreja atravessa o período do Anticristo e só então, junto com o colapso do universo, encontra Cristo e reina com Ele.

3. Cipriano de Cartago e o desejo de “partir” (c. 252 d.C.)

Defensores do pré‑tribulacionismo costumam citar Cipriano de Cartago para sustentar a ideia de que Deus removerá os fiéis antes da tribulação. A base é uma linha de seu tratado De Mortalitate⁵, escrito em meio à peste (c. 252): “O justo é levado antes que venha o mal” (Is 57,1). Para esses autores, o “partir” do justo seria um indício de arrebatamento prévio aos juízos finais.
O contexto mostra outra coisa. Cipriano está confortando cristãos apavorados com a epidemia e interpreta Isaías como promessa de que a própria morte do crente pode ser um livramento misericordioso — não uma fuga coletiva em vida. Allen Brent⁶ observa que “partir” significa morrer em Cristo ou, no máximo, receber a coroa do martírio — nada a ver com uma retirada coletiva antes da tribulação. Cipriano encoraja os fiéis a permanecer firmes nas provações presentes, não a esperar um resgate secreto antes dos sofrimentos escatológicos.



4. Literalismo antioqueno ≠ pré‑tribulacionismo (sécs. IV‑V)

Alguns associam a escola de Antioquia — Luciano, Teodoro de Mopsuéstia, João Crisóstomo — ao pré‑tribulacionismo por causa do “método literal”. Entretanto, Crisóstomo, Homilia 77 sobre Mateus⁷, afirma que a Igreja verá a tribulação e permanecerá firme. Teodoro, em seu comentário ao Apocalipse⁸, aplica os 1 260 dias ao último governo do Anticristo, com a Igreja ainda na terra. Portanto, o dito literalismo antioqueno confirma a presença da Igreja durante a tribulação — não sua retirada antecipada.


5. Pseudo‑Efrem e a Última Trombeta (séc. VII)

No sermão Sobre a Última Trombeta⁹, encontra‑se a seguinte frase:
gmnes enim sancti et electi Dei, ante tribulationem quae ventura est, colliguntur et ad Dominum adsumuntur, ne quando videant confusionem, quae universum propter peccata nostra obruet mundum. (edição C. P. Caspari, Briefe, Abhandlungen und Predigten [1890] p. 211, l. 4‑6).


Tradução direta para o português:
Pois todos os santos e eleitos de Deus, antes da tribulação que há de vir, são reunidos e levados ao Senhor, para que não vejam a confusão que há de abater todo o mundo por causa dos nossos pecados.

Lida sozinha e com as lentes modernas do dispensacionalismo, a frase parece apoiar um arrebatamento pré‑tribulacional. Mas, no sermão inteiro, tribulação significa o período de perseguição brutal e martírio que o Anticristo desencadeará — não um bloco de sete anos de juízos divinos despejados sobre a terra enquanto a Igreja descansa no céu. Logo após a sentença citada, o autor descreve cristãos fugindo para o deserto, muitos sendo degolados e a terra enchendo‑se de sangue; tudo isso se passa durante a tribulação mencionada. Mais adiante ele diz claramente que “quando se completarem os três anos e meio, aparecerá o Anticristo e então o Senhor virá em glória para destruí‑lo”, vinculando a segunda vinda à plena manifestação do Iníquo, não a um resgate secreto antes dela. Alan Kurschner¹⁰ observa que o particípio latino colliguntur(“são reunidos”) tem conotação litúrgica de ajuntamento final, e que o propósito final — “para que não vejam a confusão” — é retórico, não cronológico; o autor promete livramento na crise (por proteção ou martírio), não fuga antes dela. Tomar essa linha como esboço do modelo de Darby, portanto, é anacronismo: transplanta categorias do século XIX a um texto do século VII que fala de sofrimento imediato dos santos e da vinda de Cristo logo após o auge da perseguição.


6. Frei Dolcino: desmontando o mito de um “precursor” do pré‑tribulacionismo

Há quem cite Frei Dolcino de Novara como se o líder dos “Apostólicos”, morto em 1307, tivesse antecipado a ideia de um arrebatamento anterior à Grande Tribulação. Quando se põem os fatos na mesa, a comparação não se sustenta. Dolcino capitaneou um movimento joaquinista que pregava o fim da “Igreja carnal”, defendia a comunhão de bens e, segundo registros inquisitoriais, recorreu a saques e violência nas montanhas do Piemonte¹¹. A Encyclopædia Britannica também o classifica como rebelde apocalíptico¹².
A única peça de origem que descreve sua escatologia é um libelo hostil, a Historia Fratris Dulcini (1316), escrita nove anos depois da execução. Dolcino não deixou uma linha de exegese bíblica; tudo chega filtrado pela pena dos vencedores¹³. Segundo o relato, ele pregaria durante três anos e meio, seria levado ao paraíso de Enoque e Elias antes de perseguição feroz, veria Enoque e Elias voltarem e morrerem, assistiria — de longe — ao longo reinado do Anticristo e, por fim, desceria à terra como “papa legítimo” para evangelizar quem sobrou. Mesmo assim, quase nada bate com o esquema pré‑tribulacionista clássico. Francis X. Gumerlock confirma que o episódio não gerou descendência teológica¹⁴.


7. Puritanos e pré‑Darbyanos (sécs. XVII‑XVIII)

  • Morgan Edwards especulou, em Two Academical Exercises¹⁵, sobre um intervalo de 3 ½ anos antes do milênio, mas não descreveu duas vindas.
  • Manuel Lacunza, em *La venida del Mesías…*¹⁶, aguardava um reino terreno futuro; a ideia de arrebatamento secreto surgiu apenas no prefácio inglês de Edward Irving (1827).
  • Increase Mather¹⁷ e Joseph Mede¹⁸ veem o retorno de Cristo como ato único e visível.


8. A alegada “cascata puritana” (séc. XVII)

O artigo de David Cloud¹⁹ destaca pregadores puritanos — Thomas Vincent, Jeremiah Burroughs, Nathaniel Homes, William Hooke, Oliver Heywood — como se já ensinassem um arrebatamento pré‑tribulacional. Mas Thomas Vincent, An Explicatory Catechism²⁰, lê 1 Ts 4.17 como a ressurreição final; não há intervalo de sete anos. Jeremiah Burroughs, sermão 240 sobre Oséias²¹, fala em “salvos da ira vindoura”, entendendo “ira” como juízo final. Nathaniel Homes, The Resurrection Revealed²², de fato propõe um arrebatamento pouco antes da conflagração de 2 Pe 3.10, mas sem dupla parousia. William Hooke, The Saints Dignity and Duty²³, confia em proteção durante a perseguição; Oliver Heywood, The Great Danger of Apostasy²⁴, exorta firmeza até que “o homem do pecado seja revelado”. Quando não pós‑trib, esses autores ficam no máximo num “pré‑ira” encurtado.


9. Uma última alegação dispensacionalista a examinar

Em A Brief History of the Rapture (2005), Thomas Ice cita cinco autores como prova de que já existiria um “arrebatamento secreto” antes da ira final: Pierre Jurieu, Philip Doddridge, John Gill, James Macknight e Thomas Scott²⁵. Contudo, a leitura direta das fontes mostra:
  • Jurieu prevê três anos e meio de perseguição, a queda de Roma e o reino de Cristo na terra, sem retirada celestial da Igreja²⁶.
  • Doddridge usa “rapture” apenas como tradução de 1 Ts 4,17; não divide a vinda em duas fases²⁷.
  • Gill fala do encontro nos ares seguido imediatamente do reino pós‑tribulacional²⁸.
  • Macknight admite que os crentes ficarão “algum tempo” com Cristo, mas descem logo para reinar; nenhum hiato de sete anos²⁹.
  • Scott vê o encontro como recepção ao Rei que prossegue direto ao juízo³⁰.
Nada aqui descreve sete anos de Grande Tribulação sem Igreja nem uma Segunda Vinda de Cristo em duas etapas separadas por sete anos. Até essa “evidência” suplementar reforça que a ideia de um arrebatamento secreto antes da Grande Tribulação surge só com Darby.


Conclusão

Revisitando o itinerário sugerido por quem busca uma linhagem antiga do pré‑tribulacionismo — de Hermas e Ireneu a Dolcino, dos puritanos a Jurieu ou Gill — encontramos sempre o mesmo resultado: falta a peça‑chave de duas vindas separadas por anos, com uma retirada secreta da Igreja antes do Anticristo e da Grande Tribulação. Esse quadro completo aparece apenas a partir de 1830, quando John Nelson Darby sistematiza o dispensacionalismo. O pré‑tribulacionismo, portanto, é construção moderna; os supostos “precursores” não passam de ecos esparsos, extraídos de contexto para justificar uma genealogia que a história não confirma.


Notas

1. HERMAS, Pastor, Vis. II, 2, Loeb Classical Library 24 (Lake, 1965), p. 26‑29.
2. BEALE, Gregory K. A New Testament Biblical Theology (Baker, 2011), p. 1101‑1106.
3. IRINEU, Contra as Heresias, V.29‑30 (trad. PAULUS, 2004).
4. VITORINO, Commentarius in Apocalypsin 6.14, CCSL 49, p. 78‑80.
5. CIPRIANO, De Mortalitate 25‑26, CSEL 3/3, p. 290‑295.
6. BRENT, Allen. Cyprian and Roman Carthage (CUP, 2009), p. 185‑190.
7. JOÃO CRISÓSTOMO, Hom. 77 in Matth. (PG 58, 708‑712).
8. TEODORO DE MOPSUESTIA, Commentarius in Apocalypsin 11.3‑12 (ed. Swete), p. 215‑219.
9. PSEUDO‑EFREM, De extremo iudicio, §§ 2‑3, CSCO 93, p. 4‑6.
10. KURSCHNER, Alan E. Pseudo‑Ephraem Is NOT a Pre‑Tribulation Document (Eschatos, 2012), p. 7‑11.
11. Historia Fratris Dulcini, caps. 2‑4 (Rerum Ital.).
12. Encyclopædia Britannica, s.v. “Fra Dolcino”, acesso 08 jul 2025.
13. Historia Fratris Dulcini, caps. 10‑11, in: McGinn, Apocalyptic Spirituality (Paulist, 1979), p. 217‑222.
14. GUMERLOCK, Francis X. “A Rapture Citation in the Fourteenth Century”, Evangelical Review of Theology 25/2 (2001), p. 113‑119.
15. EDWARDS, Morgan. Two Academical Exercises (1788), p. 7‑12.
16. LACUNZA, Manuel. La venida del Mesías en gloria y majestad (1811), I, p. 101‑104.
17. MATHER, Increase. The Mystery of Christ’s Kingdom (1693), cap. 4, p. 57‑61.
18. MEDE, Joseph. Clavis Apocalyptica (1643), p. 523‑533.
19. CLOUD, David. “When Was the Pre‑Tribulation Rapture First Taught?” Way of Life, 2010, acesso 18 jul 2025.
20. VINCENT, Thomas. An Explicatory Catechism (1675), p. 309‑312.
21. BURROUGHS, Jeremiah. Exposition of Hosea, serm. 240 (1651), p. 85‑89.
22. HOMES, Nathaniel. The Resurrection Revealed (1653), p. 62‑63, 492‑494.
23. HOOKE, William. The Saints Dignity and Duty (1660), p. 73‑75.
24. HEYWOOD, Oliver. The Great Danger of Apostasy (1679), cap. 3, p. 41‑46.
25. ICE, Thomas D. “A Brief History of the Rapture” (Pre‑Trib Research Center, 2005), p. 2‑4.
26. JURIEU, Pierre. The Accomplishment of the Scripture Prophecies (London, 1687), III, p. 306‑309.
27. DODDRIDGE, Philip. The Family Expositor, IV (London, 1738), p. 278‑280.
28. GILL, John. Exposition of the NT, II (London, 1748), com. 1 Ts 4,15‑17.
29. MACKNIGHT, James. Apostolical Epistles Explained, IV (London, 1763), p. 461‑462.
30. SCOTT, Thomas. Holy Bible with Explanatory Notes (London, 1792), com. 1 Ts 4,16‑17.

quinta-feira, 12 de junho de 2025

Depoimento pessoal: da vitrola assustadora à convicção amadurecida

Nos primeiros anos da década de 1980, eu era um adolescente curioso e apaixonado por tudo que dizia respeito à fé cristã. Certo dia, pus na vitrola o LP A Última Trombeta. A faixa de abertura trazia um locutor alarmado: “Oslo urgente! Milhões de pessoas desapareceram sem deixar rastro…”. A cena dramatizava o arrebatamento “secreto” antes da Grande Tribulação. Quase todos ao meu redor aceitavam esse pré-tribulacionismo como doutrina incontestável, e eu – sem exame crítico – fiz o mesmo.
Anos depois, já no seminário, resolvi confrontar aquela narrativa com “tudo o que está escrito”. O resultado foi transformador: descobri que as Escrituras, a história da Igreja e a lógica interna do Evangelho apontam numa direção muito diferente.

Revisão bíblica — quatro pilares
1. Evangelhos
A volta de Cristo ocorre logo depois da tribulação, com grande visibilidade e som de trombeta; não há qualquer retirada prévia da Igreja.
Mt 24.29-31 | Mc 13.24-27 | Lc 21.25-28
2. Cartas paulinas
Arrebatamento, ressurreição e juízo formam um único evento; a Igreja só será reunida a Cristo depois da apostasia e da revelação do Homem da Iniquidade.
1Ts 4.13-17; 5.1-11 • 2Ts 1.6-10; 2.1-4, 8 • 1Co 15.51-52
3. Demais epístolas
A esperança é um retorno glorioso e público, e perseverar no sofrimento faz parte do chamado cristão.
1Pe 1.7; 4.13 • Tg 5.7-8 • Jd 14-15 • 1Jo 3.2
4. Apocalipse
A “grande multidão” vem da Grande Tribulação, não é poupada dela. Há um único juízo final seguido da nova criação.
Ap 1.7; 7.9-14; 13.7-10; 20.11-15; 21.1-5

2. Razões adicionais que consolidaram minha convicção
Igreja, cruz e martírio – Jesus vinculou discipulado a carregar a cruz (Mc 8.34) e avisou: “No mundo tereis aflições” (Jo 16.33). Paulo declara que “por muitas tribulações nos importa entrar no Reino” (At 14.22) e que todosos que querem viver piedosamente serão perseguidos (2Tm 3.12).
Apocalipse 3.10 lido à luz de Jo 17.15 – A preposição ek e o verbo tēréō indicam proteção dentro da prova, não remoção física. É assim com os mártires que saem “ek da grande tribulação” (Ap 7.14).
Dia do Senhor ≠ dois programas separados – Paulo chama tanto a reunião da Igreja (1Ts 4.13-17) quanto o juízo sobre o ímpio (2Ts 1.6-10) de Dia do Senhor; não há divisão de sete anos.
Arrebatamento não será secreto – Trombeta retumbante (Mt 24.31; 1Ts 4.16-17), relâmpago visível (Mt 24.27) e estrépito cósmico (2Pe 3.10) contradizem qualquer noção de evento oculto.
Testemunho patrístico unânime – Pais da Igreja dos séculos II-IV previram que a Igreja enfrentaria o Anticristo. A ideia de um rapto pré-tribulacional só surgiu em 1830, sem raízes bíblicas ou históricas.

3. Conclusões que permanecem
A trombeta final (1Co 15.52) não anunciará fuga, mas coroação: o Rei virá julgar, ressuscitar e renovar todas as coisas.
O martírio não é derrota; pela cruz, Cristo triunfou (Cl 2.15) e, pelo sangue do Cordeiro, os santos vencem a Besta (Ap 12.11).
Promessa real não é isenção de sofrimento, mas vitória na perseverança: “Em todas estas coisas somos mais que vencedores” (Rm 8.37).

Desde então, ensino uma escatologia pós-tribulacionista, alicerçada na harmonia dos textos bíblicos, no testemunho da igreja antiga e no chamado de Jesus para seguir-Lhe os passos – inclusive quando esses passos passam pelo vale da tribulação antes de chegarem à glória eterna.

Exegese de Apocalipse 3.10

(refutando a leitura pré-tribulacionista do “arrebatamento”)

 

1. Por que esta promessa é tão debatida?

“Porque guardaste a palavra da minha perseverança, eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para pôr à prova os que habitam sobre a terra” (Ap 3.10).

A questão é simples e decisiva: Cristo está prometendo remover fisicamente a Igreja da tribulação ou preservá-la espiritualmente dentro dela? A resposta emerge de uma análise atenta de três elementos chave: o contexto, a sintaxe e a teologia bíblica da tribulação.

 

2. Contexto literário imediato

1.     Carta à Filadélfia – única das sete sem reprovação; o tema dominante não é fuga, mas perseverança em testemunho (Ap 3.8–9).

2.     Cartas paralelas – Esmirna recebe promessa idêntica de coroa “caso seja fiel até a morte” (Ap 2.10–11); Pérgamo já perdeu um mártir (Ap 2.13). Nenhuma carta sugere livramento físico - o padrão é fidelidade sob fogo.

3.     Macro-tema do Apocalipse – João está “co-participante… na tribulação” (Ap 1.9); mártires clamam debaixo do altar (Ap 6.9-11) e uma grande multidão “sai ek da grande tribulação” (Ap 7.14). O livro inteiro pressiona para a perseverança, não para a evasão.

 

3. Análise lexical-sintática

3.1. A preposição ἐκ (ek)

Ek indica saída de dentro ou manutenção para fora de perigo enquanto nele. Exemplos:

·       “livrar ek tentação” (2 Pe 2.9) – Deus resgata através da provação.

·       Mártires que vêm ek da tribulação (Ap 7.14) – claramente não foram poupados do período, mas atravessaram-no.

Se João quisesse significar “para fora, à distância”, teria a escolha natural de ἀπό (apo) (cf. At 12.11). Erickson observa que o uso de ek é deliberado: “Para emergir de onde não se esteve? Impossível.”

3.2. O verbo τηρέω (tēréō) – “guardar, proteger”

·       Usado em contextos de perigo, nunca de remoção (cf. Jo 17.12; 1 Jo 5.18).

·       A única outra ocorrência da locução tēréō ek no NT é Jo 17.15: “Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes (tērēsēs autous ek) do Maligno.” Jesus rejeita expressamente a retirada física. Os discípulos não precisam ser tirados do mundo para serem guardados do mal.

Conclusão gramatical: “Guardar ek” significa proteger em meio à provação, preservando a fé – não evacuar o crente.

 

4. “A hora da provação” – o que é?

Observação

Evidência

Implicação

Termo “hora” (hōra) no Apocalipse

Queda de Babilônia em “uma hora” (Ap 18.10), ataque final das nações (Ap 17.12)

Momento escatológico concentrado, não sete anos literais

Destinatários: “os que habitam sobre a terra”

Fórmula técnica para incrédulos idólatras(Ap 6.10; 8.13; 11.10)

O teste visa juízo sobre ímpios; para a Igreja é provação refinadora

Eco de Dn 12.1.10 LXX (“hora” de tribulação que “prova” e “purifica” muitos)

João alude explicitamente (Ap 3.10; 7.14)

Purificação dos santos, endurecimento dos ímpios


Portanto, a “hora” não é um parêntese do juízo de Deus do qual a Igreja escapa, mas fase máxima da tribulação inaugurada na cruz (Ap 1.5; 12.5). A promessa é de proteção espiritual enquanto esse juízo varre o mundo.


5. Metáforas de proteção em vez de remoção

1.     Selados na fronte (Ap 7.2-4) – marca da posse divina antes das trombetas.

2.     Medidos no templo (Ap 11.1-2) – o “santuário” interior é intocável, mas o átrio externo sofre.

3.     Deserto preparado (Ap 12.6,14) – nutrição no esconderijo de Deus, não escape da história.

Todas apontam para segurança do pacto em meio ao conflito, não afastamento geográfico.

 

6. Testemunho uníssono do Novo Testamento

Passagem

Tema

Observação

Mt 10.22; Jo 16.33

Aflições esperadas

“Perseverar até o fim” é a via da salvação

Rm 8.35-39; 2 Co 4.16-5.10

Nada separa do amor de Cristo

Sofrimento físico não é exceção, mas palco da vitória

Tg 1.12; 1 Pe 4.12-13

Provação produz coroa

A coroa vem depois da fornalha, não antes


A exegese pré-tribulacionista isola Ap 3.10 como única promessa de fuga, contradizendo a maré contínua de chamadas à perseverança.

 

7. Refutação sistemática da leitura pré-tribulacionista

1.     Gramatical  tēréō ek ≠ remoção (ek + tēréō nunca tem esse sentido).

2.     Contextual – nenhuma outra carta prevê escape; todas pressupõem martírio possível.

3.     Teológica – Apocalipse inteiro retrata a Igreja sofrendo, mas vitoriosa; não há “parêntese” israel-cêntrico pós-rapto.

4.     Tipológica – Israel foi guardado no Egito pela marca do sangue, não arrebatado do Nilo; Daniel foi protegido nacova, não teletransportado para fora.

5.     Pastoral – promessa de fuga física ignora o consolo real: “Não temas os que matam o corpo” (Mt 10.28). Cristo garante fé invencível, não conforto terreno.

 

8. Síntese teológica

Promessa: “Porque guardaste… eu te guardarei.”
Modo: preservação espiritual (tēréō ek) durante a crise escatológica.
Âmbito: a tribulação universal que depura a Igreja e julga o mundo.
Condição: perseverança fiel – o mesmo “padecer até a morte” (Ap 2.10).
Resultado: coroa, pilar no templo, novo nome – participação plena no triunfo de Cristo (Ap 3.11-12).

 

9. Conclusão prática

1.     Pergunta-chave ao texto – “A quem Cristo promete conforto: à carne ou à fé?”

2.     Resposta bíblica – Ele protege aquilo que tem valor eterno: nossa fidelidade.

3.     Aplicação à Igreja de hoje – Prepare-se para enfrentar pressões culturais, perseguições e catástrofes sabendo que o Cordeiro já venceu (Ap 5.5).

4.     Palavra final de encorajamento – “Aqui está a perseverança e a fidelidade dos santos” (Ap 13.10). Se o nosso Senhor suportou a cruz, não nos esconderá da fornalha, mas entrará nela conosco.

“Feliz o homem que persevera na provação; depois de aprovado receberá a coroa da vida” (Tg 1.12).

Cristo não promete evacuar sua Igreja, mas blindar-lhe a fé na hora derradeira. A preposição ek, o verbo tēréō e o testemunho de todo o Livro convergem para:

Proteção espiritual, não remoção física.

Portanto, Ap 3.10 enraíza-se no mesmo solo de Jo 17.15 e do restante das Escrituras: ser guardado em Cristo enquanto enfrentamos o fogo, certos de que “em todas estas coisas somos mais que vencedores” (Rm 8.37). Persevere, Igreja! A coroa está assegurada.

Postagem em destaque

Como Enfrentar os Desafios Contemporâneos do Ministério Pastoral

Introdução Pastorear o rebanho de Deus nunca foi uma tarefa fácil. Hoje, então, nem se fala! Desde 1986, quando plantei minha primeira igre...

Mais Visitadas