quinta-feira, 12 de junho de 2025

Depoimento pessoal: da vitrola assustadora à convicção amadurecida

Nos primeiros anos da década de 1980, eu era um adolescente curioso e apaixonado por tudo que dizia respeito à fé cristã. Certo dia, pus na vitrola o LP A Última Trombeta. A faixa de abertura trazia um locutor alarmado: “Oslo urgente! Milhões de pessoas desapareceram sem deixar rastro…”. A cena dramatizava o arrebatamento “secreto” antes da Grande Tribulação. Quase todos ao meu redor aceitavam esse pré-tribulacionismo como doutrina incontestável, e eu – sem exame crítico – fiz o mesmo.
Anos depois, já no seminário, resolvi confrontar aquela narrativa com “tudo o que está escrito”. O resultado foi transformador: descobri que as Escrituras, a história da Igreja e a lógica interna do Evangelho apontam numa direção muito diferente.

Revisão bíblica — quatro pilares
1. Evangelhos
A volta de Cristo ocorre logo depois da tribulação, com grande visibilidade e som de trombeta; não há qualquer retirada prévia da Igreja.
Mt 24.29-31 | Mc 13.24-27 | Lc 21.25-28
2. Cartas paulinas
Arrebatamento, ressurreição e juízo formam um único evento; a Igreja só será reunida a Cristo depois da apostasia e da revelação do Homem da Iniquidade.
1Ts 4.13-17; 5.1-11 • 2Ts 1.6-10; 2.1-4, 8 • 1Co 15.51-52
3. Demais epístolas
A esperança é um retorno glorioso e público, e perseverar no sofrimento faz parte do chamado cristão.
1Pe 1.7; 4.13 • Tg 5.7-8 • Jd 14-15 • 1Jo 3.2
4. Apocalipse
A “grande multidão” vem da Grande Tribulação, não é poupada dela. Há um único juízo final seguido da nova criação.
Ap 1.7; 7.9-14; 13.7-10; 20.11-15; 21.1-5

2. Razões adicionais que consolidaram minha convicção
Igreja, cruz e martírio – Jesus vinculou discipulado a carregar a cruz (Mc 8.34) e avisou: “No mundo tereis aflições” (Jo 16.33). Paulo declara que “por muitas tribulações nos importa entrar no Reino” (At 14.22) e que todosos que querem viver piedosamente serão perseguidos (2Tm 3.12).
Apocalipse 3.10 lido à luz de Jo 17.15 – A preposição ek e o verbo tēréō indicam proteção dentro da prova, não remoção física. É assim com os mártires que saem “ek da grande tribulação” (Ap 7.14).
Dia do Senhor ≠ dois programas separados – Paulo chama tanto a reunião da Igreja (1Ts 4.13-17) quanto o juízo sobre o ímpio (2Ts 1.6-10) de Dia do Senhor; não há divisão de sete anos.
Arrebatamento não será secreto – Trombeta retumbante (Mt 24.31; 1Ts 4.16-17), relâmpago visível (Mt 24.27) e estrépito cósmico (2Pe 3.10) contradizem qualquer noção de evento oculto.
Testemunho patrístico unânime – Pais da Igreja dos séculos II-IV previram que a Igreja enfrentaria o Anticristo. A ideia de um rapto pré-tribulacional só surgiu em 1830, sem raízes bíblicas ou históricas.

3. Conclusões que permanecem
A trombeta final (1Co 15.52) não anunciará fuga, mas coroação: o Rei virá julgar, ressuscitar e renovar todas as coisas.
O martírio não é derrota; pela cruz, Cristo triunfou (Cl 2.15) e, pelo sangue do Cordeiro, os santos vencem a Besta (Ap 12.11).
Promessa real não é isenção de sofrimento, mas vitória na perseverança: “Em todas estas coisas somos mais que vencedores” (Rm 8.37).

Desde então, ensino uma escatologia pós-tribulacionista, alicerçada na harmonia dos textos bíblicos, no testemunho da igreja antiga e no chamado de Jesus para seguir-Lhe os passos – inclusive quando esses passos passam pelo vale da tribulação antes de chegarem à glória eterna.

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