OS PRINCÍPIOS DE UM METODISTA
Por Bispo Ildo Mello, baseado na obra de John Wesley The Principles of a Methodist Farther Explained (1746).
1. A ESSÊNCIA DA RELIGIÃO METODISTA: AMOR E FÉ
- A verdadeira religião não é um conjunto de regras exteriores, mas amor a Deus e ao próximo.
- Esse amor só nasce pela fé: uma confiança viva e experimental em Deus.
- Sem essa fé, o amor verdadeiro não pode existir.
“A fé é a vereda direta que conduz à religião do amor.” (§5)
2. O QUE É FÉ SEGUNDO WESLEY?
- Não é apenas crer em doutrinas.
- É experiência espiritual real que dá:
- Visão espiritual: "vemos o invisível" (Hb 11.27).
- Audição espiritual: ouvimos a voz de Deus (Jo 5.25).
- Sabor espiritual: provamos a bondade de Deus (Sl 34.8).
- Sensibilidade espiritual: sentimos a presença constante de Deus (At 17.28).
- Essa fé transforma o interior, gera paz, alegria e santificação.
“A fé é a sensibilidade espiritual implantada em toda alma nascida de Deus.” (§6-7)
3. A FÉ É DOM GRATUITO DE DEUS
- A fé não vem do esforço humano, mas da graça soberana de Deus.
- É concedida aos pecadores, aos que reconhecem sua miséria e clamam por misericórdia.
- Não há mérito prévio — é dom livre, imerecido e preveniente.
“É dom de Deus.” (Ef 2.8; §9-11)
4. A RELIGIÃO É RAZOÁVEL
- Wesley defende que o evangelho é racional porque:
- Está de acordo com a natureza de Deus (amor, justiça, santidade).
- Leva o homem ao seu fim próprio: comunhão com Deus.
- A verdadeira fé não contradiz a razão, mas a aperfeiçoa e a ilumina.
“A religião que pregamos é conforme à razão eterna.” (§28)
5. GRAÇA PREVENIENTE, OPERANTE E SANTIFICADORA
- Deus atua:
- Antes: preveniente.
- Durante: operante.
- Depois: perseverante.
- Toda boa obra depende dessa ação de Deus no coração.
“Negar isso seria negar a própria experiência de miríades.” (§32)
6. O OBJETIVO: RESTAURAÇÃO DA IMAGEM DE DEUS
- A fé visa restaurar no homem:
- Conhecimento, amor e obediência a Deus.
- A imagem moral de Deus em santidade prática.
- O amor cumpre toda a Lei (Rm 13.10).
“Fazer o homem novamente à semelhança de Deus.” (§30)
7. RESPONSABILIDADE INDIVIDUAL: FAZER PROVA DA FÉ
- Cada um deve examinar-se:
- Não seguir opiniões alheias.
- Experimentar a fé viva por si mesmo.
“Provai e vede.” (§35)
8. POR QUE TANTOS REJEITAM ESSA FÉ?
- O orgulho humano resiste:
- Ao negar o mérito próprio.
- À humilhação diante da cruz de Cristo.
- Ao custo de abandonar o pecado.
“A cruz é tropeço e loucura para muitos.” (1Co 1.23; §39)
9. O PERIGO DO FORMALISMO RELIGIOSO
- Muitos têm:
- Forma de piedade, mas sem poder.
- Profissão de fé sem verdadeira conversão.
- Vida cristã apenas exterior.
“Não digais paz enquanto o coração estiver vazio de amor.” (§47)
10. UNIDADE PASTORAL E MISSIONÁRIA
- Os ministros devem:
- Pregar com autoridade e amor.
- Trabalhar unidos pela salvação de todos.
- Alegrar-se onde Cristo é pregado, por quem for.
“Que importa quem lança a rede, desde que o Senhor encha o barco?” (§45)
11. RESUMO FINAL DE UM METODISTA
- Fé que opera pelo amor.
- Esperança firmada na promessa.
- Amor que se derrama em serviço.
“Não temos outra religião, nem desejamos outra.” (§48)
12. A ORAÇÃO DE ENCERRAMENTO DE WESLEY
- Wesley conclui rogando:
- Que Deus aperfeiçoe, firme e fortaleça o seu povo.
- Que todos cheguem à maturidade de Cristo (Ef 4.13-15).
- Que a graça de Cristo esteja com todos.
PRINCÍPIOS DE UM METODISTA — MAIS EXPLICADOS
Ocasionado pela Segunda Carta do Rev. Sr. Church a Mr. Wesley
Redigido em forma de Segunda Carta àquele Cavalheiro
- Quando li sua carta anterior, já esperava receber outra, e tal expectativa não me desagradava. Julgava que uma nova correspondência me daria oportunidade de reexaminar convicções talvez abraçadas com excessiva leveza, bem como atitudes que eu, porventura, não considerara de modo suficiente. Nessa perspectiva, não o tenho por inimigo, mas antes por amigo – e, em certos aspectos, mais apto a prestar‑me verdadeiro serviço do que aqueles a quem o mundo chama amigos, mas que, por nutrirem simpatia exagerada, deixam de notar o que merece repreensão ou de usar a franqueza necessária para convencer‑me disso.
- É, ao menos em igual medida, para aprender eu mesmo quanto para expor aos outros aquilo que julgo ser a verdade que registro algumas reflexões sobre passagens do escrito que recentemente publicou. Digo algumas passagens, pois não tenciono responder a cada frase – nem aqui, nem em sua carta anterior. Omito muitas coisas porque as considero corretas; outras, por julgá‑las de pouca relevância; e várias, porque estou resolvido a não entrar numa controvérsia inútil, se não perniciosa.
- Um dos motivos que me levam a evitar tal controvérsia é o temor – não de meu oponente, mas de mim mesmo. Receio o meu próprio espírito, não vá eu "cair onde muitos, bem mais poderosos, já foram vencidos". Raras vezes vi alguém envolver‑se em polêmica com espírito verdadeiramente cristão. Todo debatedor parece crer, como soldado em campo de batalha, que pode – e deve – ferir o adversário o quanto lhe seja possível; que, contanto não distorça propositadamente os fatos, precisa expô‑lo ao ridículo, se quiser defender da melhor forma sua própria causa. Julga suficiente não demonstrar abertamente ira ou paixão; mas abster‑se de menosprezar o rival, ou de induzir os demais a fazê‑lo, parece‑lhe obra de supererogação.
- Contudo, deveriam as coisas ser assim? (Falo no âmbito do cristianismo.) Não nos ordena o mandamento amar o próximo como a nós mesmos? E deixa o homem de ser nosso próximo por abraçar opinião diversa – e mesmo por declará‑lo abertamente? Não devemos proceder para com ele como desejaríamos que procedessem conosco? Ora, agradar‑nos‑ia ser retratados sob a pior luz possível? Gostaríamos de receber tratamento de desprezo? Se não, por que tratar outrem dessa maneira? Todavia, quem hesita em fazê‑lo? Quem, em debate, deixa de explorar cada falha – ainda que alheia ao mérito da questão? Quem cobre, com o manto do amor, a nudez de seu irmão em plena controvérsia?
- Esta religião — amor que transborda em obras de paz e bem‑aventurança — temos nós perseguido por longos anos; muitos o sabem, se quiserem testificar. Durante todo esse tempo, contudo, buscávamos sabedoria e não a achávamos; gastávamos nossas forças em vão. Convictos disto, declaramo‑lo a todos: não desejamos que outros se desviem do caminho como nós nos desviamos. Antes, rogamos que se aproveitem de nossa perda e sigam (ainda que nós não o fizéssemos, por carecermos então de quem nos guiasse) a vereda direta que conduz à religião do amor — a vereda da fé.
- Ora, a fé, pressupostas as Escrituras como Palavra de Deus, é "a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem" (Hb 11.1)1— a evidência sobrenatural de realidades invisíveis aos sentidos naturais. Pela fé o homem espiritual discerne Deus e as coisas de Deus; com respeito ao mundo espiritual, ela é aquilo que o sentido é para o mundo natural — a própria sensibilidade espiritual implantada em toda alma nascida de Deus.
- Talvez nunca a tenhas considerado dessa forma; permita‑me, pois, explanar um pouco mais. A fé, segundo a Escritura, é o olho da alma regenerada: mediante ela "vemos aquele que é invisível" (Hb 11.27). Em especial depois que vida e imortalidade foram trazidas à luz pelo evangelho, contemplamos "a luz da glória de Deus na face de Jesus Cristo" (2 Co 4.6) e exclamamos, maravilhados, que amor é esse que o Pai nos concedeu, "a ponto de sermos chamados filhos de Deus" (1 Jo 3.1). — É o ouvido da alma, pelo qual o pecador escuta a voz do Filho de Deus e vive (Jo 5.25). — É o paladar da alma: assim o crente "saboreia a boa palavra e os poderes do mundo vindouro" (Hb 6.5), provando e vendo que o Senhor é bom (Sl 34.8). — É o tato da alma, pelo qual sentimos, sob a sombra do Altíssimo, não só a existência mas a presença constante daquele em quem vivemos, nos movemos e existimos (At 17.28); e, em particular, experimentamos "o amor de Deus derramado em nossos corações" (Rm 5.5).
- Por essa fé somos salvos de toda inquietação da mente: da angústia de espírito, do descontentamento, do medo e da tristeza, bem como daquela indizível apatia e cansaço — do mundo e de nós mesmos — que por tantos anos nos oprimiram, sobretudo nos momentos de silêncio e reflexão. Nela encontramos o amor de Deus e do próximo que buscáramos em vão noutras partes. Isto conhecemos e sentimos: que tal fé liberta quem a recebe de todo pecado e miséria, e de todo temperamento infeliz e impuro.
"Suave paz ela traz onde chega;
Constrói nosso sossego ao moldar nossa vida;
Aplainando as sendas ásperas da natureza irascível,
Abre em cada peito um pequeno céu."2
- Se alguém perguntar: “Por que, então, todos não possuem essa fé? Ao menos aqueles que reconhecem quão feliz ela é? Por que não creem imediatamente?” Respondemos — partindo da hipótese bíblica — que “ela é dom de Deus”. Ninguém pode produzi-la em si mesmo: trata-se de uma obra de onipotência. Não requer menos poder vivificar uma alma morta do que levantar um corpo sepultado. É uma nova criação; e ninguém pode recriar uma alma senão Aquele que, no princípio, criou os céus e a terra.
- A própria experiência não lhe confirma isso? Consegue você conceder-se essa fé? Está em seu poder ver, ouvir, provar ou sentir Deus? Já possui, ou pode gerar em si, alguma percepção do Criador ou do mundo invisível? Duvido que negue a existência desse mundo; nem atribuirá ao “preconceito cristão” as palavras do velho Hesíodo:
“Milhões de seres espirituais percorrem a terra,
Invisíveis, quer vigiemos, quer durmamos.”
Há em sua alma alguma força capaz de discernir tais seres — ou Aquele que os fez? Pode toda a sua sabedoria abrir interlocução com o reino dos espíritos? Está em seu poder rasgar o véu que cobre o coração e deixar entrar a luz da eternidade? Você sabe que não. Não apenas não o faz, mas não pode fazê-lo pela própria força; e quanto mais se esforçar, tanto mais se convencerá de que “é dom de Deus.” - É um dom gratuito, concedido não aos dignos de favor, nem aos já santos, como se fossem merecedores das bênçãos divinas; mas aos ímpios e profanos, a quantos, até aquele momento, estavam aptos apenas para a perdição eterna — homens em quem não havia bem algum e cujo único clamor era: “Ó Deus, sê propício a mim, pecador!” Nenhum mérito antecede o amor perdoador de Deus. A sua misericórdia pressupõe apenas o reconhecimento de pura miséria. E a todos os que veem e sentem suas carências — e sua total incapacidade de supri-las — Deus concede livremente a fé por causa daquele em quem Ele sempre “tem todo o seu prazer.”
- Eis, em traços largos e simples, a doutrina que ensinamos. Estes são os nossos princípios fundamentais, nos quais empenhamos a vida para confirmar outros — e para viver de maneira coerente com eles. Se você é homem ponderado, ainda que negue ser o cristianismo de origem divina, ponha a mão no peito e considere: que há aqui a condenar? Que mal lhe fizemos para que se junte ao clamor popular contra nós? Por que dizer: “Fora com tais homens da terra; não convém que vivam?”...
- É verdade que o vosso juízo não concorda com o nosso. Nós cremos que as Escrituras provêm de Deus; vós o negais. E como vos defendeis dos que vos acusam de incredulidade? Não respondeis que “cada um deve julgar segundo a luz que possui” e que, “se for fiel a essa luz, não pode ser condenado”? Pois bem, aplicai o mesmo critério a nós. Não devemos também julgar segundo a luz que temos? Não podeis condenar‑nos sem vos incluirdes na mesma condenação. De acordo com a luz que possuímos, não podemos senão crer que a Escritura é divina; e, enquanto assim cremos, não ousamos desviar‑nos dela, nem para a direita nem para a esquerda.
- Consideremos um pouco mais. Vós credes que há um Deus, e o testemunho disso está no vosso íntimo; talvez, por vezes, tremais diante dele. Credes igualmente que há bem e mal, diferença moral entre ambos; logo, deveis admitir a existência de consciência — isto é, que todo ser capaz de reflexão sabe, ao examinar seus atos, se foram bons ou maus. Necessariamente também admitis que cada um deve ser guiado pela própria consciência, não pela de outrem. Até aqui, podeis avançar sem vos tornar “voluntário na fé”.
- Ora, se existe um Deus justo e bom — atributos inseparáveis da ideia de Deus — que “recompensa os que o buscam diligentemente”, não devemos fazer tudo quanto cremos ser‑lhe agradável? Notai: se cremos, se estamos plenamente persuadidos disto, não devemos buscá‑lo com todo empenho? Caso contrário, como esperar qualquer recompensa de suas mãos?
- Ainda: não devemos praticar o que julgamos moralmente bom e abster‑nos do que reputamos mau? Por bom entendo tudo quanto promove o bem‑estar humano, fomenta a paz e a boa‑vontade entre os homens; por mau, o contrário disso. Como, pois, poderíeis condenar nosso esforço — dentro de nossas forças — de tornar a humanidade mais feliz (refiro‑me apenas a esta vida presente), diminuir suas dores e ensinar a todos, em qualquer estado, a estarem contentes?
- Mais uma vez: seremos guiados por nossa própria consciência ou pela de outrem? Certamente não direis que a consciência de alguém possa suplantar a minha. Vós mesmos não pleiteareis que nos roubem aquilo que reivindicais para vós: o direito inalienável de julgamento privado. Sabeis bem que, se não seguirmos fielmente os ditames de nossa mente, não poderemos ter consciência sem ofensa diante de Deus e dos homens.
- Portanto, segundo os vossos próprios princípios, deveis, ao menos, considerar‑nos inocentes. Tendes dificuldade nisso? Falais tanto de preconceito; acautelai‑vos para que não estejais enredados nele! Não estais predispostos contra nós precisamente porque cremos — e defendemos com vigor — aquilo que combateis? Não nos considerais vossos inimigos por presumirdes que o sejamos? Deus me livre! Recordo‑me de ter visto certa vez um homem, outrora próspero, reduzido à extrema miséria. Jazia enfermo, em dores lancinantes, sem alimento conveniente nem um amigo que o consolasse; de modo que, quando o senhorio, para completar o infortúnio, enviou alguém para lhe tomar a cama, não me surpreendeu que ele tentasse pôr fim a tão miserável existência. Ao contemplá‑lo banhado em sangue, poderia eu irar‑me contra ele? Decerto que não — tampouco contra vós. Não posso odiar‑vos; só posso erguer o coração a Deus por vós, como fiz por ele, e, com lágrimas silenciosas, suplicar ao Pai das misericórdias que vos olhe em vosso sangue e vos diga: “Vive!”.
- “Senhor” — disse‑me aquele infeliz em nosso primeiro encontro — “desprezo enganar‑vos ou a qualquer outro. Não me faleis de vossa Bíblia; não creio numa só palavra dela. Sei que há um Deus e creio que ele é tudo em tudo, o Anima mundi,
Totam
Mens agitans molem, et magno se corpore miscens.
Nada além disso creio: tudo é treva; meu pensamento perde‑se. Mas ouvi dizer que pregais a grandes multidões todas as manhãs e noites. O que pretendeis fazer com elas? Para onde quereis conduzi‑las? Que religião pregais? Para que serve?” Respondi: “Pregarei, sim, a todos quantos desejem ouvir. Perguntais o que pretendo: torná‑los virtuosos e felizes, tranquilos em si mesmos e úteis aos outros. Para onde os conduzo? Ao céu, a Deus, justo e amoroso, e a Jesus, Mediador da nova aliança. Que religião prego? A religião do amor, a lei da bondade revelada pelo evangelho. Para que serve? Para fazer todos os que a recebem desfrutarem de Deus e de si mesmos; para torná‑los semelhantes a Deus — amantes de todos —, satisfeitos na vida e capazes de bradar, na morte, em serena certeza: ‘Onde está, ó morte, a tua vitória? Graças a Deus, que me dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo!’” - Opor‑se‑ão, acaso, a tal religião alegando que não é razoável? Não é razoável amar a Deus? Não foi ele quem vos deu vida, respiração e todas as coisas? Não continua demonstrando amor, enchendo vosso coração de alimento e alegria? Que possuís que dele não tenhais recebido? E o amor não exige retribuição de amor? Quer o ameis ou não, não podeis negar que é razoável fazê‑lo — e, sendo ele a fonte de todo bem, amá‑lo com todo o coração.
- Não é igualmente razoável amar o nosso próximo – todo ser humano que Deus criou? Acaso não somos irmãos, filhos de um mesmo Pai? Devemos, pois, amar‑nos mutuamente. E havemos de amar apenas quem nos ama? Seria isso imitar nosso Pai que está nos céus? Ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e envia chuva sobre justos e injustos. E haverá regra mais equitativa do que esta: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19.18)? Vós certamente defenderíeis a razoabilidade disso, bem como daquela regra áurea — único padrão adequado do amor fraternal em todas as nossas palavras e ações: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei‑lhes vós também” (Mt 7.12).
- Ora, não é igualmente razoável que, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos — não apenas aos amigos, mas também aos inimigos; não só aos dignos, mas igualmente aos maus e ingratos? Não seria correto que toda a nossa vida fosse um contínuo labor de amor? Se um dia se passa sem fazermos o bem, não poderíamos, com o imperador Tito, exclamar: Amici, diem perdidi! E será bastante apenas alimentar o faminto, vestir o nu, visitar o enfermo ou o preso? Não teríamos compaixão daqueles
Que gemem sob a mancha horrenda da culpa,
Pior cativeiro, corrente mais pesada?
Devemos fechar o coração para os mais miseráveis dos homens só porque são desventurados por culpa própria? Se encontramos um remédio até para tal enfermidade, não devemos, tendo recebido de graça, dá‑lo de graça? Não devemos arrancá‑los como tições tirados do fogo — fogo de luxúria, ira, malícia, vingança? No íntimo de vosso ser respondeis: “Sim, isso deve ser feito; é razoabilíssimo.”
Este é, pois, o resumo de nossa pregação e de nossa vida, como os próprios adversários reconhecem. Se, portanto, julgais razoável amar a Deus, amar o ser humano e fazer o bem a todos, não podeis negar que a religião que pregamos e vivemos concorda plenamente com a mais elevada razão. - Talvez suporteis tudo isto. É tolerável; e, se falássemos apenas em ser salvos pelo amor, não teríeis grande objeção. Mas não compreendeis o que dizemos acerca de ser salvos pela fé. Bem sei que não compreendeis. Não tendes a mínima ideia do que queremos dizer com tal expressão. Sede pacientes, pois, e vo‑lo explicarei novamente. Pelas palavras “somos salvos pela fé” entendemos que, no exato momento em que alguém recebe a fé anteriormente descrita, é salvo da dúvida, do medo e da tristeza do coração — mediante uma paz que excede todo entendimento; é salvo do peso de um espírito contrito — mediante um gozo indizível; e é salvo de seus pecados, quaisquer que fossem, dos desejos viciosos tanto quanto das palavras e ações, pelo amor de Deus e de toda a humanidade agora derramado em seu coração.
- Concedemos que nada parece mais irracional do que supor que efeitos tão grandiosos possam ser produzidos por aquela coisa pobre, vazia e insignificante que o mundo chama fé — e vós entre eles. Mas, admitindo que exista na terra tal fé como a de que fala o Apóstolo, esse intercâmbio entre Deus e a alma — o que seria impossível a tal fé? Vós mesmos podeis conceber que “tudo é possível ao que crê” (Mc 9.23); ao que “anda com Deus”, sendo já cidadão do céu, habitante da eternidade. Portanto, se quereis contender conosco, precisais mudar o terreno de ataque: devereis negar categoricamente que exista fé sobre a terra — o que talvez vos pareça passo demasiado largo. Não o podeis fazer sem condenação secreta no peito. Ah! que clameis a Deus por esse dom celeste, por meio do qual somente essa religião verdadeiramente razoável — esse amor benfazejo a Deus e ao próximo — pode ser plantado em vosso coração.
- Direis: “Mas os que professam tal fé são os mais irracionais dos homens.” Pergunto: Quem são esses que professam assim? Talvez não conheçais pessoalmente um só no mundo. Quem se atreve a dizer possuir esta “evidência das coisas que se não veem” (Hb 11.1); a declarar que “vê o Invisível”, que ouve a voz de Deus e tem o Espírito continuamente “testemunhando com o seu espírito que é filho de Deus” (Rm 8.16)? Temo que encontrareis poucos — mesmo entre os incontáveis chamados crentes — que cheguem a professar tal fé.
- “Contudo”, dizeis, “há cristãos em demasia.” Sim, Deus o sabe — demasiados que desmentem suas vãs profissões com todo o teor de vida. Concedo‑vos tudo o que disserdes — e talvez mais. Há alguns anos, fui inadvertidamente envolvido numa conversa com uma senhora de forte raciocínio que, a princípio, alegava a maldade dos índios americanos como obstáculo à esperança de convertê‑los ao cristianismo. Quando, porém, mencionei sua temperança, justiça e veracidade (segundo relatos que então possuía), ela replicou: “Ora, se esses pagãos são tais homens, o que ganhariam tornando‑se cristãos? Que proveito teriam em ser cristãos como os que vemos ao nosso redor?” Não pude negar que, com um cristianismo desses, perderiam mais do que ganhariam. Então ela perguntou: “Mas o que entendeis por cristianismo?” Respondi francamente: “Que considerais mais valioso que bom senso, boa índole e boas maneiras? Tudo isso se encontra, no mais alto grau, no que chamo cristianismo. Bom senso é apenas pálida sombra do que chamamos fé; boa índole é débil reflexo da caridade cristã; boas maneiras, ainda que perfeitas pelas artes humanas, não passam de retrato morto daquela santidade de vida que é a imagem de Deus visível.” — “Senhor”, disse ela atônita, “se isso é cristianismo, nunca vi um cristão em toda minha vida.”
- Talvez seja também o vosso caso. Se assim for, lastimo‑vos, e só posso desejar que, até que vejais uma prova viva disto, não digais que vedes um cristão. Pois isto é o cristianismo bíblico, e somente isto. Sempre que, portanto, vedes um homem irracional, vedes alguém que talvez se chame por esse nome, mas que não é mais cristão do que é anjo. Na medida em que se afasta da reta razão, afasta‑se do cristianismo. Não digais que isto é mera afirmação não provada: está irrefutavelmente provado pela carta magna do cristianismo, a Palavra escrita. Se o temperamento, as palavras ou ações de alguém contradizem a reta razão, é demonstrável que contradizem a Escritura. Logo, a vida dos que se dizem cristãos não constitui objeção válida ao cristianismo.
- Juntamo‑nos, pois, a vós no desejo de uma religião fundada na razão e em tudo conforme a ela. Resta, contudo, uma questão: o que entendeis por razão? Suponho que entendais a razão eterna, ou a natureza das coisas — a natureza de Deus e a natureza do homem, com as relações que necessariamente subsistem entre ambos. Pois bem, essa é precisamente a religião que pregamos: uma religião evidentemente fundada e em tudo consentânea à razão eterna, à natureza essencial das coisas. Seu fundamento ergue‑se sobre a própria natureza de Deus e do homem, juntamente com suas relações necessárias.
- Pois se Deus é Espírito infinito, eterno, imutável, sumamente sábio, justo, santo e bom; e se o homem foi criado à sua imagem — um espírito inteligente, capaz de conhecer, amar e obedecer ao seu Criador — segue‑se necessariamente que não pode haver religião adequada ao homem a não ser aquela que reflita tais perfeições divinas e restaure aquela imagem perdida. Qualquer sistema que não tenha por alvo reconduzir o ser humano a esse conhecimento, amor e obediência, será tão irracional quanto inútil.
- Ora, esta é precisamente a finalidade da religião que proclamamos. Seu único desígnio é substituir, no coração humano, a ignorância pela verdade, o pecado pela santidade, a miséria pela felicidade — em suma, fazer o homem novamente à semelhança de Deus. E o meio estabelecido para tal restauração é a fé, que opera pelo amor, amor esse que cumpre toda a lei moral. Assim a lei — reflexo da razão eterna — encontra plena satisfação: “O cumprimento da lei é o amor” (Rm 13.10).
- Afastai, pois, todo preconceito e considerai imparcialmente: que pode haver mais racional do que aderir a uma doutrina que declara ser Deus a fonte de toda perfeição e nos conclama a aspirar àquela perfeição? Que pode haver mais conforme à natureza das coisas do que admitir que o Ser perfeitíssimo merece supremo amor e incondicional obediência? E que cada criatura moral é tanto mais feliz quanto mais se aproxima dessa ordem?
- “Mas — direis — o método que propugnais para atingir tal fim carece de solidez filosófica.” Ao contrário, replicamos: nenhum outro método o possui. Pois se é certo que o homem, por si mesmo, perdeu toda capacidade de cumprir plenamente a lei divina, será mera quimera supor que possa, por suas forças, recuperar o que perdeu. Necessita, portanto, de graça que anteceda, acompanhe e siga cada movimento da alma, a fim de que queira e possa voltar‑se para Deus. Esse influxo divino é oferecido a todos; e quem o aceita mediante fé recebe poder real para amar e obedecer. Negar isso seria negar a própria experiência de miríades em cada geração. Seria inverter toda a história da religião, que não é senão o relato vivo da ação de Deus em corações humanos.
- Perguntareis ainda: “Por que, então, tão poucos parecem alcançar esse teor de vida?” Respondo: porque tão poucos querem ser plenamente curados. A maioria dos doentes rejeita o remédio: uns zombam dele, outros o adiam, muitos o diluem até torná‑lo ineficaz. Quantos se aproximam da fonte de águas vivas, mas logo preferem cisternas rotas que não retêm água (Jr 2.13)! Não admira que permaneçam sedentos.
- Contudo, não cesseis de buscar porque poucos encontram; antes, sede do número desses poucos. Se buscásseis um tesouro terreno, não desfaleceríeis à primeira dificuldade. Quanto mais quando se trata de um bem incorruptível! Pedi, e dar‑se‑vos‑á; buscai, e achareis; batei, e abrir‑se‑vos‑á (Mt 7.7). Deus não mente nem engana: a promessa é infalível. Se a condição — pedir, buscar, bater — for sinceramente cumprida, o dom será infalivelmente concedido.
- Ó vós que amais a razão, sede razoáveis ao extremo: não desprezeis tão grande salvação. Longe esteja de vós aceitar, sem exame, as censuras vulgares contra o evangelho de Cristo. Ponde de parte impugnações levianas; examinai‑o por vós mesmos. Fazei experiência da doutrina que proclamamos. Não confieis no juízo alheio — favorável ou contrário. Provai e vede. Se, após experiência honesta, não reconhecerdes que “esta doutrina é de Deus”, rejeitai‑a; mas não a rejeiteis antes de prová‑la, sob pena de incorrer num erro tanto contrário à razão quanto prejudicial à bem‑aventurança eterna.
- Perguntareis, por fim: “Se essas coisas são assim, por que tantos que as ouvem permanecem como estavam — frios, insensíveis, indiferentes?” Respondo que a razão está em seu próprio coração. Conheceis a parábola: parte da semente cai à beira do caminho, parte em pedregais, parte entre espinhos (Mt 13.4‑7). O mal‑igno arrebata a palavra antes que penetre; tribulação ou perseguição faz murchar o primeiro broto; cuidados, riquezas e deleites deste mundo sufocam o restante. Mas a semente que cai em boa terra frutifica a trinta, sessenta e a cem por um. É o mesmo evangelho para todos; o efeito varia conforme o solo.
- Direis que tudo isso é alegoria. Concedo; mas alegoria fundada em fato, reconhecido por toda experiência humana. Não vedes diariamente homens que, tão logo sentem a flecha da verdade, procuram extirpá‑la por qualquer distração? Outros recebem a palavra com alegria, mas logo tropeçam quando a fé exige preço elevado. Mais numerosos são aqueles cujo coração está repleto de negócios, projetos, prazeres: não resta espaço para as “coisas excelentes”. É de admirar, então, que a multidão continue na mesmice? O espelho de bronze não transforma quem se recusa a encará‑lo.
- “Mas que diremos” — continuais — “dos que professaram essa fé e depois voltaram atrás? Não é prova de que o método falha?” Não, é prova de que o método não foi seguido até o fim. A fé viva deve ser mantida pela mesma graça que a gerou. Quem, após começar no Espírito, pretende aperfeiçoar‑se na carne (Gl 3.3) rapidamente naufragará. Bem diverso é o caso de quem, dia a dia, retoma a cruz e permanece na videira; este dá fruto que permanece. Assim, a recaída de alguns não invalida a perseverança dos outros: antes confirma a necessidade de vigilância contínua.
- Talvez pergunteis ainda: “Se essa doutrina é tão benigna, por que desperta oposição e escárnio?” Porque lança por terra a altivez humana. Ela exclui o mérito próprio, destrona o ego e proclama que toda glória pertence a Deus. Nada é tão odioso ao coração natural quanto renunciar à vanglória. Por essa razão, a cruz foi, é e será tropeço e loucura para muitos (1 Co 1.23). Contudo, para os chamados, é poder e sabedoria de Deus — e a única esperança de um mundo culpado.
- Não ousamos, porém, impor‑vos esta esperança. Conclamamos‑vos apenas a examiná‑la honestamente. Sabei que a fé cristã não exige violência contra a razão, mas sublima‑a. Faz com que enxergue o que antes não via, ame o que antes não amava, escolha o que antes desprezava. E se, ao cabo, reconhecerdes que ela é de fato luz celeste, não trateis de abrigar‑vos nas trevas, antes acolhei‑a e vivei.
- E quando a luz despontar no vosso coração, reconhecereis que toda virtude verdadeira procede de Deus, e que o pecado nada mais é que afastar‑se dele. Havereis de clamar como Agostinho: Fizeste‑nos para ti, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em ti. Então compreendereis por que insistimos em ser “salvos pela fé”: porque somente a fé nos une à Fonte de todo bem.
- Que fareis, pois? Persistireis em opor‑vos a um remédio antes de prová‑lo? ou chamareis “doce” o que ainda não provastes? Não é isto contra toda razão? Atentai: a vida é breve, a eternidade, longa. Se esta mensagem for verdadeira, perder‑la é perder tudo. Se for falsa, nada perde quem a experimentar, pois o próprio evangelho vos convida a provar tudo e reter o bem (1 Ts 5.21). Sede então homens de coração sincero; lançai‑vos à prova. E que o Deus de amor vos conduza “ao caminho mais excelente”, amém.
- Se, depois de tudo, ainda hesitais, peço‑vos um favor justo: suspendei o juízo enquanto perdurar a dúvida. Não rejeiteis às pressas o que não examinastes a fundo; não blasfemeis do que pode vir a ser vosso tesouro. Lembrai‑vos do conselho de Gamaliel: “Se este plano ou esta obra vem dos homens, será destruída; mas, se vem de Deus, não podereis destruí‑la — e correis o risco de vos achar lutando contra o próprio Deus” (At 5.38‑39). Assim, não façais guerra a vós mesmos; deixai que o Senhor opere segundo o seu beneplácito.
- E a vós, que sois ministros do evangelho, imploro com amor fraterno: considerai se não tendes negligenciado os dons que vos foram confiados. Foi‑vos concedida a dispensação do mistério de Cristo. Ai de nós, se não pregarmos como quem tem autoridade! Ai de nós, se buscarmos agradar aos homens mais do que a Deus! Se o Filho de Deus veio “buscar e salvar o perdido” (Lc 19.10), como poderemos descansar enquanto houver ignorantes a instruir, aflitos a consolar, pecadores a reconciliar?
- Deponhamos, pois, todo preconceito. Não nos irritemos por ver outros trabalhar onde fomos omissos. Antes, unamo‑nos no mesmo labor: anunciar a todos a remissão dos pecados, a renovação do coração e o amor perfeito. Se Cristo é pregado — por nós ou por outrem —, nisto nos regozijemos, sim, e nos regozijaremos (Fp 1.18). Que importa quem lança a rede, desde que o Senhor encha o barco?
- Quanto a nós, não temos coisa alguma que não tenhamos recebido. Somos o que somos pela graça de Deus, e sua graça para conosco não foi vã. Ainda assim, professamos nada saber “senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1 Co 2.2). Em sua cruz gloriamos‑nos; dela procede todo o nosso bem. E se pregamos salvação pela fé, é porque a Escritura não conhece outro caminho. Se exortamos à santidade, é porque “sem santidade ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Se insistimos no amor, é porque “o maior de todos é o amor” (1 Co 13.13).
- Amigos e irmãos, “examinai‑vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai‑vos” (2 Co 13.5). Não vos contenteis com forma de piedade sem o poder. Não digais paz enquanto o coração estiver vazio de amor. Buscai alta medida de graça — até que tenhais “mente que houve em Cristo Jesus” (Fp 2.5) e possais andar como ele andou. Então vossa vida será luz para os que jazem em trevas; e, pela fragrância de vossas boas obras, muitos glorificarão a nosso Pai que está nos céus.
- Eis, em suma, os princípios de um metodista: fé que opera pelo amor; esperança que se firma na promessa; amor que se derrama em serviço. Não temos outra religião, não desejamos outra. Se vós encontrais melhor, abraçai‑a; se não, não nos invejeis esta. Somos vossos servos por amor de Jesus — contanto que nos permitais servi‑lo livremente.
- Oro, pois, para que Aquele que é “o Deus de toda graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória”, depois de breve padecermos, “aperfeiçoe, firme, fortaleça e fundamente” a nós e a vós (1 Pe 5.10). Que ele derrame sobre todo o seu povo “o espírito de sabedoria e de revelação” (Ef 1.17), até que todos cheguemos “à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus” (Ef 4.13), crescendo “em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” (Ef 4.15).
- Com este desejo, encerro. Se em algo errei, Deus mo perdoe; se falei verdade, que ele a faça prosperar. E a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus Pai e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós. Amém.
Notas de fim
- Hb 11.1 — citação literal da versão NAA.
- Versos adaptados do poema The Christian Poet de Alexander Pope.
- Versos de Virgílio, Eneida VI.726‑727: “Uma Mente, espírito que anima o total da massa, mistura‑se a esse imenso corpo.”
Anima mundi — expressão latina (“alma do mundo”) usada por filósofos estoicos e neoplatônicos para indicar o princípio divino impessoal que anima o universo. - Amici, diem perdidi! — “Amigos, perdi um dia!” Exclamação atribuída ao imperador Tito (séc. I d.C.), que lamentava qualquer dia passado sem realizar um ato de bondade.
- Rm 13.10 — “O amor é o cumprimento da lei.” (NAA)
- Mt 13.4‑7 — parábola do semeador.
- Gl 3.3 — “Tendo começado pelo Espírito, estais agora vos aperfeiçoando na carne?”
- 1 Co 1.23 — “nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios.”
- Agostinho, Confissões, I.1.
- At 5.38‑39 — conselho de Gamaliel.
- Lc 19.10 — “o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido.”
- Fp 1.18 — “o importante é que Cristo seja proclamado.”
- 1 Co 2.2; 13.13 — centralidade da cruz e primazia do amor.
- Hb 12.14 — necessidade de santidade.
2 Co 13.5 — autoexame. - 1 Pe 5.10; Ef 1.17; 4.13‑15 — oração conclusiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário