Quando a Fé Enfrenta a Injustiça: As Cinco Filhas de Zelofeade e a Justiça do Reino
Por Bispo Ildo Mello
Você já se sentiu invisível? Já experimentou a dor de não ser notado, de não ter espaço, de sentir que sua vida não importa para os sistemas à sua volta?
Essa é a sensação que cinco mulheres do Antigo Testamento experimentaram — e que, com coragem e fé, decidiram enfrentar. A história delas está registrada em Números 27.1–11 e tem muito a nos ensinar sobre fé ativa, justiça divina e transformação social.
O problema: um sistema que as ignorava
Na cultura hebraica da época, a herança era transmitida apenas aos filhos homens. Quando Zelofeade morreu sem deixar filhos, suas cinco filhas — Maala, Noa, Hogla, Milca e Tirza — se viram sem direito à terra, ao nome da família e a um futuro.
A lei, como estava, não lhes dava nenhuma garantia. O nome do pai seria esquecido, e elas seriam condenadas à invisibilidade.
A coragem de questionar estruturas injustas
Essas mulheres poderiam ter se calado. Poderiam ter aceitado seu destino e se resignado à exclusão. Mas não o fizeram.
Elas se apresentaram diante de Moisés, dos líderes e de toda a congregação — um ato surpreendente para mulheres naquele contexto — e questionaram a norma estabelecida.
Não com arrogância ou violência, mas com fé e reverência. Elas criam que Deus é justo e que sua promessa não poderia ser apenas para alguns.
A resposta divina: justiça acima da tradição
Moisés, diante do pedido, não respondeu por si. Ele levou o caso a Deus. E Deus não apenas ouviu — Ele deu razão às mulheres.
A decisão divina mostrou que a justiça do Reino não está limitada pelas tradições humanas. Deus não é refém de culturas patriarcais nem de sistemas excludentes. Ele vê os esquecidos, ouve os marginalizados e age em favor dos que confiam em Sua justiça.
Essa história mostra que a lei de Deus é viva, dinâmica e sensível às necessidades do ser humano.
Uma fé que busca e age
A fé dessas mulheres não era passiva. Não esperava tudo cair do céu. Era uma fé que orava, buscava e agia.
Elas acreditavam na promessa da Terra e sabiam que a herança divina era também para elas. E foi.
Preservar o nome e o legado
Ao conquistar o direito à herança, as filhas de Zelofeade não garantiram apenas terras — preservaram a memória do paie o legado de sua família entre o povo de Deus.
Essa é uma bela lembrança do mandamento de honrar pai e mãe (Êx 20.12), que vai além do respeito pessoal e abrange também a preservação do testemunho e da história familiar.
Mulheres como agentes de mudança
Num sistema patriarcal, essas cinco irmãs se tornaram símbolos de liderança e transformação.
Elas nos lembram que a voz da mulher tem papel essencial na edificação de uma sociedade mais justa e na expressão da justiça do Reino de Deus.
O apóstolo Paulo afirmou:
“...não há judeu nem grego, não há escravo nem livre, não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.”
(Gl 3.28)
Aplicações para os nossos dias
A história dessas mulheres nos desafia a:
Defender causas justas, mesmo que isso signifique questionar normas tradicionais;
Confiar na justiça de Deus, que ouve o clamor dos esquecidos;
Agir com sabedoria e reverência, buscando mudança sem confronto hostil;
Buscar orientação divina, como fez Moisés, reconhecendo que a verdadeira justiça vem do Senhor.
Um vislumbre do Reino de Deus
A história das filhas de Zelofeade não é apenas sobre divisão de terras. Ela é um prenúncio do Reino de Deus.
Um Reino onde:
ninguém é invisível,
ninguém é excluído,
a justiça e a dignidade são para todos.
“O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo.”
(Rm 14.17)
Elas não foram as únicas
Outros também se levantaram, inspirados pela justiça do Reino:
John Wesley lutou contra a escravidão e pelos marginalizados.
B. T. Roberts, fundador da Igreja Metodista Livre, defendeu os pobres e o ministério feminino.
Martin Luther King Jr. enfrentou o racismo com coragem e fé.
Essas pessoas, assim como as filhas de Zelofeade, se recusaram a aceitar a injustiça como algo normal. Foram instrumentos de mudança.
Palavra final: Deus te vê, te ouve e te chama
Se você se sente esquecido, sem voz ou sem valor, saiba que Deus te vê. Deus te ouve. Deus se importa.
E mais do que isso: Deus te chama a ser parte ativa de Seu Reino.
“Assim como as filhas de Zelofeade não se calaram diante da injustiça, nós também não podemos nos calar.”
Quando a igreja se levanta para defender os que não têm voz, ela manifesta o caráter do Reino.
E que nós, como elas, sejamos agentes dessa transformação — na nossa casa, na igreja e na sociedade.
Afinal, em Cristo, todos somos herdeiros da promessa (Gl 3.29).
As Cinco Filhas de Zelofeade: Fé para Enfrentar a Injustiça by José Ildo Swartele de Mello
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