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A Escatologia de Wesley e seu impacto social

Um pouco da história de João Wesley

Veremos agora um exemplo histórico de como uma boa escatologia pode gerar bons frutos em termos da missão integral da Igreja. Estaremos examinando como a teologia de João Wesley fez com que ele desenvolve-se um ministério integral de grande impacto social. Sua teologia só pôde impactar a sociedade, porque, em primeiro lugar havia impactado sua própria vida. Wesley procurava fazer com que sua vida e a vida dos metodistas de seu tempo servisse de exemplo de sua mensagem. Ele revelava um forte comprometimento com o Reino de Deus, através de seu estilo de vida simples, caracterizado pelas boas obras, vida abundante, frutos do Espírito, santidade, disciplina e evangelização, dando muita prioridade aos pobres. Além disto, temos a grande contribuição de Wesley para a eclesiologia, que foi a dinâmica, revolucionária para a época, de seu ministério, que proporcionou uma abertura para a participação dos leigos no ministério da Igreja, e com o seu sistema de grupos pequenos para edificação de comunidades de crentes maduros que pudessem cumprir a missão de serem sal da terra e luz do mundo. Estamos seguros de que, como todo exemplo humano, este também não está isento de erros, mas é um dos melhores que podemos encontrar em toda a história da Igreja, podendo servir de referência para aqueles que procuram fidelidade a Palavra de Deus e a Missão da Igreja.

João Wesley nasceu no dia 17 de junho de 1703 na cidade de Epworth. Seu pai se chamava Samuel Wesley e sua mãe Suzana Wesley. Teve 18 irmãos. João Wesley estudou na tradicional Universidade de Oxford, onde estudaram seu bisavô Bartolomeu Wesley, seu pai Samuel e o seu irmão mais velho, Samuel Filho. Todos se preparam para o sagrado ministério teológico pastoral. Em Oxford, João Wesley criou um grupo de estudantes, que ficou conhecido como 'Clube Santo'. Os demais alunos, notando que os membros do grupo tinham horário e método para tudo que faziam, os taxaram como 'metodistas'. Após os estudos, Wesley iniciou seu ministério pastoral na Igreja Anglicana, como assistente de seu pai. Aos 32 anos de idade, ele vai para os Estados Unidos como missionário, acompanhado de seu irmão Carlos Wesley. Esta experiência missionária durou quase três anos e não foi muito bem sucedida. Mas serviu para conscientizar Wesley de sua frieza espiritual, conduzindo-o a sua experiência de avivamento, que o levou a experimentar uma vida de santificação através da plenitude do Espírito Santo. Já na viagem de ida para os Estados Unidos, seu navio enfrentou uma terrível tempestade. Wesley ficou super abalado, sentindo medo de morrer. Mas existia ali, um grupo de Moravianos, que expressavam muita confiança e paz em Deus mesmo diante da perspectiva iminente da morte. O contraste foi evidente. Wesley começou a buscar o segredo para viver uma vida assim tão abundante e segura. Vemos aqui o fundamental papel do Espírito Santo que sacudiu Wesley em alto mar e o avivou e capacitou para a Missão. Já de volta a Inglaterra, em 24 de maio de 1738, Wesley foi para uma reunião dos moravianos em Aldersgate, onde teve sua experiência de avivamento quando ele sentiu o seu coração sendo estranhamente aquecido. Podemos dizer com segurança que tal experiência de plenitude do Espírito Santo, foi um divisor de águas, que impactou sua vida e começou a impactar o mundo ao seu redor.

Como não havia muitas oportunidades na Igreja Anglicana, Wesley pregava aos operários em praças e salões, algo muito incomum na época - muito embora ele não gostasse de pregar fora da Igreja! Mas vendo a necessidade de uma sociedade bíblica, João Wesley pregava a toda hora, 4 vezes por dia, aos mineiros e pobres, a todas as pessoas, em todos os lugares nas ruas, nos campos, nas casas e até em teatros. Havia protestos daqueles que diziam que estes não eram terrenos consagrados, mas Wesley respondia dizendo Jesus consagrou cada metro quadrado desta terra ao vir neste mundo! E tornou-se conhecidíssima sua frase que diz: "o mundo é a minha paróquia". Os novos convertidos e interessados eram convidados a fazer parte de uma classe de mais ou menos 12 pessoas com estudos que enfatizavam a formação do caráter cristão. Wesley criou uma nova fórmula de Igreja, introduzindo um sistema de grupos pequenos, denominado classes, que eram liderados por leigos.
Wesley parecia incansável em sua missão. Calcula-se que, em 50 anos, Wesley tenha percorrido 175 mil quilômetros e pregado 40 mil sermões, com uma média de 800 sermões por ano. A informalidade e o dinamismo do movimento wesleyano fez com que a nova Igreja Metodista crescesse nos Estados Unidos de 15.000 em 1780 para 2.675.035 em 1898. Segundo Mateo Lelièvre, “mais de 25.000.000 dos habitantes do globo terrestre achavam-se em 1898 debaixo da influência religiosa dos discípulos de Wesley”i. E pensar que Wesley tinha experimentado um verdadeiro fracasso em sua primeira viagem missionária aos Estados Unidos! O que o poder de Deus não é capaz de fazer!

Em 1738, Wesley enfrentava um período com as seguintes características: revolução industrial, urbanização, êxodo rural, povo pobre e marginalizado nas grandes cidades e que não eram muito bem-vindos nas igrejas anglicanas, que estavam elitizadas, racionalista, distante dos pobres e de suas necessidades, com grande disparidade entre clero e povo. O clero fazia parte da elite da sociedade. O puritanismo já havia se desvanecido e o que prevalecia era o cristianismo nominal. Havia muita embriagues, principalmente entre os pobres. Pessoas eram enforcadas publicamente por crimes banais. E havia ainda o grave problema da escravidão e do tráfico e comércio de escravos. A situação era tão difícil, que Voltaire anunciava e profetizava a ruína do Cristianismo, dizendo: “Na Inglaterra, estão tão cansados da religião que, caso se apresentasse uma nova, ou até mesmo uma antiga, renovada, fracassaria por completo.”ii Wesley não como uma nova religião, mas com uma religião renovada vai desmentir Voltaire. A seguir, veremos como a teologia e, em especial, a escatologia de Wesley, contribuíram para que Wesley não se conformasse diante dos desafios e dos problemas de seu tempo e agisse para mudança.

i Lelièvre, Mateo. João Wesley, sua vida e sua obra. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 1997. P. 371.

ii Lelièvre, Mateo. João Wesley, sua vida e sua obra. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 1997. P. 17.


João Wesley era pós-milenista

A maioria dos wesleyanos desconhece o fato de que João Wesley era pós-milenista e que tal visão escatológica exerceu um papel preponderante em sua confiança na supremacia da graça sobre os efeitos do pecado tanto no que diz respeito a santificação individual como também social. Por conta deste otimismo foi que ele se levantou contra a escravidão e toda a gama de injustiças sociais de seus dias. Entendo que existe uma série de preconceitos contra a posição pós-milenista e também contra a amilenista no contexto evangélico brasileiro. Muitos desconhecem a exatidão hermenêutica e a força dos argumentos pós-milenistas. Mais abaixo, palestra a respeito.

Um dos textos que revelam que Wesley era pós-milenista:

“Foi então que os fundamentos do inferno se abalaram e o Reino de Deus foi-se alargando progressivamente. Por toda parte havia pecadores ‘voltando-se das trevas para a luz e do poder de Satanás para Deus’... Assim se espalhou o Cristianismo sobre a face da terra. Ele havia ‘edificado sua igreja sobre a rocha e as portas do inferno não prevalecerão contra ela’(Mat. XVI:18). Veremos, porventura, maiores coisas do que estas? Sim, maiores do que as tem havido desde o começo do mundo. Pode Satanás fazer naufragar a verdade de Deus ou invalidar suas promessas? Se não, tempo virá em que o Cristianismo prevalecerá sobre todas as coisas e cobrirá a terra... O mundo cristianizado… Tendo, pois, considerado, ainda que brevemente, o cristianismo em seu começo, em seu crescimento e cobrindo, afinal, a terra.” (Wesley, John . Sermões de Wesley. Tradução Nicodemus Nunes. Imprensa Metodista. 3a. Edição – 1985. Volume 1, p. 90-91 e 93).

Wesley, boa escatologia e transformação social.

Wesley era otimista em relação à suficiência do poder da graça de Jesus não apenas para perdoar os pecados, mas para purificar-nos de toda injustiça e transformar as pessoas em novas criaturas (2 Co 5.17), que se tornam capazes de imitar a Deus como filhos amados (Ef 5.1), que não se conformam com este mundo, mas que experimentam a transformação através da renovação da mente, para o desfrute daquela que é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.1-2); tornam-se também capazes de andarem no Espírito com vistas a não satisfazerem as concupiscências da carne (Gl 5.16), e de andarem na luz (1 Jo 1.7) e de serem sal da terra e luz do mundo (Mt 5.13-16). Este otimismo não deve se restringir à transformação do indivíduo, mas deve também se estender a transformação da sociedade como um todo. Para Wesley a santificação do crente tem também o objetivo de promover a santificação do mundo.

Concordo com Runyon quando ele diz que a maior força da doutrina wesleyana da perfeição talvez esteja em sua habilidade de mobilizar os crentes a buscarem um futuro mais perfeito que supere o presente. Pois, mesmo estando consciente das forças do mal, Wesley não as considera conseqüências inevitáveis do pecado original, mas exatamente aquilo que pode ser vencido. Sendo assim, sua teologia busca o poder criativo e transformador na vida neste mundo. Busca transformação no aqui-e-agora (Hb 6.1).i

Wesley disse, certa vez, o seguinte: “dê-me cem homens que não amem nada exceto Deus, que não odeiam nada exceto o pecado, e eu sacudirei o mundo para Deus; não importa se clérigos ou leigos, homens assim abaterão o reino de Satanás e construirão o Reino de Deus na Terra”. Howard Snyder declarou que Wesley via a graça de Deus atuando de maneira tão plena e abundante que ninguém deveria estabelecer limites para a ação do poder de Deus através da Igreja na era presente, vendo a Igreja como um poderoso instrumento de transformação e redenção pessoal e social, como um sério agente da graça divina no Mundo. Mas ressalvou que tal ênfase otimista era combinada e contrabalançada por Wesley com textos que apontam para a realidade do mal e que advertem para o juízo final. Pois, realismo bíblico requer que se mantenham juntos tanto a esperança quanto a expectativa de juízo e da ira vindoura que fazem parte do pacote escatológico. Snyder mostrou que Wesley procurava também combinar e sintetizar de maneira balanceada os aspectos presentes e futuros da salvação e as dimensões evangelísticas e proféticas do Evangelho do Reino.ii

Para Wesley salvação inclui santificação, que, por sua vez, inclui boas obras. Salvos pela graça para as boas obras (Ef 2.8-10). A fé sem obras é morta (Tg 2.26). A fé que importa é fé que atua pelo amor (Gl 5.6). E o amor se expressa e se prova com as obras. A Bíblia também diz que devemos desenvolver a nossa salvação com temor e tremor (Fp 2.12). Pela graça e capacitação de Deus, homens e mulheres cristãs se tornam colaboradores de Deus. Snyder afirma que Wesley via a presente era como uma guerra entre o reino das trevas e o Reino de Deus, onde os cristão não seriam salvos da guerra, mas salvos para a batalha, salvos para lutarem o bom combate da guerra espiritual contra os principados e as potestades da maldade e da injustiça que operam neste mundo. Portanto, para Wesley, a vida cristã deve ser vivida á luz da eternidade, mas de maneira ativa e não passiva. Wesley vivia o presente à luz da eternidade no sentido de procurava fazer a obra do Reino de Deus aqui e agora impulsionado pela visão do futuro de Deus, enquanto se preparava também para a eternidade.iii

Wesley era um pós-milenista realista, pois sua confiança no trabalho da graça de Deus lhe conferia uma dinâmica e um otimismo em relação ao que Deus poderia realizar através do seu povo no tempo presente. Embora fosse realista devido a sua consciência da realidade e da natureza do pecado humano, Wesley mantinha viva uma esperança otimista baseado em sua confiança no poder regenerador da graça de Deus. Wesley aprendeu com Jesus a não usar nem a mais razoável das desculpas para justificar acomodação diante da “realidade” da natureza das coisas. O realismo não deve sufocar nossa confiança que está baseada no poder e na providência divina. Nós devemos crer em milagres! No poder de Deus para transformar a realidade e para restaurar o propósito original da natureza das coisas. Veja que é esta a lição que Jesus está tentando ensinar aos seus discípulos em João 4.35: “Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois já branquejam para a ceifa”. De fato, faltavam quatro meses ainda para o período da colheita. A desculpa é bem razoável. Mas Jesus convida os discípulos a erguerem os olhos para enxergarem uma outra realidade, a de que os campos já estão prontos para a ceifa. Quando os discípulos levantam os olhos, o que é que eles enxergam? Uma multidão de samaritanos vindo para o encontro com Jesus, para serem evangelizados por ele. Não havia tarefa mais impossível para um cristão judeu do que tentar evangelizar um samaritano. Imagine hoje o que seria para um judeu tentar converter um palestino, por exemplo. Com Jesus o imponderável se torna realidade. A Igreja não deve se render e nem se conformar numa atitude de acomodação ao mundo e seu sistema, mas deve ser reativa e positiva no sentido de transformar-se a si mesma para tornar-se um instrumento de transformação nas mãos de Deus. A escatologia de Wesley também não lhe permita ficar parado numa atitude de mera contemplação. “Por que vocês estão olhando para as alturas?” Perguntaram os anjos aos discípulos em Atos 1.10. Sua escatologia também não lhe permitia ver a Igreja precipitadamente arrebatada para fora do cenário mundial.

i Runyon, Theodore. A Nova Criação: a teologia de João Wesley hoje. Tradução de Cristina Paixão Lopes. São Bernardo do Campo-SP: Editeo, 2002, 316 p.

ii Snyder, Howard A. The Radical Wesley and Patterns fo Church Renewal. Eugene, OR: Wipf and Stock Publishers, 1998, p. 146 e 152.

iii Ibid. p. 83 e 84.

Vida Simples em favor da caridade

O ministério de compaixão de Wesley não era uma isca para a evangelização, como se costuma ver hoje em dia, mas, sim, uma ação natural daqueles que foram chamados das trevas com a missão de serem a luz do mundo. Interessante notar que boa parte dos que foram curados por Jesus, não regressaram sequer para agrade-lo. O que demonstra que o ministério de ação social tem valor em si mesmo, por derivar a sua ação da própria natureza do Reino de Deus, que é amor, justiça e paz. Algumas das mais célebres frases de Wesley revelam sua consciência social, "... o cristianismo é essencialmente uma religião social; e reduzi-la tão somente a uma expressão solitária é destruí-la”. “Faça todo o bem possível, por todos os meios possíveis, de todos os modos possíveis, em todos os lugares possíveis, em todas as ocasiões possíveis, a todas as pessoas possíveis, tanto quanto for possível." E, "a excelência da sociedade para a Reforma dos costumes é...primeiro, mover campanha aberta contra toda a impiedade e injustiça, que cobrem a terra como num dilúvio, e isto é um dos meios mais nobres de confessar a Cristo." Snyder menciona trechos de sermões de Wesley que mostram que ele via que o mundo havia melhorado por causa da ação do cristianismo. E, falando mais especificamente sobre as transformações sociais promovidas pelo movimento wesleyano, que cresceu tremendamente em número, através de uma missão que se realizava através de palavras e obras, ele destacou o crescimento de todas as obras de benevolência e caridade, com a construção de muitos hospitais, enfermarias e outros locais públicos para a prática de ajuda humanitária.i Wesley trabalhava de maneira incessante em favor de uma mais vital, mais agressiva, mais amável e mais autentica e visível manifestação da Igreja como a comunidade do povo de Deus, a comunidade escatológica que existe para servir aqui e agora como agente do Reino de Deus.ii

Pois, para Wesley, as boas obras são a maneira pela qual a Igreja cumpre o seu papel de ser luz do mundo: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:16). “Havia em Jope uma discípula por nome Tabita, nome este que, traduzido, quer dizer Dorcas; era ela notável pelas boas obras e esmolas que fazia” (At 9:36). “Seja recomendada pelo testemunho de boas obras, tenha criado filhos, exercitado hospitalidade, lavado os pés aos santos, socorrido a atribulados, se viveu na prática zelosa de toda boa obra” (1 Tm 5:10). “Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência” (Tt 2:7). “Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas coisas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus sejam solícitos na prática de boas obras. Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens” (Tt 3:8). “Agora, quanto aos nossos, que aprendam também a distinguir-se nas boas obras a favor dos necessitados, para não se tornarem infrutíferos” (Tt 3:14).

João Wesley viveu um estilo de vida simples, ainda que recebesse um bom dinheiro como fruto de seu trabalho em diversas áreas como ensino, publicação literária e ministério pastoral, ele vivia apenas com vinte e oito libras por ano, muito pouco, suficiente apenas para as necessidades básicas, dando todo o excedente para os pobres e para a causa do Reino de Deus. Num ano, por exemplo, Wesley deu noventa e dois libras, 3 vezes mais do que reteve para sua subsistência! Uma vez, já com uma idade avançada, Wesley foi capaz de andar várias milhas com a intenção de economizar o dinheiro da carruagem com vistas a dar o dinheiro para os pobres.iii Pois para Wesley a graça de dar é a evidência final da vida cheia do Espírito Santo. Porque a graça recebida que não se transforma em graça livremente distribuída está sujeita a ser cancelada pelo Rei. Para ser plenamente operante, a graça gratuitamente recebida das mãos do Rei precisa se transformar em graça livremente distribuída e estendida ao próximo.iv Precisamos conhecer a alegria tanto da graça de receber quando de dar livremente para a glória de Deus. Como Paulo exortava: “pratiquem o bem, sejam ricos de boas obras, generosos em dar e prontos a repartir” (1 Tm 6:18). Wesley, em termos quase poéticos, falou que compartilhar as graças recebidas está na própria natureza do crente e faz parte da essência da missão cristã:

“Vossa própria natureza é dar sabor a tudo quanto vos rodeia. É da natureza do divino sabor que existe em vós expandir-se em tudo quanto tocardes, difundir-se por todos os lados, atingindo a todos aqueles em cujo meio estiverdes. Esta é a grande razão pela qual a Providência de Deus vos misturou com os outros homens, de modo que as graças, quaisquer que sejam, que de Deus houverdes recebido, possam ser comunicadas através de vós ao demais homens." v

Alcorn registra em seu livro o evento que mudou completamente a perspectiva de Wesley a respeito de como viver uma vida simples com intuito de praticar a caridade. Este episódio, que relataremos a seguir, aconteceu em 1731, enquanto ele ainda estudava em Oxford, e influenciou ininterrupta e poderosamente a sua vida por 60 anos, até a sua morte em 1791. Wesley tinha acabado de comprar uns quadros para o seu quarto, quando uma arrumadeira se aproximou de sua porta. Era um dia de inverno e ele notou que ela tinha apenas um fino vestido de linho que era muito inadequado para enfrentar o inverno inglês. Comovido, ele mete a mão no bolso com intuito de dar para ela comprar um casaco, mas descobre que tinha restado pouco dinheiro após as compras dos quadros. Naquele momento, ele sentiu que Deus não tinha se agradado da maneira como ele havia gastado o seu dinheiro. Ele perguntou para si mesmo: “Estaria o Senhor me dizendo: ‘Muito bem, servo bom e fiel?’ Você adornou a sua parede com o dinheiro que poderia ter aquecido e protegido esta pobre criatura do frio! Ó justiça! Ó compaixão! Não são estes quadros o sangue desta pobre arrumadeira?”

Alcorn nos conta que após este incidente, Wesley começou a estabelecer limites as suas despesas de modo a separar mais dinheiro para dar aos pobres. Wesley registrou que em um ano, os seus rendimentos foram da ordem de 30 libras e que ele gastou 28 libras e deu 2 aos pobres. No próximo ano, seus rendimentos dobraram, mas ele permaneceu vivendo com 28 libras e deu 32. No terceiro ano, seus rendimentos saltaram para 90 libras, e, de novo, ele continuou vivendo com 28, e fez caridade com 62 libras. No quarto ano, ele ganhou 120 libras e continuou vivendo com 28, para poder dar 92 aos pobres. Num ano, ele chegou a ganhar mais de 1.400 libras, separou 30 libras para as suas necessidades básicas e deu todo restante, pois ele tinha medo de juntar tesouros na terra, de maneira que o dinheiro ia para caridade, tão rápido quanto chegava!

Alcorn registra ainda que os direitos autorais dos livros publicados de Wesley deram a ele numa certa ocasião o que equivalente hoje a US$ 160,000. Mesmo assim ele continuou vivendo com o mesmo que de costume, o equivaleria hoje a aproximadamente US$ 20,000.vi Certa vez, uma mulher rica, ao morrer, deixou a Wesley uma herança equivalente a 25.000 dólares. Mas o dinheiro não permaneceu por muito tempo nas mãos de Wesley, que logo repartiu o dinheiro com os pobres, dizendo: Sou administrador de Deus para servir aos pobres”.vii Quando Wesley faleceu, o único dinheiro que constava em seu testamento eram umas poucas moedas que foram encontradas no seu bolso e em uma de das gavetas de seu armário.viii Wesley viveu de modo radical. Sua vida foi e é uma inspiração para aqueles que almejam viver um cristianismo autêntico, comprometido com o Reino de Deus. Um estilo de vida assim pode impactar esta sociedade de consumo.

Wesley não apenas viveu de modo simples para poder solidarizar-se com os pobres e praticar caridade, como também priorizou os pobres no quesito pregação do Evangelho. Wesley disse que “o maior milagre na Igreja é pregar o evangelho aos pobres”. Outro milagre é a quebra de barreiras na unidade de pessoas de diferentes raças e classes sociais, com o intuito de demonstrar visivelmente a reconciliação de todas as coisas em Cristo (Ef 1-4). Veremos a seguir como Wesley enfrentou os grandes desafios sociais de seus dias.

i Ibid. p. 82 e 83.

ii Ibid. p. 89.

iii McKenna, David L. What a Time to be Wesleyan! Proclaiming the Holiness Message with passion and purpose. Kansas, Missouri: Beacon Hill Press, 1999, p. 41 e Snyder, Howard A. The Radical Wesley and Patterns fo Church Renewal. Eugene, OR: Wipf and Stock Publishers, 1998, p. 19.

iv McKenna, David L. What a Time to be Wesleyan! Proclaiming the Holiness Message with passion and purpose. Kansas, Missouri: Beacon Hill Press, 1999, p. 40.

v Wesley, João. Sermões de Wesley. Volume 1. São Bernardo do Campo, SP: Imprensa Metodista. 3a. Edição. 1985. Sermão XXIV – Sobre o Sermão do Monte – Discurso IV. P. 505.

vi Alcorn, Randy C. “Money, possessions, and eternity”. Illinois: Tydale House Publishers, 2003. P. XV, Introdução. P. 298-299.

vii Lelièvre, Mateo. João Wesley, sua vida e sua obra. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 1997. P. 230 e 231.

viii Alcorn, Randy C. “Money, possessions, and eternity”. Illinois: Tydale House Publishers, 2003. P. XV, Introdução. P. 299.

Wesley combateu a escravidão

Wesley e os metodistas primitivos não entravam em pânico quando se deparavam diante de fortes crises morais, pois criam que o status quo não tem a última palavra. Ele ousou acreditar que o mundo poderia ser transformado pelo poder da graça de Deus. Imagine o que seria ter vivido nos dias de Wesley e decidir trabalhar duro para mudar um problema social tão grande como a escravidão, que estava enraizado na sociedade mundial há milhares de anos? Utopia? A última carta que Wesley escreveu antes de morrer foi endereçada a William Wilberforce, um membro do parlamento inglês que havia se convertido no ministério de Wesley e que inspirado por ele, estava agora lutando contra a escravidão. A carta de Wesley expressava sua oposição à escravidão e encorajava Wilberforce a continuar firme na luta por mudança. O parlamento, após mais de 20 anos de ações políticas e sociais encabeçadas por Wilberforce, no ano de 1807 proibiu a participação inglesa no tráfico negreiro. A Inglaterra foi o primeiro país a abolir a escravidão, e, a partir daí, muitos outros foram inspirados e pressionados a fazerem o mesmo.

Wesley formou sociedades antiescravocratas, grupos para reforma de prisões, casas de abrigo e agências de assistência aos pobres, numerosas sociedade missionárias, hospitais e escolas se multiplicaram. Wesley lutou contra o trabalho infantil e em favor de direitos civis. Concentrou seu ministério entre os pobres. O Metodismo foi indiretamente responsável pelo crescimento da autoconfiança e capacidade de organização de trabalho do povo inglês. Em 1928, o Arcebispo Davidson escreveu dizendo que Wesley praticamente mudou a perspectiva e o próprio caráter da nação inglesa. E, alguns historiadores têm mantido que o avivamento wesleyano alterou o curso da história o que livrou a Inglaterra de uma revolução sangrenta. Leliévre afirma que “todos os historiadores concordam que, embora o século XVIII fosse para a Europa continental uma época de dissolução, para a Inglaterra, pelo contrário, foi o momento de uma benéfica mudança, que regenerou a vida de uma nação e iniciou uma era inteiramente nova”.i Edmundo Scherer referiu-se ao metodismo como o movimento que transformou a face da Inglaterra e, Cornélio de Witt disse que, se a Inglaterra de seus dias não se parecia mais com a Inglaterra do início do século XVIII , este fato devia-se principalmente a Wesley.ii Lelièvre comenta ainda que “o nível moral da nação elevou-se de tal modo, que necessariamente se impôs na própria aristocracia, livrando-a da corrupção.iii Seria possível sonhar que o mesmo acontecesse no Brasil?

Quem poderia dizer o que seria se o movimento metodista tivesse ido ainda mais a fundo em questões sociais e se tivesse feito uma melhor crítica do sistema capitalista de livre iniciativa, e se também não tivesse entrado em declínio anos depois da morte de Wesley? Será que seria ingênuo de nossa parte supor que Marx não teria tido tanta inspiração assim para dizer que a religião é o ópio do povo? Sabemos que um século após, Karl Marx irá fazer uma crítica ao capitalismo, mas só que com uma base não muito cristã. Tem sido dito que o avivamento wesleyano salvou a Inglaterra de uma revolução política. Seria possível que uma ainda mais radical ética social no Metodismo poderia ter salvado o mundo de uma revolução comunista, por fazê-la simplesmente desnecessária?iv
Vimos aqui alguns fatores que contribuíram para o poderoso ministério de Wesley: sua experiência de avivamento espiritual, sua consagração à missão da Igreja, o dinamismo de seu ministério que concedia participação aos leigos, num sistema de discipulado em grupos pequenos, com uma teologia que cria no poder da graça para transformação de indivíduos, famílias, bairros, cidades e da sociedade como um todo. Trataremos a seguir, com mais detalhes, da importância do sistema de classes no movimento wesleyano para a edificação de comunidades cristãs que tinham como propósito viver e expressar os valores do Reino de Deus.

i Lelièvre, Mateo. João Wesley, sua vida e sua obra. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 1997. P. 371.
ii Ibdem, p. 372. citando: La Societé francaise e la société anglaise au XVIII siècle, p. 237.
iii Lelièvre, Mateo. João Wesley, sua vida e sua obra. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 1997. P. 373.
iv Snyder, Howard A. The Radical Wesley and Patterns fo Church Renewal. Eugene, OR: Wipf and Stock Publishers, 1998, p. 158.

Wesley e os grupos pequenos como modelo cultural do Reino de Deus

Wesley preocupou-se com estruturas, buscou estruturas para envangelizar as massas e também para discipulado. Wesley pesquisou entre moravianos e pietistas. A questão chave para a edificação de uma Igreja com uma comunhão saudável que vive, nutre e reflete os valores do Reino de Deus foi, no movimento Wesleyano, o sistema de classes ou pequenos grupos de discipulado e santificação. O pequeno grupo é importante, pois transmite fé e não apenas conhecimento. Aprendemos muito mais através do convívio do que através da leitura. O poder da cultura é maior do que a força de nossa cosmovisão. O que significa que não adianta mudar nossa consciência, pois sozinha a consciência tende a sucumbir à cultura.

Um cristão pode até estar influenciado pelo ensino bíblico a mudar o seu estilo de vida, mas quando se depara com outros cristãos que estão vivendo em pecado assim como ele, acaba concluindo que não há nada de errado com ele.

Portanto, precisamos desenvolver a cultura cristã em comunidades que nutram os valores cristãos, onde seja possível experimentar na vivência comunitária os princípios do Reino de Deus. Por exemplo, para reverter a maré do materialismo na comunidade cristã, nós precisamos desesperadamente de modelos vivos. Por esta razão, as boas obras de caridade não devem permanecer em segredo. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5:16).

Snyder concorda com Richard Lovelace, que vê uma íntima relação entre o declínio do grande movimento metodista com o desprezo com que, com o passar do tempo, começou a ser tratada a estrutura das classes.i Não se deve desprezar o valor precioso papel destes pequenos grupos de apoio e cuidados mútuos, que promovem um ambiente acolhedor, solidário e favorável, para o desenvolvimento da cultura e dos valores do Reino de Deus, através também de uma série e salutar ordem disciplinar, com exortação em amor, oração em favor uns dos outros e estímulos mútuos para o desenvolvimento do caráter cristão pessoal e comunitário. Snyder chama a atenção para a necessidade que estes pequenos grupos tem de algo que vá além da mera comunhão, estudo e oração. Ele lembra que o sistema metodista implantado por Wesley demonstra o valor imprescindível de estruturas normativas para disciplina e missão, algo como um pacto de membros e supervisão dentro do grupo e de disciplina e supervisão do grupo e seus líderes ao grupo mais amplo da Igreja, etc.ii

Uma revolução pode acontecer através de uma viva e efetiva luta em favor de justiça social, que começa com a edificação de uma comunidade de fé bíblica formada por discípulos cristãos.iii Estes pequenos núcleos são como sementes do Reino de Deus que germinam e impactam o mundo ao seu redor. Podemos pensar em algo como uma revolução espiritual de caráter contracultural que através da radicalização de suas ações e palavras, de modo que estejam comprometidas com os valores do Evangelho do Reino, a Igreja possa, com autoridade, desafiar o espírito de pecado e injustiça que tem dominado a sociedade em geral.

As classes caíram em desuso pelas seguintes razões: por causa da prosperidade dos metodistas, urbanização, mudança das reuniões das casas para igrejas; porque não se respeitou o número em torno de 12 pessoas (o número cresceu); e também por causa da profissionalização do ministério, que tornou o ministério algo um tanto elitista.

Agora, outra característica do movimento wesleyano, que merece destaque por sua tremenda contribuição ao desenvolvimento de comunidades cristãs que cumprissem sua missão de ser sal da terra e luz do mundo, foi a efetiva participação dos leigos. Leia a respeito em: Wesley e a participação dos leigos na expansão do Reino.


i Snyder, Howard A. The Radical Wesley and Patterns fo Church Renewal. Eugene, OR: Wipf and Stock Publishers, 1998, p. 149.
ii Snyder, Howard A. The Radical Wesley and Patterns fo Church Renewal. Eugene, OR: Wipf and Stock Publishers, 1998, p. 162.
iii Snyder, Howard A. The Radical Wesley and Patterns fo Church Renewal. Eugene, OR: Wipf and Stock Publishers, 1998, p. 165.

Wesley e a participação dos leigos na Missão

A Reforma protestante ergueu a bandeira em defesa do sacerdócio universal de todos os crentes, mas foi no movimento wesleyano que vimos isto se dar na prática. Wesley, durante seu ministério, chegou à conclusão de que os leigos poderiam e deveriam exercer o ministério sacerdotal. Isto foi fundamental para o crescimento quantitativo e qualitativo do movimento wesleyano e para o sucesso de sua missão. Pois, para que a Igreja possa exercer sua missão de modo integral, é indispensável que a missão seja entendida como ministério de cada crente e não fique restrita a uma elite de obreiros ordenados. Vejamos como foi que Wesley procedeu na designação de líderes para agir como pastores seculares, chegando a ponto de ordenar os pregadores comissionados.
O processo de criação de novas lideranças de Wesley era assim: Cada líder de classe possuía um assistente. Os que eram treinados tornavam-se pregadores leigos, e, sendo bem sucedidos, conquistavam o reconhecimento e o direito de serem ordenados pastores. Suzana, mãe de João Wesley, disse a ele, apontando para um leigo: “aquele leigo pode pregar tão bem quanto você! Deixe-o pregar!” Três meses como membro de uma classe para se tornar membro de uma sociedade, mas, mesmo assim, continuavam freqüentando as classes. Os líderes de uma classe, também participavam de uma outra classe com cristãos mais maduros que ele e assim por diante. Lelièvre ressalta que Wesley tinha muito interesse no desenvolvimento intelectual de seus assistentes leigos, exortando-os sempre para que se dedicassem aos estudos e, sempre que possível, ele se reunia com um grupo para lhes transmitir conhecimentos. Certa vez, Wesley comentou: “estudei, em companhia de alguns jovens, um compêndio de retórica e outro de ética. Não vejo por que um homem de inteligência mediana não possa aprender em seis meses melhor filosofia do que aquela que se aprende em Oxford em quatro ou até mesmo sete anos.”i

A missão da Igreja, portanto, não deve ser encarada como privilégio de um pequeno grupo de ministros ordenados ou como algo destinado para aqueles que recebem um chamado para o campo missionário no exterior. O cristão é missionário por excelência, onde quer que esteja, e não um cliente dos produtos da fé. Todos os membros da Igreja, sem exceção, por terem sido integrados no corpo, receberam dons e ministérios. A função dos líderes maduros da Igreja é equipar homens e mulheres para a missão da Igreja no mundo. Pois a Igreja não existe como um fim em si mesma, mas existe para servir a Deus no mundo na proclamação e expansão do Evangelho do Reino de Deus, por palavras e boas obras, o que implica a participação ativa e construtiva de cada cristão, homens e mulheres, jovens e idosos, cultos e incultos, pobres e ricos... Por falar em mulheres, Wesley, contrariando a opinião geral de seu tempo, autorizou que as mulheres pregassem, o que abriu portas para que a Igreja Metodista viesse a ordenar mulheres ao ministério pastoral.ii

Portanto, concluímos que, se quisermos servir a comunidade, teremos contar com a participação da Igreja como um todo, de cada membro, com os seus dons e talentos. Dons 1 Co 12, Rm 12, Ef 4, 1 Pe 5.10-11. Capacidades, dons e ministérios que Deus dá ao seu povo para servir. Problema é não dar ênfase em dons como o de serviço ou de socorro. Importante tomar consciência do sacerdócio universal de todos os crentes. Há uma relação entre o sacerdócio e os dons, que são essenciais para o exercício de seu ministério. As pessoas precisam ser ajudadas a descobrirem os seus dons, e os pastores e líderes precisam também ajudar os crentes a afirmar seus dons e desenvolver seus dons, com o intuito de beneficiar os outros. A Igreja é uma comunidade de dons, uma comunidade de ministério. O problema é quando o pastor monopoliza os dons. Uma Igreja pastorcentrica acaba deixando de ser Cristocêntrica. Mas Cristo reparte dons, promovendo a democratização do ministério. Afirmar o sacerdócio universal da Igreja não é o mesmo que dizer que todos são pastores, pois existem alguns com dons e chamados para esta função em especial, assim como existem outros dons e ministérios. O pastor deve reconhecer suas limitações, pois não tem todas os dons, nem todas as respostas. Precisamos uns dos outros. Um bom lema para equipe pastoral está em 1 Pedro 5.1-4, onde Pedro diz que é presbítero com eles, apela para uma ação não autoritária e não por interesse financeiro. Conceito colegial de pastorado com a descrição de suas tarefas.

O crente deve exercer a sua missão a semelhança de Cristo que se encarnou e habitou entre nós. Isto implica na necessidade da presença do povo de Deus na comunidade e de identificação com a comunidade em termos de serviço e compreensão e participação nos sofrimentos. Transmitindo as bênçãos do Evangelho através das boas obras e do ensino da Palavra, com vistas à transformação de indivíduos e da própria comunidade onde está inserido.

O crescimento numérico não deve ser o propósito número um da Igreja, mas sim o crescimento natural que se dá através da preocupação com a sua saúde, assim como uma árvore que, em boas condições, cresce até certa dimensão normal para o seu tipo. Não se espera que cresça mais que isto. Ou seja, não é um crescimento ilimitado em si mesma. O importante é que existam muitas árvores, um bosque ou uma floresta. Multiplicação em diferentes lugares da cidade, vivendo o testemunho do Evangelho. Isto sim é muito mais importante do que mega igrejas, que costumam gerar pouca oportunidade de participação para os membros, o que produz muitos crentes de arquibancada, que só assistem. Mega igrejas têm a ver com ambições financeiras e preocupação com fama e reputação baseada em números. Por isto, como já vimos neste trabalho, temos a necessidade de promover estruturas que facilitem o crescimento integral da Igreja. Grupos pequenos, caseiros. Os templos são prescindíveis. Consciência de que ingressar na Igreja não é entrar dentro de um templo e também não significa em entrar num clube religioso, mas, sim, num grupo de missão para servir a sociedade.
Todos os membros da Igreja deveriam participar de cursos bíblicos e teológicos. Desenvolver capacidade de refletir sobre a fé e relacioná-la com a vida prática. Mas, hoje, estão até acabando com a Escola Dominical, alegando a necessidade de mais espaço para adoração e estão cada vez mais reduzindo o período de pregação e estudo. Mas o púlpito deve ser uma cátedra, um lugar de ensino. Não deve ser monopólio do pastor, outros devem ser treinados para fazer o mesmo. Exposição de todo o conselho de Deus. A leitura é um meio de graça. O povo precisa aprender a ler. Tomar gosto pela leitura. Isto facilita o trabalho pastoral. Lêem um livro e depois conversam sobre suas impressões e lições. Estamos conscientes da necessidade da docência, não apenas formal, mas informal, e através do exemplo ao estilo de Jesus, na vida prática. Tal ensino marca a vida das pessoas. Outro tipo de docência que tem ainda maior alcance é aquela dirigida para fora da Igreja e que está vinculada à tarefa profética. Como conseguir que a Igreja se pronuncie a respeito de assuntos éticos relevantes a sociedade? Uma Igreja que se põe a serviço do bairro. A Igreja existe para servir e faz isto para a glória de Deus. A Igreja precisa estar presente no bairro num sentido construtivo onde a evangelização se dá no contexto do convívio em meio ao serviço.

i Lelièvre, Mateo. João Wesley, sua vida e sua obra. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 1997. P. 165. Citando Diário de Wesley, 4 de março de 1747.
ii Lelièvre, Mateo. João Wesley, sua vida e sua obra. Tradução de Gordon Chown. São Paulo: Editora Vida. 1997. P. 230.

Ouça esta palestra sobre o tremendo impacto social do ministério de João Wesley:




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