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Unicismo: Uma Análise Histórica e Bíblica


Por José Ildo Swartele de Mello

Introdução

Unicismo, também conhecido como Modalismo ou Teologia da Unicidade, é uma doutrina que afirma que Deus é uma única pessoa que se manifesta em diferentes modos ou formas, como Pai, Filho e Espírito Santo. Esta visão contrasta com a doutrina tradicional da Trindade, que sustenta que Deus é um único ser existente eternamente em três pessoas distintas e coiguais. Este estudo busca analisar a história do Unicismo, suas bases bíblicas alegadas, fornecer respostas a essas alegações e apresentar argumentos bíblicos sólidos contra essa doutrina, visando esclarecer a ortodoxia cristã sobre a natureza de Deus.

I. História do Unicismo e sua Condenação como Heresia

A. Origens Históricas

  • Século III: O Unicismo tem suas raízes no Modalismo do século III, associado a teólogos como Noeto de EsmirnaPráxeas e especialmente Sabelio.
    • Práxeas: Ensinava que o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram manifestações temporárias de um único Deus.
    • Sabelio: Propôs que Deus se revelou como Pai na criação, como Filho na redenção e como Espírito Santo na santificação.

B. Condenação como Heresia

  • Concílio de Niceia (325 d.C.):
    • Embora focado no Arianismo, o Concílio também rejeitou o Modalismo, afirmando a coexistência e coeternidade das três pessoas da Trindade.
  • Credo Niceno-Constantinopolitano (381 d.C.):
    • Estabeleceu de forma mais clara a doutrina trinitária, condenando heresias que negavam a distinção das pessoas divinas.
  • Pais da Igreja:
    • Tertuliano escreveu "Contra Práxeas", defendendo a Trindade e refutando o Modalismo.
    • Hipólito de Roma também combateu o Modalismo em suas obras.

II. Igrejas Unicistas no Brasil

  1. Igreja Pentecostal Unida do Brasil (IPUB)
    • Afiliada: United Pentecostal Church International (UPCI), dos EUA.
    • Doutrina: Batismo em nome de Jesus somente; nega a Trindade.
  2. Igreja Pentecostal Voz da Verdade
    • Conhecida: Ministério musical influente.
    • Doutrina: Teologia unicista expressa em ensinamentos e músicas.
  3. Igreja Apostólica do Brasil
    • Enfoque: Batismo em nome de Jesus e ênfase em santidade.
    • Doutrina: Segue a teologia unicista.

Observação: Essas igrejas enfatizam a necessidade do batismo em nome de Jesus somente e interpretam as manifestações de Deus como modos de um único ser, não como três pessoas distintas.

III. Bases Bíblicas Alegadas pelo Unicismo e Respostas

A. Textos Alegados

  1. Deuteronômio 6:4
    • Texto: "Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único SENHOR."
    • Alegação Unicista: Afirma a unicidade absoluta de Deus.
    • Resposta: A Trindade concorda com a unicidade de Deus em essência. A pluralidade está nas pessoas, não na essência.
  2. Isaías 9:6
    • Texto: "... e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz."
    • Alegação Unicista: Jesus é chamado de "Pai", indicando que Ele é o próprio Pai.
    • Resposta: "Pai da Eternidade" pode ser interpretado como "Pai Eterno" ou "Fonte da Eternidade", indicando a natureza eterna do Messias, não que Ele seja o Pai na Trindade.
  3. João 10:30
    • Texto: "Eu e o Pai somos um."
    • Alegação Unicista: Jesus e o Pai são a mesma pessoa.
    • Resposta: O termo grego "hen" (um) indica unidade em essência, não identidade pessoal. O contexto mostra distinção entre o Pai e o Filho.
  4. Colossenses 2:9
    • Texto: "Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade."
    • Alegação Unicista: Toda a divindade está em Jesus, eliminando a distinção de pessoas.
    • Resposta: Afirma a plena divindade de Cristo, mas não nega a existência do Pai e do Espírito Santo. A Trindade reconhece a natureza divina completa em cada pessoa.
  5. João 14:9
    • Texto: "Quem me vê a mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?"
    • Alegação Unicista: Jesus está afirmando que Ele é o Pai.
    • Resposta: Jesus está revelando o Pai através de Sua própria pessoa e obra, mas não está negando a distinção entre as pessoas da Trindade. Ele é a imagem visível do Deus invisível (Colossenses 1:15).
  6. João 14:16-18
    • Texto: "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito da verdade... Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós."
    • Alegação Unicista: Jesus é tanto o Pai quanto o Espírito Santo, uma vez que Ele promete voltar como o Consolador.
    • Resposta: Jesus está referindo-se ao envio do Espírito Santo como um Consolador distinto. A Trindade ensina que o Espírito Santo é uma pessoa distinta, mas plenamente divino, assim como o Pai e o Filho.
  7. 1 Timóteo 3:16
    • Texto: "E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne, foi justificado em espírito, visto dos anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido acima na glória."
    • Alegação Unicista: Deus Pai se manifestou em carne como Jesus, eliminando a necessidade de uma distinção trinitária.
    • Resposta: O versículo afirma a encarnação de Jesus, que é plenamente Deus, mas isso não exclui a distinção entre as pessoas da Trindade. O Pai continua sendo distinto do Filho, mesmo após a encarnação.
  8. João 8:58
    • Texto: "Antes que Abraão existisse, Eu Sou."
    • Alegação Unicista: Jesus está identificando-se como o único e mesmo Deus, o "Eu Sou" de Êxodo 3:14, igual ao Pai.
    • Resposta: Este versículo afirma a divindade de Cristo e Sua preexistência, mas não implica que Ele seja a mesma pessoa que o Pai. É uma afirmação de Sua coeternidade com o Pai.
  9. Apocalipse 1:8
    • Texto: "Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, diz o Senhor, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-poderoso."
    • Alegação Unicista: Jesus se identifica como o Todo-poderoso, o que significa que Ele é o próprio Deus Pai.
    • Resposta: Jesus é plenamente Deus, mas o uso do título "Todo-poderoso" não implica a ausência de distinção entre as pessoas da Trindade. Ele é divino junto com o Pai e o Espírito Santo, compartilhando a mesma essência divina.
  10. João 1:1, 14
    • Texto: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. [...] E o Verbo se fez carne e habitou entre nós."
    • Alegação Unicista: O Verbo sendo Deus e tornando-se carne em Jesus indica que Jesus é a única manifestação de Deus, eliminando a distinção de pessoas.

o   Resposta: A passagem distingue o Verbo (Jesus) de Deus Pai, mostrando uma relação entre eles. O "Verbo estava com Deus" indica uma distinção pessoal, enquanto "o Verbo era Deus" afirma a plena divindade de Cristo. Isso não elimina a Trindade, mas reafirma a divindade de Cristo enquanto pessoa distinta do Pai.

  1. 2 Coríntios 3:17

o   Texto: "Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade."

o   Alegação Unicista: Jesus é identificado como o Espírito, o que sugere que Ele é o próprio Espírito Santo, negando a distinção de pessoas.

o   Resposta: Este versículo fala da obra do Espírito de Cristo em conexão com a obra do Espírito Santo, mas não afirma que Jesus e o Espírito são a mesma pessoa. A Trindade reconhece uma unidade na ação divina, mas ainda mantém a distinção entre as pessoas.

  1. Isaías 44:6

o   Texto: "Assim diz o SENHOR, Rei de Israel, seu Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro, e eu sou o último, e além de mim não há Deus."

o   Alegação Unicista: Este versículo, junto com outros textos do Antigo Testamento, como Isaías 43:10-11, é usado para afirmar a unicidade absoluta de Deus, sem qualquer distinção de pessoas.

o   Resposta: A Trindade concorda com a unicidade de Deus em essência. O conceito trinitário não contradiz a afirmação de que Deus é único, mas revela que essa única essência divina existe em três pessoas distintas.

  1. Mateus 28:19 e Atos 2:38

o   Textos:

o   Mateus 28:19: "Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo."

o   Atos 2:38: "Pedro respondeu: Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados, e vocês receberão o dom do Espírito Santo."

o   Alegação Unicista: Os unicistas argumentam que o batismo deve ser feito exclusivamente "em nome de Jesus", como em Atos 2:38, o que indicaria que Jesus é a única manifestação de Deus, eliminando a necessidade de uma fórmula trinitária.

o   Resposta: A fórmula trinitária de Mateus 28:19 reflete a distinção entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, enquanto o batismo em nome de Jesus em Atos 2:38 reconhece a autoridade de Cristo. Os batismos em nome de Jesus enfatizam o papel de Cristo na redenção, mas não negam a fórmula trinitária, que continua sendo a instrução completa dada por Jesus. A patrística, que abrange os escritos dos primeiros pais da igreja, enfatiza de forma unânime a fórmula trinitária para o batismo, conforme estabelecida por Jesus em Mateus 28:19. Textos como a Didachê (século II) já mencionavam o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e teólogos como Justino Mártir, Irineu de Lyon, Tertuliano, Hipólito de Roma, Cipriano de Cartago e Orígenes defendiam essa prática como essencial. Eles refutavam heresias que negavam a Trindade e argumentavam que a fórmula trinitária é central para a ortodoxia cristã e para a verdadeira iniciação na fé.

 

B. Respostas Gerais

·       Contexto Bíblico: Muitas passagens enfatizam a unidade de Deus em essência, mas também revelam a pluralidade de pessoas.

·       Análise Linguística: Termos hebraicos e gregos usados para "Deus" frequentemente permitem uma compreensão plural dentro da unidade (ex.: "Elohim" é plural).

IV. Bases Bíblicas e Argumentos Contra o Unicismo

Trindade é a doutrina cristã que afirma que Deus é um em essência e três em pessoas: o Pai, o Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo. Embora a palavra "Trindade" não apareça na Bíblia, essa doutrina explica o testemunho bíblico sobre Deus. A Bíblia ensina que há um só Deus (Deuteronômio 6:4; Tiago 2:19), mas revela que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são igualmente Deus, compartilhando a mesma natureza divina. O Pai é chamado Deus (1 Coríntios 8:6), o Filho é descrito como Deus (João 1:1, Colossenses 2:9, Hebreus 1:8), e o Espírito Santo também é Deus (Atos 5:3-4; 1 Coríntios 3:16). A distinção entre as três pessoas é evidente, como no batismo de Jesus, onde o Pai fala dos céus, o Filho é batizado, e o Espírito desce sobre Ele em forma de pomba (Mateus 3:16-17). Na salvação, o Pai envia o Filho (João 3:16), o Filho se encarna e realiza a obra redentora (João 1:14; Filipenses 2:6-8), e o Espírito Santo habita nos crentes, aplicando essa obra (Efésios 1:13-14; João 14:26). Jesus também destacou a distinção das três pessoas ao ordenar o batismo "em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mateus 28:19), e Paulo faz referência à Trindade em sua bênção em 2 Coríntios 13:14. Esses textos mostram que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são pessoas distintas e divinas, unidas em um só Deus.

 

A. Distinção entre as Pessoas da Trindade

  1. Batismo de Jesus (Mateus 3:16-17)
    • Evento: Jesus é batizado, o Espírito desce como pomba, e o Pai fala dos céus.
    • Análise: As três pessoas são manifestas simultaneamente e distintamente.
  2. A Grande Comissão (Mateus 28:19)
    • Texto: "Portanto, ide, fazei discípulos... batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo."
    • Análise: Jesus ordena o batismo em nome das três pessoas distintas.

B. Diálogos entre o Pai e o Filho

  1. João 17:5
    • Texto: "E agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com a glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse."
    • Análise: Indica uma relação pessoal e distinta entre o Pai e o Filho pré-existente à criação.
  2. Hebreus 1:8
    • Texto: "Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos..."
    • Análise: O Pai chama o Filho de Deus, mostrando distinção pessoal.

C. Uso de Pronomes e Termos Plurais

  1. Gênesis 1:26
    • Texto: "E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem..."
    • Análise: O plural "façamos" sugere comunicação interna na Divindade.
  2. Isaías 6:8
    • Texto: "A quem enviarei, e quem há de ir por nós?"
    • Análise: O uso de "nós" indica pluralidade.

D. Ensinamentos Apostólicos

  1. 2 Coríntios 13:14
    • Texto: "A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós."
    • Análise: Paulo distingue as três pessoas e suas respectivas ações na vida dos crentes.

 

  1. 1 Pedro 1:2
    • Texto: "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo..."
    • Análise: Pedro reconhece as três pessoas em relação à salvação.

V. Análise Teológica

  • Coeternidade e Coigualdade: A doutrina trinitária afirma que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são eternos e iguais em poder e glória.
  • Herança da Igreja Primitiva: Os Pais da Igreja defenderam a Trindade contra heresias que negavam a divindade de Cristo ou a personalidade do Espírito Santo.
  • Perigos do Unicismo:
    • Soteriologia: Pode afetar a compreensão da obra redentora de Cristo.
    • Comunhão com Deus: Distorce a relação entre o crente e as distintas pessoas da Divindade.

VI. Implicações Práticas

  • Adoração: A Trindade enriquece a adoração cristã, permitindo relacionar-se com cada pessoa divina.
  • Oração: Seguimos o modelo bíblico de orar ao Pai, em nome do Filho, pelo poder do Espírito Santo.
  • Comunhão Eclesiástica: A compreensão correta da natureza de Deus é fundamental para a unidade da fé.

VII. Conclusão

O Unicismo representa uma interpretação da natureza de Deus que diverge da ortodoxia cristã histórica e bíblica. Ao examinar as Escrituras em seu contexto completo, evidencia-se a distinção e comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. A doutrina da Trindade, embora complexa, busca ser fiel ao testemunho integral da revelação divina, preservando o mistério e a majestade da natureza de Deus.

Notas Finais

Este estudo procurou analisar de forma aprofundada e respeitosa as alegações do Unicismo, confrontando-as com a interpretação histórica e bíblica da natureza de Deus. A compreensão correta da Trindade é essencial para a fé cristã, influenciando nossa adoração, vida espiritual e comunhão com Deus. É fundamental abordar tais questões com seriedade teológica e compromisso com a verdade revelada nas Escrituras. Para um aprofundamento mais abrangente, apresentamos a seguir um estudo detalhado em defesa da doutrina da Trindade.

 

 


 

A Doutrina da Trindade

Introdução

Trindade é a doutrina central da fé cristã que descreve Deus como um único ser eterno, existente em três pessoas distintas: o Pai, o Filho (Jesus Cristo) e o Espírito Santo. Embora a palavra "Trindade" não apareça nas Escrituras, este conceito emergiu como a melhor explicação para o amplo testemunho bíblico sobre a identidade e a natureza de Deus.

Este estudo busca esclarecer a doutrina da Trindade, abordando sua fundamentação bíblica e histórica, com o objetivo de instruir cristãos que tenham dúvidas a respeito. Analisaremos como a Bíblia revela Deus como Pai, Filho e Espírito Santo, e como essa compreensão se desenvolveu na teologia cristã ao longo dos séculos.


I. A Unicidade de Deus

Antes de explorar a natureza triúna de Deus, é fundamental afirmar a unicidade de Deus, um princípio claro nas Escrituras:

  • Deuteronômio 6:4: "Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor."
  • Isaías 42:8: "Eu sou o Senhor, este é o meu nome; a minha glória, pois, não darei a outrem."
  • Tiago 2:19: "Crês tu que Deus é um só? Fazes bem."

A Bíblia ensina enfaticamente que existe apenas um Deus. Esta é a base do monoteísmo cristão.


II. O Pai, o Filho e o Espírito Santo como Deus

Apesar da afirmação da unicidade de Deus, as Escrituras também atribuem divindade ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

A. O Pai é Deus

  • João 6:27: Jesus se refere a Deus como "Pai", destacando um relacionamento íntimo.
  • 1 Coríntios 8:6: "Todavia, para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas."

B. O Filho é Deus

  • João 1:1: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus."
  • Colossenses 2:9: "Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade."
  • Tito 2:13: "Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo."

C. O Espírito Santo é Deus

  • Atos 5:3-4: Ananias mente ao Espírito Santo, e Pedro afirma que ele mentiu a Deus.
  • 2 Coríntios 3:17: "Ora, o Senhor é o Espírito; e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade."

III. Distinção entre as Pessoas da Trindade

As três pessoas da Trindade são distintas, não são meras manifestações ou máscaras de um único ser.

A. Interação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo

  • Mateus 3:16-17: No batismo de Jesus, o Filho é batizado, o Espírito desce como pomba e o Pai fala dos céus: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo."
  • João 14:16-17: Jesus promete pedir ao Pai que envie outro Consolador, o Espírito da verdade.

B. Funções Distintas em Unidade

Embora compartilhem a mesma essência divina, o Pai, o Filho e o Espírito Santo operam de maneiras distintas, mas sempre em perfeita harmonia.

  • Efésios 2:18: "Porque por ele [Filho] ambos temos acesso ao Pai em um Espírito."
  • 1 Pedro 1:2: "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo."

IV. A Trindade no Antigo Testamento

Embora a revelação da Trindade seja mais clara no Novo Testamento, o Antigo Testamento contém indicações da natureza triúna de Deus.

A. Uso de Pluralidade

  • Gênesis 1:26: "E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança."
  • Gênesis 11:7: "Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem."

O uso de pronomes no plural sugere uma pluralidade dentro da unidade divina.

B. A Palavra e a Sabedoria de Deus

  • Provérbios 8:22-31: A Sabedoria é personificada e descrita como existente desde a eternidade, atuando na criação.
  • Salmos 33:6: "Pela palavra do Senhor foram feitos os céus."

Estas personificações apontam para o papel do Filho na criação.

C. O Espírito de Deus

  • Gênesis 1:2: "E o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas."
  • Isaías 61:1: "O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu."

O Espírito Santo está ativo na criação e na capacitação de líderes e profetas.


V. A Trindade no Novo Testamento

O Novo Testamento revela plenamente a natureza triúna de Deus.

A. A Encarnação do Filho

  • João 1:14: "E o Verbo se fez carne e habitou entre nós."
  • Mateus 1:23: "Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e chamá-lo-ão pelo nome de Emanuel, que traduzido é: Deus conosco."

Jesus, o Filho de Deus, veio ao mundo para revelar o Pai e realizar a redenção.

B. A Promessa do Espírito Santo

  • João 14:26: "Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas."
  • Atos 2:33: Após a ascensão de Jesus, o Espírito Santo é derramado sobre os crentes no Pentecostes.

C. A Grande Comissão

  • Mateus 28:19: "Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo."

Jesus instrui os discípulos a batizar em nome das três pessoas da Trindade, enfatizando sua unidade e distinção.


VI. Aplicações da Doutrina da Trindade

A. Experiência Cristã

  • Adoração: Os cristãos adoram a Deus em Sua plenitude trinitária, reconhecendo o papel do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
  • Oração: Geralmente oramos ao Pai, em nome do Filho, pelo poder do Espírito Santo.
  • Salvação: O Pai envia o Filho para redimir, e o Espírito Santo aplica a obra redentora nos corações.

B. Unidade na Diversidade

A doutrina da Trindade nos ensina sobre a unidade perfeita em meio à diversidade, servindo como modelo para relacionamentos interpessoais e comunitários dentro da igreja.


VII. Analogias da Trindade

Embora limitadas, algumas analogias podem ajudar a compreender a Trindade:

  • Deus como Amor: Assim como o amor requer um amante, um amado e o amor compartilhado, Deus é uma comunhão eterna de amor entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

VIII. Desenvolvimento Histórico da Doutrina

A doutrina da Trindade foi formalmente articulada nos primeiros séculos da igreja em resposta a heresias que negavam aspectos da natureza divina de Cristo e do Espírito Santo.

  • Concílio de Niceia (325 d.C.): Afirmou a divindade do Filho, consubstancial com o Pai.
  • Concílio de Constantinopla (381 d.C.): Confirmou a divindade do Espírito Santo.

Os Credos resultantes destes concílios, como o Credo Niceno-Constantinopolitano, estabeleceram a compreensão ortodoxa da Trindade que a igreja mantém até hoje.


IX. Heresias Relacionadas à Trindade

  • Modalismo (Unicismo): Afirma que Deus é uma única pessoa que se manifesta em modos diferentes. Esta visão é rejeitada porque nega a distinção das pessoas na Trindade.
  • Arianismo: Negava a divindade plena do Filho, vendo-o como uma criatura exaltada. Também rejeitado pela igreja.

X. A Trindade e Outras Religiões

A doutrina da Trindade distingue o Cristianismo de outras religiões monoteístas:

  • Judaísmo e Islamismo: Rejeitam a Trindade e a divindade de Jesus e do Espírito Santo.
  • Testemunhas de Jeová e Mormonismo: Têm crenças divergentes sobre a natureza de Deus e não aderem à doutrina trinitária ortodoxa.

XI. Conclusão

Trindade é essencial para a fé cristã, pois reflete a maneira como Deus se revelou nas Escrituras e na experiência dos crentes. Embora seja um mistério que excede a compreensão humana completa, a doutrina da Trindade nos permite compreender e relacionar-nos com Deus de forma mais profunda e significativa.


Bibliografia

  • Almeida, João Ferreira de. Bíblia Sagrada: Tradução João Ferreira de Almeida, Revista e Atualizada.
  • Agostinho de Hipona. A Trindade, a Encarnação e a Unidade de Deus.
  • Beisner, E. Calvin. Deus em Três Pessoas.
  • Berkhof, Louis. Teologia Sistemática.
  • Bray, Gerald. “A Trindade.” In Sumário de Teologia Lexham, editado por Brannon Ellis, Mark Ward, e Jessica Parks. Bellingham, WA: Lexham Press, 2018.
  • Credo Niceno-Constantinopolitano, 381 d.C.
  • Credo de Atanásio, século V.
  • González, Justo L. História do Pensamento Cristão.
  • Grudem, Wayne. Teologia Sistemática.
  • Irineu de Lyon. Contra as Heresias.
  • Meeks, Charles. “Trindade.” In Dicionário Bíblico Lexham. Bellingham, WA: Lexham Press, 2020.
  • Morey, Robert. The Trinity: Evidence and Issues.
  • Tertuliano. Contra Práxeas.

 

 

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