Eu aceitei a Jesus quando tinha sete anos. Tudo começou quando minha professora da primeira série me convidou para conhecer uma igrejinha, que ficava na rua de cima da minha casa. Curiosa, eu fui. Era Páscoa de 1979, e quem me recebeu na porta foi o pastor King, um pastor americano muito vermelho por causa do sol. Ele presenteou cada criança com uma caixa de bombom da Lacta. Naquela época, nós éramos muito pobres, e eu fiquei muito feliz com aquele presente.
Com cinco irmãos em casa, minha primeira reação foi correr para compartilhar os bombons com eles. Cheguei em casa toda empolgada e minha mãe logo perguntou: “Onde você arrumou essa caixa de bombom?” Eu expliquei que tinha ganhado na igrejinha, mas minha mãe, desconfiada, disse: “Ah, tá bom, ganhou na igrejinha, de um pastor que nem fala português?” E eu respondi que sim. Então, ela mandou: “Vai devolver isso agora, senão você vai apanhar.”
Com o coração apertado, voltei à igreja para devolver a caixa, mas quando cheguei lá, adivinha? Tudo fechado! Fiquei pensando: “Se eu voltar com essa caixa, o que vai acontecer? Vou apanhar, com certeza!” Então, enquanto caminhava de volta para casa, comecei a ponderar... e bom, adivinha o que fiz? Eu comi todos os bombons! Afinal, se era pra apanhar de qualquer jeito, pelo menos que fosse de barriga cheia! (risos)
Comecei, então, a frequentar aquela igreja Metodista Livre de Jardim Rey. Foi nessa mesma época que tive meu primeiro encontro com Jesus. Eu creio que crianças podem ter um encontro verdadeiro com Cristo, porque eu tive. Assim começou a minha jornada de fé. No entanto, minha família inteira não era evangélica e não aceitava minha conversão. Muitas vezes me chamavam de louca e diziam que eu estava com algum problema, que eu ia abandonar a família, que aquilo era apenas um 'fogo de palha'. Mas eu sabia que não era. Eu realmente tinha encontrado Cristo.
Desde criança, eu sempre tive o profundo desejo de me batizar, mas meus pais nunca me deram autorização. Toda vez que a igreja oferecia um curso de batismo, lá estava eu, cheia de esperança, participando das aulas. Mesmo sabendo que não tinha a permissão deles, eu insistia, na expectativa de que, algum dia, eles mudassem de ideia. Com o tempo, já sabia de cor o conteúdo da apostila de tanto refazer o curso! Só na adolescência, depois de anos de perseverança e muita oração, meus pais finalmente permitiram, e eu pude me batizar, realizando o sonho que carregava desde pequena.
Meu pai, que tinha problemas com álcool, foi uma das maiores barreiras. Um dia, ele me proibiu de ir à igreja. Mesmo assim, eu fui escondida, e quando voltei, ele me deixou para fora de casa. Nesse momento, meu pastor, o saudoso pastor Daniel Almeida, me orientou a honrar meu pai, como a Bíblia ensina, mesmo ele não sendo crente. Ele me disse: “Filha, a Bíblia fala para honrar o pai e a mãe, não apenas se eles forem crentes. Então, fique um tempo sem vir à igreja, vamos orar para que Deus mova o coração dele.”
Foram dias difíceis. Eu chorava todo domingo, no horário da Escola Dominical e do culto, porque queria estar na igreja. Mas eu obedeci. Um dia, pensei em como poderia agradar meu pai e comecei a acordar cedo para fazer o café da manhã e levar na cama para ele. Aos poucos, seu coração foi amolecendo. Lembro que, certa vez, perguntei: “Pai, será que eu posso ir só na Escola Dominical?” E, para minha surpresa, ele permitiu.
Porém, o coração dele endureceu de novo, e logo ele proibiu até mesmo a Escola Dominical. Um dia, ele chegou em casa de forma brusca, como um 'gato' que chega e todos os 'ratos' se escondem. Todos foram deitar mais cedo, inclusive eu. Foi então que ouvi meu pai perguntar para minha mãe: “Cadê a Delma?” Pensei que algo ruim estava para acontecer. Quando fui até a cozinha, me senti derrotada, mas obediente. Ele olhou para mim e disse: “Eu estava indo para um lugar perto de casa e, de repente, uma luz muito forte apareceu na frente do carro. Essa luz me disse: ‘Deixe minha filha voltar para a igreja.’”
Foi assim que, finalmente, meu pai permitiu que eu voltasse para a igreja. Desde então, permaneci firme no Senhor, e, com o tempo, recebi o chamado de Deus para o ministério. O mais incrível é que me tornei pastora justamente naquela mesma igreja onde conheci Jesus ainda criança. Essa jornada de fé, que começou tão cedo, continua até hoje, e sou grata a Deus por cada passo que Ele me guiou ao longo do caminho.
Comentários
Postar um comentário