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Congregação Cristã no Brasil: Um Olhar Sobre Sua História, Doutrinas e Práticas


Congregação Cristã no Brasil: Tradição, Transformação e a Caminhada em Direção à Unidade Cristã

Por Bispo Ildo Mello

Resumo Histórico

A Congregação Cristã no Brasil (CCB) foi fundada por Luis Francescon, um imigrante italiano que desempenhou um papel importante na propagação do movimento pentecostal. Francescon nasceu em 1866 na Itália e emigrou para os EUA em 1890, onde se juntou à Primeira Igreja Presbiteriana Italiana de Chicago. Lá, ele atuou como diácono e ancião, mas após estudar Colossenses 2:12, que menciona a "sepultura com Cristo" no batismo, passou a questionar o batismo por aspersão. Em 1903, Francescon e mais 18 membros se batizaram por imersão, o que resultou em seu rompimento com a Igreja Presbiteriana.

Em 1907, Francescon entrou em contato com o movimento pentecostal, foi cheio do Espírito Santo e recebeu o dom de falar em outras línguas. Essa experiência o inspirou a evangelizar a comunidade italiana nos EUA e na América Latina. Francescon chegou ao Brasil em 1910, após ter estabelecido o movimento pentecostal na Argentina, e em Santo Antônio da Platina, no Paraná, formou o primeiro grupo de crentes pentecostais no Brasil. Posteriormente, em São Paulo, ele expandiu sua pregação entre famílias italianas. Atualmente, conta com cerca de 3 milhões de membros em todo o Brasil, distribuídos em mais de 18.000 templos. A maior concentração de igrejas e fiéis está nas regiões Sudeste e Sul, especialmente em estados como São Paulo e Paraná, onde a igreja tem suas raízes históricas. Além do Brasil, a CCB também tem expandido sua presença internacionalmente, alcançando outros países na América Latina, Europa e Estados Unidos.

Doutrinas da Congregação Cristã no Brasil

A Congregação Cristã no Brasil afirma sua crença na Bíblia como a Palavra infalível de Deus e na Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo). Eles acreditam em Jesus Cristo como verdadeiro Deus e homem, na salvação pela fé em Cristo, na necessidade do novo nascimento e regeneração, no batismo por imersão em nome de Jesus e na Trindade, e no batismo do Espírito Santo com evidência de falar em línguas. Defendem a prática da Santa Ceia, abstinência de alimentos sacrificados a ídolos e a crença na cura divina e na segunda vinda de Cristo sobre as nuvens do céu, que promoverá a ressurreição corporal dos mortos, justos e injustos, para o juízo final que definirá o destino eterno dos salvos e dos perdidos.

No entanto, há algumas doutrinas e práticas que se distinguem de outras denominações evangélicas:

1. Relação com as Escrituras: Embora a CCB enfatize que suas práticas são guiadas pelo Espírito Santo, muitas vezes seus líderes e membros desestimulam o estudo formal das Escrituras. Eles acreditam que a pregação deve ser feita sem preparação prévia e que o Espírito Santo guiará o pregador no momento da mensagem. No entanto, a Bíblia enfatiza a importância de meditar e estudar a Palavra. Salmo 1:1-2 nos lembra que o justo "medita na lei do Senhor dia e noite", e 2 Timóteo 2:15 nos instrui a "manejar bem a palavra da verdade". Da mesma forma, 2 Timóteo 3:16-17 afirma que "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino", mostrando que o estudo das Escrituras é essencial para a vida cristã. Deuteronômio 6:6-9 ensina que as palavras de Deus devem ser meditadas e ensinadas continuamente, enquanto Provérbios 7:1-3 exorta a guardar a Palavra no coração. Josué 1:8 incentiva a meditação constante na Lei de Deus, e Atos 2:42 mostra como os primeiros cristãos "se dedicavam ao ensino dos apóstolos". Além disso, 2 Timóteo 4:2 nos ordena a "pregar a Palavra", corrigindo e exortando com paciência e cuidado. Esses textos sublinham que, mesmo com a direção do Espírito Santo, o estudo diligente da Palavra é fundamental para o crescimento espiritual e para uma pregação eficaz do evangelho.

2. Separatismo: A Congregação Cristã no Brasil (CCB), por muitos anos, manteve uma postura exclusivista em relação à salvação, sugerindo que apenas aqueles que pertenciam à sua denominação estavam na verdadeira fé e, portanto, poderiam ser salvos. Essa visão, no entanto, contraria o ensino bíblico sobre a unidade do corpo de Cristo, conforme destacado em passagens como João 17:21 e Efésios 4:4-6, que enfatizam a importância da unidade entre os crentes em Cristo. Felizmente, a posição oficial da CCB tem evoluído recentemente. Um exemplo dessa mudança pode ser visto na declaração da Reunião Geral Anual de Ensinamentos de 2022: Não é correto denominar as igrejas evangélicas de seitas. Essa palavra, neste contexto, designa sistema religioso divergente de religião dominante. Há irmãos membros de igrejas evangélicas que vivenciam a Graça assim como nós; creem em Nosso Senhor Jesus e buscam a salvação na obra redentora de Cristo. De igual modo, jamais devemos cognominar de 'seitários' qualquer cristão, até porque essa palavra não consta do dicionário." Essa declaração representa um avanço em direção a uma maior compreensão e respeito pela diversidade dentro do cristianismo. O documento pode ser consultado na página oficial da CCB: (https://congregacaocristanobrasil.org.br/restrito/assets/img/t/topicos_de_ensinamentos_202204_24.pdf). Com essa mudança, a CCB dá um passo importante no sentido de reafirmar a unidade entre os cristãos e de reconhecer que a salvação em Cristo não está limitada a uma denominação específica.

3. A Congregação Cristã no Brasil (CCB) não reconhece o batismo efetuado por ministros de outras denominações, mesmo que seja por imersão e em nome da Trindade (Mateus 28:19). A principal razão alegada pela CCB é que outras denominações utilizam a fórmula "eu te batizo", o que eles consideram incorreto, acreditando que essa expressão coloca o homem à frente de Deus. Para a CCB, o batismo só é válido com a fórmula: "Em nome do Senhor Jesus, te batizo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo".

4. Uso do véu pelas mulheres: Na Congregação Cristã no Brasil (CCB), as mulheres utilizam o véu durante os cultos, com base em uma interpretação literal de 1 Coríntios 11:5-6. Embora essa prática tenha sido comum em várias igrejas no passado, hoje é rara fora de grupos mais conservadores. A crítica à prática não se concentra tanto no uso do véu em si, mas no fato de a CCB condenar as igrejas que não o adotam, o que reforça seu exclusivismo e postura sectária.

5. Saudação com a "Paz de Deus": A Congregação Cristã no Brasil (CCB) utiliza a saudação "Paz de Deus" em vez de "Paz do Senhor", uma prática comum em muitas igrejas pentecostais e evangélicas. A CCB justifica essa escolha teologicamente, afirmando que Jesus, ao ensinar sobre a paz, se referia à "paz de Deus", conforme mencionado em Filipenses 4:7, que fala sobre "a paz de Deus, que excede todo o entendimento". Para a CCB, essa saudação ressalta a origem divina da paz que Cristo concede, e eles também argumentam que evita ambiguidades, já que afirmam haver "muitos senhores" no mundo, mas apenas um Deus verdadeiro. Entretanto, essa alegação é questionável. O próprio apóstolo Paulo, em 1 Coríntios 8:5-6, reconhece que, embora existam "muitos deuses" e "muitos senhores", para os cristãos há "um só Deus, o Pai, de quem é tudo", e "um só Senhor, Jesus Cristo". Assim, a saudação "Paz do Senhor" é teologicamente válida ao se referir a Jesus, o único Senhor e Príncipe da Paz, que disse: "A minha paz vos dou" (João 14:27). Embora essa distinção entre "Paz de Deus" e "Paz do Senhor" possa parecer uma questão menor de terminologia, reflete uma postura exclusivista da CCB, que se distancia de outras denominações e reforça uma visão sectária em relação às demais igrejas cristãs.

6. Rejeição do evangelismo ativo: A CCB não pratica o evangelismo ativo, acreditando que aqueles que estão destinados à salvação serão levados pelo Espírito Santo até a igreja. Isso é diferente da maioria das denominações cristãs, que seguem o mandamento de Cristo de "ir e fazer discípulos de todas as nações" (Mateus 28:19-20). Essa prática tem sido interpretada por outros grupos como uma negação do papel ativo da Igreja em pregar o evangelho.

Conclusão

A Congregação Cristã no Brasil (CCB) possui uma história rica e profundamente enraizada no movimento pentecostal e na imigração italiana, destacando-se por suas crenças e práticas peculiares. Seu desenvolvimento doutrinário reflete tanto uma busca por uma experiência autêntica com o Espírito Santo quanto uma postura de exclusivismo que a diferenciou de outras denominações cristãs. A ênfase no direcionamento do Espírito Santo para pregações, sem estudo prévio das Escrituras, e a rejeição do evangelismo ativo são exemplos dessa singularidade. Práticas como o uso do véu, a saudação com a "Paz de Deus" e a fórmula exclusiva de batismo reforçam seu caráter distinto e sectário.

Contudo, é digno de celebração o recente avanço em sua postura em relação a outras comunidades cristãs, conforme evidenciado pela declaração oficial de 2022, que expressa um maior respeito e reconhecimento da fé vivida por outros grupos evangélicos. Este é um passo importante em direção à unidade do corpo de Cristo, conforme ensinado nas Escrituras, e sinaliza uma abertura promissora para o diálogo e a colaboração com outras igrejas, superando barreiras que por muito tempo distanciaram a CCB de seus irmãos na fé.

O impacto da CCB no cenário religioso brasileiro é inegável. Como uma das maiores igrejas pentecostais do país, seu crescimento contínuo e o grande número de membros dedicados confirmam sua relevância tanto no Brasil quanto internacionalmente. Louvo a Deus pelas inúmeras vidas que foram transformadas e conduzidas a Cristo por meio do ministério da CCB, reconhecendo seus membros como irmãos em Cristo.

O desafio à frente é harmonizar a preservação de suas tradições com uma postura cada vez mais aberta à unidade cristã, algo essencial para o fortalecimento do corpo de Cristo e a promoção do amor fraternal. A mudança recente demonstra que, com o passar do tempo, a igreja está disposta a evoluir e a reafirmar a importância da unidade na fé. Esse movimento de aproximação com outras denominações traz esperança de que o amor de Cristo, que nos une, será cada vez mais evidenciado, edificando a igreja e glorificando a Deus.

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