quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Salas VIP nas Igrejas

Salas VIP nas Igrejas

Por Bispo José Ildo Swartele de Mello


1. Introdução

Nos últimos tempos, algumas igrejas têm adotado a prática de criar salas VIP para receber convidados especiais ou famosos. Em muitos casos, justificam isso com argumentos de segurança e conforto, alegando que essas pessoas precisam de um lugar reservado onde possam participar do culto sem serem incomodadas. No entanto, essa iniciativa gera perguntas importantes: será que não estamos reforçando as mesmas divisões de status que existem no mundo? Será que a igreja, ao criar espaços exclusivos, não está indo contra o princípio bíblico de que todos somos iguais diante de Deus?

Esta reflexão busca analisar essa questão à luz da história e, principalmente, das Escrituras, mostrando que a fé cristã nos chama a viver como irmãos que se reúnem para adorar a Cristo sem favorecer uns em detrimento de outros.


2. Breve Contexto Histórico: A Luta da Igreja Metodista Livre

O debate sobre privilégios na igreja não é novo. No século XIX, algumas comunidades cristãs financiavam seus templos por meio do aluguel de bancos, ou seja, os assentos das primeiras fileiras ficavam reservados a quem pagasse mais, enquanto os mais pobres ficavam nos fundos ou até mesmo em pé. Em reação a essa prática, surgiu a Igreja Metodista Livre, que ganhou esse nome porque defendia “assentos livres” para todos, independente de classe social. Seus fundadores viam nos bancos pagos uma forma de discriminação totalmente contrária ao evangelho de Jesus Cristo. Por isso, decidiram romper com esse costume, lutando pela igualdade de todos na casa de Deus.

Esse momento histórico serve de alerta para nós hoje: a igreja precisa zelar para que não retorne a práticas que segregam ou dão privilégios, mesmo que apresentadas de maneira mais “moderna” ou “sutil”.

  1. “Crente ostentação” e desvio da missão
  1. Ao criar privilégios exclusivos, corremos o risco de estimular uma mentalidade de ostentação. Em vez de apresentarmos o exemplo de Cristo, que viveu e serviu em humildade, a igreja pode acabar reforçando o desejo de reconhecimento e aplausos. Isso desvia nossa missão, que é anunciar a Cristo e servir uns aos outros (Mc 10:45).
  1. Igreja: lugar de acolhimento e inclusão
  1. A casa de Deus deve ser um espaço em que todos se sintam recebidos de igual forma. Uma igreja que separa áreas para certos grupos pode acabar enviando a mensagem contrária, deixando alguns se sentindo inferiores ou indesejados. O evangelho, no entanto, derruba barreiras de status, pois “todos sois um em Cristo Jesus” (Gl 3:28). Por isso, o culto precisa refletir a unidade do corpo de Cristo, sem elitismos.
  1. Ensinar a não idolatrar pessoas famosas ou ricas
  1. É fundamental que os pastores e líderes orientem a congregação a tratar qualquer pessoa – famosa ou não – com respeito e acolhimento, mas sem bajulação. Muitas celebridades e figuras públicas deixam de frequentar cultos justamente para evitar o assédio e a perturbação. Quando os membros aprendem a agir com naturalidade e bom senso, todos podem adorar a Deus sem distrações. Assim, preservamos a igualdade e também respeitamos a privacidade de quem é conhecido, evitando transformá-los em ídolos. Afinal, adoração é somente ao Senhor (Mt 4:10).
  1. Retorno ao primeiro amor
  1. Em Apocalipse, Jesus chama a igreja de Éfeso a voltar ao primeiro amor (Ap 2:4-5). Esse apelo é válido para nós hoje: precisamos realinhar nossos corações, lembrando que a razão de existir da igreja é adorar a Deus e proclamar Seu reino. Quando essas prioridades são colocadas de lado em favor de aparências ou distinções, perdemos o foco no evangelho genuíno.


3. Análise Bíblica

3.1. Tiago 2:1-9 – A advertência contra favoritismo

A carta de Tiago nos ensina que não podemos combinar fé em Cristo com acepção de pessoas (Tg 2:1-9). Ele descreve a cena de um culto em que alguém rico é tratado de modo especial, enquanto um pobre maltrapilho fica de lado. Segundo Tiago, esse tipo de parcialidade é considerado pecado. Deus não aprova que ofereçamos privilégios para uns e deixemos outros à margem. Se o Senhor nos trata a todos de maneira igual, como ousaríamos, nós, crentes, criar distinções baseadas em aparência, poder ou riqueza?

3.2. Lucas 14:7-11 – O lugar mais humilde

Jesus costumava observar o comportamento das pessoas nos banquetes. Notando que muitos buscavam lugares de destaque, Ele contou uma parábola ensinando que deveríamos escolher os lugares mais humildes (Lc 14:7-11). Assim, se tivermos que ir para a frente, que seja porque fomos convidados, e não porque buscamos destaque. Em vez de disputarmos posições de honra, o evangelho nos chama à humildade. É nessa postura que encontramos o verdadeiro valor diante de Deus.

3.3. Mateus 23:5-7 – O perigo da ostentação espiritual

Jesus criticou duramente os fariseus por amarem “os primeiros lugares” e por fazerem tudo para serem vistos e elogiados (Mt 23:5-7). Esse alerta é importante: a busca por ostentação ou reconhecimento na igreja pode deturpar a verdadeira adoração. Se criamos espaços especiais e exclusivos no culto, podemos estar alimentando uma postura de exibicionismo, algo que vai contra o espírito de simplicidade e serviço que Jesus tanto valorizou.

3.4. Atos 2:44-47 – A comunhão igualitária da igreja primitiva

A igreja nos primeiros capítulos de Atos vivia uma comunhão profunda, partilhando seus bens e a própria vida, sem distinções de classe ou status (At 2:44-47). Essa não é apenas uma história bonita do passado, mas um modelo de como devemos nos relacionar internamente, sempre reforçando a igualdade em Cristo e a unidade entre os membros. Uma área VIP exclusiva dentro do culto contraria esse ideal de comunhão, que vê todos como irmãos, igualmente carentes da graça de Deus.

3.5. Apocalipse 3:14-22 – Laodiceia e a ilusão da riqueza

Quando Jesus fala à igreja de Laodiceia, Ele a repreende por se considerar rica e autossuficiente, embora, na verdade, estivesse espiritualmente pobre (Ap 3:14-22). Essa passagem traz um alerta sério contra a ostentação e a falsa segurança que o status pode gerar. Uma igreja que coloca sua atenção em atrair “gente importante” corre o risco de esfriar espiritualmente e deixar Cristo de fora de seus planos.


4. Implicações Pastorais e Teológicas


5. Conclusão

Qualquer forma de exclusivismo na igreja deve ser repensada à luz da Palavra de Deus. Salas VIP podem parecer uma forma legítima de proteger convidados ilustres, mas podem abrir portas para a ostentação e a divisão entre os irmãos. Se há razões de segurança, que se encontre um jeito discreto e respeitoso de lidar com isso, sem transmitir a ideia de que alguns fiéis merecem mais honra do que outros.

Como pastores e líderes, precisamos zelar pela unidade e simplicidade no corpo de Cristo. Devemos evitar tudo o que “hierarquiza” os membros, pois a igreja é e deve sempre ser uma família, não uma plateia segmentada. Diante de Deus, todos somos igualmente carentes de Sua graça e agraciados pelo sangue de Jesus. Que voltemos ao primeiro amor, honrando a Cristo acima de tudo e vivendo como irmãos sem acepção de pessoas (Tg 2:9).

No fim das contas, cada pessoa – seja rica ou pobre, famosa ou desconhecida – deve encontrar na igreja um ambiente de acolhimento, sem espaços reservados para uns e barreiras para outros. Assim, o evangelho é vivido em toda a sua beleza, e Cristo permanece no centro, como deve ser.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Que teologia é essa?



A Teologia dos Sonhos Terrenos versus a Verdadeira Esperança em Cristo

Bispo Ildo Mello


Atualmente, pregadores da teologia da prosperidade proferem frases polêmicas que afirmam que tudo o que sonhamos, tocamos e sentimos será realizado, pois vem de Deus. Essa mensagem, com seu apelo imediato e atraente, conquista multidões que desejam ver a materialização dos seus sonhos. Contudo, essa abordagem contrasta com o ensinamento central do Evangelho, que é a autonegação, a fidelidade à Palavra e a busca por uma pátria que não é deste mundo (Filipenses 3:20; 1 Pedro 2:11).


1. O Apelo das Promessas de Prosperidade

Muitos pregam que a abundância material e a realização dos sonhos pessoais são sinais inequívocos da bênção divina. Essa visão, exemplificada em frases que exaltam a materialidade e o sucesso imediato, atrai a atenção de uma multidão sedenta por milagres palpáveis – como na multiplicação dos pães e peixes (João 6:1–14) –, satisfazendo necessidades momentâneas.

Entretanto, essa proposta ignora o fato de que somos peregrinos na terra (1 Pedro 2:11; Hebreus 11:13). A realidade da caminhada cristã consiste em viver como estrangeiros e peregrinos, aguardando uma pátria celestial (Hebreus 11:16). 


O peregrino

Fica a reflexão: se o clássico “O Peregrino”, de John Bunyan — o segundo livro mais lido no mundo depois da Bíblia — fosse escrito em nossos dias, será que teria o mesmo impacto?


2. A Advertência de Paulo para os Últimos Dias

O apóstolo Paulo já alertava sobre tempos em que os fiéis se afastariam da sã doutrina, preferindo ouvir doutrinas que agradassem aos ouvidos. 

Em 2 Timóteo 4:1-5, ele declara:

4:1 Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu Reino, peço a você com insistência
4:2 que pregue a palavra, insista, quer seja oportuno, quer não, corrija, repreenda, exorte com toda a paciência e doutrina.
4:3 Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, se rodearão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos.
4:4 Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.
4:5 Mas você seja sóbrio em todas as coisas, suporte as aflições, faça o trabalho de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.

Essa advertência enfatiza como muitos se cercarão de mestres que pregam conforme as suas próprias concupiscências (2 Timóteo 4:3). Ao ofertar a realização imediata dos sonhos, a teologia da prosperidade seduz o crente, fazendo-o esquecer o chamado para negar a si mesmo e tomar a cruz (Mateus 16:24), um mandamento central de Jesus.


1 Timóteo 6:9–10: “Mas os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilha e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição. Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores.”



3. João 6: Do Milagre dos Pães ao Pão da Vida

O relato em João 6 ilustra com clareza essa tensão. Quando Jesus multiplicou os pães e peixes (João 6:1–14), a multidão se maravilhou e seguiu-O na expectativa de benefícios materiais. Porém, ao falar do “pão da vida” (João 6:35) – da verdadeira fonte de sustento eterno – muitos se desanimaram e se afastaram, pois seu interesse era apenas o pão que perece (João 6:26).

Somente os doze apóstolos permaneceram (João 6:66–69), demonstrando que a verdadeira fé não se fundamenta na realização de sonhos terrenos, mas na disposição de seguir o Cristo que é o único que realmente garante a vida eterna.


4. O Exemplo de Moisés e a Realidade dos Sonhos

A história de Moisés nos ensina que sonhar e até contemplar a realização de um desejo não garante a posse final desse sonho. Moisés sonhou com a Terra Prometida e chegou a vê-la de longe (Deuteronômio 34:1–4), mas jamais pôde entrar nela. Essa narrativa revela que, mesmo quando um sonho tem origem divina, sua concretização plena está condicionada à obediência e à fidelidade ao propósito de Deus.


5. Advertências Contra os Desejos Carnais e a Soberba

As Escrituras advertem fortemente contra a exaltação dos desejos humanos desordenados. Em 1 João 2:16 lemos:

“Porque tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida – não é do Pai, mas do mundo.”

Além disso, outros textos nos orientam:

  • 1 João 2:15–17: Adverte para que não amemos o mundo e suas coisas passageiras.
  • Colossenses 3:5: Exorta a mortificar os membros da natureza terrena.
  • Romanos 13:14: Chama para vivermos de forma decente, deixando para trás as obras das trevas.
  • Provérbios 14:12: “Há caminho que ao homem parece direito, mas o seu fim conduz à morte.”
  • Romanos 12:1-2: Exorta a não nos conformarmos com este mundo.
  • Mateus 6:33: Instrui-nos a priorizar o Reino de Deus em vez de colocar nossas necessidades e ambições em primeiro lugar.
  • Colossenses 3:1-2: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive […] Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra.”
  • 1 Pedro 2:11: "Amados, peço que, como peregrinos e forasteiros que vocês são, se abstenham das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma."
  • 2 Coríntios 4:18: “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.”

Tais passagens reforçam que o apelo aos sonhos terrenos, sem a devida submissão à vontade divina, conduz ao desvio do propósito eterno.



6. O Chamado à Autonegação e o Exemplo de Cristo

Em vez de estimular a afirmação de sonhos e ambições terrenas, Jesus conclama Seus seguidores à autonegação, conforme Mateus 16:24:Mateus 16:24:

“Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.”

Essa mensagem é reafirmada em outras palavras:

  • Saiba que o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça (Lucas 9:58), o que ilustra a real condição do nosso Salvador, que não se apoia nas comodidades deste mundo.
  • Em Filipenses 1:29 aprendemos que “não nos foi dada a graça de crer somente, mas de padecer por Cristo.” A fé autêntica se manifesta não somente na crença, mas no compromisso de suportar as dificuldades em nome de Cristo.
  • “Digo isto, não porque esteja necessitado, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Sei o que é passar necessidade e sei também o que é ter em abundância; aprendi o segredo de toda e qualquer circunstância, tanto de estar alimentado como de ter fome, tanto de ter em abundância como de passar necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece.” (Filipenses 4:11–13, NAA)

Além disso, o alerta de que “se esperamos em Cristo somente para esta vida, somos os mais miseráveis dentre todos os homens” (1 Coríntios 15:19) reforça que a esperança do crente deve estar voltada para a vida eterna e não para as satisfações passageiras deste mundo. Afinal, de que vale ao homem ganhar o mundo todo e perder a sua alma? (Mateus 16:26)


7. As Três Tentações de Cristo e a Teologia da Prosperidade

Ao ser tentado no deserto, Jesus enfrentou três propostas tentadoras que, de certa forma, refletem os mesmos apelos da teologia da prosperidade (Mateus 4:1–11; Lucas 4:1–13):

  1. Transformar pedras em pães: uma promessa de satisfação material imediata.
  2. Atirar-se do pináculo e ser salvo pelos anjos: a tentação do poder e da glória terrena.
  3. Adorar Satanás em troca de todos os reinos do mundo: a oferta de domínio e sucesso terreno.

Cada uma dessas tentações revela que os desejos humanos podem se desviar do propósito divino. Jesus, ao resistir (Mateus 4:4, 7, 10), demonstrou que a verdadeira realização não se encontra na abundância material, mas na fidelidade à vontade de Deus.


8. Pedro e o Espírito da Teologia da Prosperidade

Em Marcos 8:31–33, Pedro parece encarnar o mesmo espírito da teologia da prosperidade e da “confissão positiva” ao ousar repreender Jesus, como se dissesse: “Vira essa boca para lá!” ou “Tá amarrado!” quando o Mestre anuncia que precisaria morrer na cruz. Para Pedro, o foco era apenas glória e vitória sobre qualquer inimigo terreno. No entanto, Jesus o corrigiu com firmeza, dizendo:

“Arreda, Satanás, porque não pensas nas coisas de Deus, mas nas dos homens.” (Marcos 8:33)



9. A Contentamento em Toda Circunstância

O apóstolo Paulo, em sua jornada, aprendeu a estar contente em toda situação, afirmando em Filipenses 4:11–13 que “tudo posso naquele que me fortalece.” Esse ensinamento nos recorda que, mesmo passando por privações, o crente pode encontrar satisfação em Cristo – não por meio da realização de sonhos terrenos, mas na confiança de que o Senhor sustenta e capacita para enfrentar todas as circunstâncias.


10. Hebreus 11: A Pátria Celestial dos Heróis da Fé

O capítulo 11 de Hebreus nos apresenta um catálogo de heróis da fé que, mesmo sofrendo intensamente, mantiveram seus olhos fixos na pátria celestial (Hebreus 11:13–16). Eles sofreram e perseveraram, não em busca de uma terra terrena, mas almejando a cidade que Deus preparou (Hebreus 11:10). Eles não alcançaram a realização plena terrena, mas morreram em esperança, aguardando o cumprimento da promessa em termos de uma pátria celestial e não terrena e perecível.

Essa visão contrasta radicalmente com a escatologia realizada pela teologia da prosperidade, que ignora o “ainda não” – a esperança de um futuro eterno – e se fixa apenas no aqui e agora.


11. Conclusão

Ao confrontarmos a teologia dos sonhos terrenos com a mensagem do Evangelho, percebemos que a ênfase na realização imediata dos desejos desvia o crente do verdadeiro propósito de viver em conformidade com a vontade de Deus. Enquanto a teologia da prosperidade seduz com promessas de abundância material e saúde plena numa espécie de escatologia já realizada, os ensinamentos de Paulo, os registros de João 6, as advertências de 1 João, Colossenses, Romanos, Provérbios, e os exemplos de Moisés e dos heróis da fé em Hebreus nos direcionam a uma vida de autonegação e esperança na pátria celestial (Hebreus 11:13–16).

Somos peregrinos nesta terra (1 Pedro 2:11; Hebreus 11:13), e nosso verdadeiro chamado é negar a nós mesmos, tomar a cruz e seguir a Cristo (Mateus 16:24), que, mesmo sem ter onde reclinar a cabeça (Lucas 9:58), nos oferece a graça não só de crer, mas de padecer por Sua causa (Filipenses 1:29). Que possamos aprender a estar contentes em todas as circunstâncias, confiando naquele que nos fortalece (Filipenses 4:13), e manter o foco na promessa de uma vida eterna – pois, ao final, de que vale ganhar o mundo se perdemos a nossa alma? (Mateus 16:26)

Que o “pão da vida” (João 6:35) alimente nossa fé e nos direcione para a verdadeira realização que vem somente de Deus.

sábado, 22 de fevereiro de 2025

A Teologia dos Sonhos Terrenos versus a Verdadeira Esperança em Cristo

A Teologia dos Sonhos Terrenos versus a Verdadeira Esperança em Cristo

Bispo Ildo Mello
Atualmente, pregadores da teologia da prosperidade proferem frases polêmicas que afirmam que tudo o que sonhamos, tocamos e sentimos será realizado, pois vem de Deus. Essa mensagem, com seu apelo imediato e atraente, conquista multidões que desejam ver a materialização dos seus sonhos. Contudo, essa abordagem contrasta com o ensinamento central do Evangelho, que é a autonegação, a fidelidade à Palavra e a busca por uma pátria que não é deste mundo (Filipenses 3:20; 1 Pedro 2:11).
 

1. O Apelo das Promessas de Prosperidade

Muitos pregam que a abundância material e a realização dos sonhos pessoais são sinais inequívocos da bênção divina. Essa visão, exemplificada em frases que exaltam a materialidade e o sucesso imediato, atrai a atenção de uma multidão sedenta por milagres palpáveis – como na multiplicação dos pães e peixes (João 6:1–14) –, satisfazendo necessidades momentâneas.
Entretanto, essa proposta ignora o fato de que somos peregrinos na terra (1 Pedro 2:11; Hebreus 11:13). A realidade da caminhada cristã consiste em viver como estrangeiros e peregrinos, aguardando uma pátria celestial (Hebreus 11:16). Fica a reflexão: se o clássico “O Peregrino”, de John Bunyan — o segundo livro mais lido no mundo depois da Bíblia — fosse escrito em nossos dias, será que teria o mesmo impacto?

2. A Advertência de Paulo para os Últimos Dias

O apóstolo Paulo já alertava sobre tempos em que os fiéis se afastariam da sã doutrina, preferindo ouvir doutrinas que agradassem aos ouvidos. Em 2 Timóteo 4:1-5, ele declara:
4:1 Diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela sua manifestação e pelo seu Reino, peço a você com insistência
4:2 que pregue a palavra, insista, quer seja oportuno, quer não, corrija, repreenda, exorte com toda a paciência e doutrina.
4:3 Pois virá o tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, se rodearão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos.
4:4 Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.
4:5 Mas você seja sóbrio em todas as coisas, suporte as aflições, faça o trabalho de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério.
Essa advertência enfatiza como muitos se cercarão de mestres que pregam conforme as suas próprias concupiscências (2 Timóteo 4:3). Ao ofertar a realização imediata dos sonhos, a teologia da prosperidade seduz o crente, fazendo-o esquecer o chamado para negar a si mesmo e tomar a cruz (Mateus 16:24), um mandamento central de Jesus.

3. João 6: Do Milagre dos Pães ao Pão da Vida

O relato em João 6 ilustra com clareza essa tensão. Quando Jesus multiplicou os pães e peixes (João 6:1–14), a multidão se maravilhou e seguiu-O na expectativa de benefícios materiais. Porém, ao falar do “pão da vida” (João 6:35) – da verdadeira fonte de sustento eterno – muitos se desanimaram e se afastaram, pois seu interesse era apenas o pão que perece (João 6:26).
Somente os doze apóstolos permaneceram (João 6:66–69), demonstrando que a verdadeira fé não se fundamenta na realização de sonhos terrenos, mas na disposição de seguir o Cristo que é o único que realmente garante a vida eterna.

4. O Exemplo de Moisés e a Realidade dos Sonhos

A história de Moisés nos ensina que sonhar e até contemplar a realização de um desejo não garante a posse final desse sonho. Moisés sonhou com a Terra Prometida e chegou a vê-la de longe (Deuteronômio 34:1–4), mas jamais pôde entrar nela. Essa narrativa revela que, mesmo quando um sonho tem origem divina, sua concretização plena está condicionada à obediência e à fidelidade ao propósito de Deus.

5. Advertências Contra os Desejos Carnais e a Soberba

As Escrituras advertem fortemente contra a exaltação dos desejos humanos desordenados. Em 1 João 2:16 lemos: “Porque tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida – não é do Pai, mas do mundo.”

Além disso, outros textos nos orientam:
  • 1João 2:15–17: Adverte para que não amemos o mundo e suas coisas passageiras.
  • Colossenses 3:5: Exorta a mortificar os membros da natureza terrena.
  • Romanos 13:14: Chama para vivermos de forma decente, deixando para trás as obras das trevas.
  • Provérbios 14:12: “Há caminho que ao homem parece direito, mas o seu fim conduz à morte.”
  • Romanos 12:1-2: Exorta a não nos conformarmos com este mundo.
  • Mateus 6:33: Instrui-nos a priorizar o Reino de Deus em vez de colocar nossas necessidades e ambições em primeiro lugar.
  • Colossenses 3:1-2: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive […] Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra.”
  • 1 Pedro 2:11: "Amados, peço que, como peregrinos e forasteiros que vocês são, se abstenham das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma."
  • 2 Coríntios 4:18: “Não atentando nós nas coisas que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se não veem são eternas.”
Tais passagens reforçam que o apelo aos sonhos terrenos, sem a devida submissão à vontade divina, conduz ao desvio do propósito eterno.

6. O Chamado à Autonegação e o Exemplo de Cristo

Em vez de estimular a afirmação de sonhos e ambições terrenas, Jesus conclama Seus seguidores à autonegação, conforme Mateus 16:24:Mateus 16:24:
“Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me.”
Essa mensagem é reafirmada em outras palavras:
• Saiba que o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça (Lucas 9:58), o que ilustra a real condição do nosso Salvador, que não se apoia nas comodidades deste mundo.
• Em Filipenses 1:29 aprendemos que “não nos foi dada a graça de crer somente, mas de padecer por Cristo.” A fé autêntica se manifesta não somente na crença, mas no compromisso de suportar as dificuldades em nome de Cristo.
• “Digo isto, não porque esteja necessitado, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Sei o que é passar necessidade e sei também o que é ter em abundância; aprendi o segredo de toda e qualquer circunstância, tanto de estar alimentado como de ter fome, tanto de ter em abundância como de passar necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece.” (Filipenses 4:11–13, NAA)
Além disso, o alerta de que “se esperamos em Cristo somente para esta vida, somos os mais miseráveis dentre todos os homens” (1 Coríntios 15:19) reforça que a esperança do crente deve estar voltada para a vida eterna e não para as satisfações passageiras deste mundo. Afinal, de que vale ao homem ganhar o mundo todo e perder a sua alma? (Mateus 16:26)

7. As Três Tentações de Cristo e a Teologia da Prosperidade

Ao ser tentado no deserto, Jesus enfrentou três propostas tentadoras que, de certa forma, refletem os mesmos apelos da teologia da prosperidade (Mateus 4:1–11; Lucas 4:1–13):
1. Transformar pedras em pães: uma promessa de satisfação material imediata.
2. Atirar-se do pináculo e ser salvo pelos anjos: a tentação do poder e da glória terrena.
3. Adorar Satanás em troca de todos os reinos do mundo: a oferta de domínio e sucesso terreno.
Cada uma dessas tentações revela que os desejos humanos podem se desviar do propósito divino. Jesus, ao resistir (Mateus 4:4, 7, 10), demonstrou que a verdadeira realização não se encontra na abundância material, mas na fidelidade à vontade de Deus.

8. Pedro e o Espírito da Teologia da Prosperidade

Em Marcos 8:31–33, Pedro parece encarnar o mesmo espírito da teologia da prosperidade e da “confissão positiva” ao ousar repreender Jesus, como se dissesse: “Vira essa boca para lá!” ou “Tá amarrado!” quando o Mestre anuncia que precisaria morrer na cruz. Para Pedro, o foco era apenas glória e vitória sobre qualquer inimigo terreno. No entanto, Jesus o corrigiu com firmeza, dizendo: “Arreda, Satanás, porque não pensas nas coisas de Deus, mas nas dos homens.” (Marcos 8:33)

9. A Contentamento em Toda Circunstância

O apóstolo Paulo, em sua jornada, aprendeu a estar contente em toda situação, afirmando em Filipenses 4:11–13que “tudo posso naquele que me fortalece.” Esse ensinamento nos recorda que, mesmo passando por privações, o crente pode encontrar satisfação em Cristo – não por meio da realização de sonhos terrenos, mas na confiança de que o Senhor sustenta e capacita para enfrentar todas as circunstâncias.

10. Hebreus 11: A Pátria Celestial dos Heróis da Fé

O capítulo 11 de Hebreus nos apresenta um catálogo de heróis da fé que, mesmo sofrendo intensamente, mantiveram seus olhos fixos na pátria celestial (Hebreus 11:13–16). Eles sofreram e perseveraram, não em busca de uma terra terrena, mas almejando a cidade que Deus preparou (Hebreus 11:10). Eles não alcançaram a realização plena terrena, mas morreram em esperança, aguardando o cumprimento da promessa em termos de uma pátria celestial e não terrena e perecível.
Essa visão contrasta radicalmente com a escatologia realizada pela teologia da prosperidade, que ignora o “ainda não” – a esperança de um futuro eterno – e se fixa apenas no aqui e agora.


11. Conclusão

Ao confrontarmos a teologia dos sonhos terrenos com a mensagem do Evangelho, percebemos que a ênfase na realização imediata dos desejos desvia o crente do verdadeiro propósito de viver em conformidade com a vontade de Deus. Enquanto a teologia da prosperidade seduz com promessas de abundância material e saúde plena numa espécie de escatologia já realizada, os ensinamentos de Paulo, os registros de João 6, as advertências de 1 João, Colossenses, Romanos, Provérbios, e os exemplos de Moisés e dos heróis da fé em Hebreus nos direcionam a uma vida de autonegação e esperança na pátria celestial (Hebreus 11:13–16).
Somos peregrinos nesta terra (1 Pedro 2:11; Hebreus 11:13), e nosso verdadeiro chamado é negar a nós mesmos, tomar a cruz e seguir a Cristo (Mateus 16:24), que, mesmo sem ter onde reclinar a cabeça (Lucas 9:58), nos oferece a graça não só de crer, mas de padecer por Sua causa (Filipenses 1:29). Que possamos aprender a estar contentes em todas as circunstâncias, confiando naquele que nos fortalece (Filipenses 4:13), e manter o foco na promessa de uma vida eterna – pois, ao final, de que vale ganhar o mundo se perdemos a nossa alma? (Mateus 16:26)
Que o “pão da vida” (João 6:35) alimente nossa fé e nos direcione para a verdadeira realização que vem somente de Deus.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025

Sermão 5 de Wesley Em Linguagem Contemporânea

Com o suporte da inteligência artificial do DeepSeek, elaborei esta versão atualizada de um dos sermões mais emblemáticos de John Wesley, "O Caminho Bíblico da Salvação" (1765). Busquei preservar a profundidade teológica e o vigor espiritual do original, adaptando sua linguagem para os desafios e questionamentos do século XXI – sem perder a essência da mensagem que transformou vidas no avivamento metodista.

Sermão 5: O Caminho Bíblico da Salvação

Pregado por John Wesley (em linguagem contemporânea)


Irmãos e irmãs em Cristo, paz seja com vocês!
Hoje quero falar sobre algo que está no coração de Deus para cada um de nós: a salvação que não é só um "check-in" no céu, mas uma jornada de transformação. Vocês já ouviram alguém dizer: "Ah, já aceitei Jesus, tá resolvido"? Cuidado! A fé cristã não é um ingresso de cinema que você compra e guarda no bolso. É um relacionamento vivo, que exige crescimento diário.

1. "Fui Aceito por Deus": Isso é Só o Começo!

Justificação é quando Deus, pela graça, nos declara justos, mesmo sendo falhos. É como um pai que abraça o filho pródigo antes mesmo de ele tomar banho (Lucas 15:20). Isso acontece num instante, pela fé em Jesus (Romanos 5:1). Mas santificação é o processo que vem depois: é o Espírito Santo trabalhando em nós para que pareçamos mais com Jesus a cada dia (2 Coríntios 3:18).

Ouçam bem:
A justificação é a porta de entrada; a santificação é a estrada que você percorre.
Não adianta entrar pela porta e ficar parado no corredor!

2. "Crer em Jesus" Não é Só uma Opinião no Facebook

Tem gente que diz: "Ah, eu creio em Deus", mas vive como se Ele não existisse. Isso é fé morta! Tiago alerta: "A fé sem obras é morta" (Tiago 2:17).

Imaginem isso:
Alguém posta #DeusÉBom nas redes sociais, mas trata mal os funcionários, ignora o pobre na rua ou mente no trabalho. Isso é hipocrisia! (Amós 5:23-24).
Deus não quer "curtidas" vazias. Ele quer ações que refletem Seu amor!

3. Santificação Plena: Não é Ser Perfeito, é Amar de Verdade

Falo muito sobre "perfeição cristã", e alguns torcem o nariz. Calma! Não é sobre nunca errar. É sobre amar a Deus e ao próximo com todo o coração (Mateus 22:37-39). É deixar o egoísmo de lado e permitir que o Espírito Santo mude suas prioridades.
Como chegar lá?Converse com Deus todo dia: "Cheguem perto de Deus, e Ele chegará perto de vocês" (Tiago 4:8).
Ande com gente que te desafia a crescer: Não fique só no culto de domingo! Junte-se a um grupo pequeno, onde você possa ser real e responsável (Hebreus 10:24-25).
Use seu dinheiro e tempo para o bem: Visite quem está só, lute contra injustiças, seja generoso (Tiago 1:27).

4. Cuidado com o "Já Cheguei lá"!

Tem crente que parece estacionado no ano da conversão. Vive de memórias: "Ah, em 2005 eu fui ao acampamento e chorei...". Mas e hoje? Está crescendo? A igreja de Laodiceia pensava que era "top", mas Jesus disse: "Vocês são mornos, e vou vomitá-los!" (Apocalipse 3:16).
E tem outro perigo:
"Deus me perdoa mesmo, então posso pecar à vontade".
Isso é abuso da graça! Paulo responde: "Longe de nós! Como podemos viver no pecado se morremos para ele?" (Romanos 6:1-2).

5. Para Hoje: O Cristianismo é Revolução, Não Rotina!

Se sua fé não está mudando como você trata sua família, como gasta seu dinheiro ou como reage a quem te ofende, algo está errado.
Desafio prático:Pare de julgar e comece a servir: Em vez de criticar o dependente químico, ofereça ajuda.
Transforme sua espiritualidade em ação: Não basta orar pelo faminto; doe comida (1 João 3:17).
Viva em comunidade: Ninguém cresce sozinho. Precisamos uns dos outros!

Conclusão: O Chamado é para Hoje!

"Hoje, se vocês ouvirem a voz de Deus, não endureçam o coração" (Hebreus 3:15). A santificação não é opcional. É a prova de que a graça de Deus está viva em você.
Lembrem-se:
Deus não te salvou só para te levar ao céu. Ele te salvou para transformar a terra através de você!

Ore comigo:

"Senhor, não me deixe estagnado. Que minha fé seja viva, meu amor seja real e minha vida seja um reflexo do Teu caráter. Em nome de Jesus, amém!"
Que o Espírito Santo nos guie nessa jornada!

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