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Domingo de Ramos - A Natureza do Reino de Deus


 Domingo de Ramos
A Natureza do Reino de Deus
Bispo Ildo Mello
(Assista também o vídeo do sermão desta mensagem cliclando aqui)

É uma pena ver que boa parte dos evangélicos ignora o Domingo de Ramos. Alguns, em sua ignorância, chegam até a alegar que isto é coisa de católicos. Por estas e outras, as celebrações evangélicas da Páscoa estão cada dia mais pobres, limitando-se à comemoração do Domingo da Ressurreição. Assim, não apenas o Domingo de Ramos, mas até mesmo a Sexta-Feira da Crucificação está sendo ignorada. Um absurdo, pois o tema central do Evangelho é a mensagem da cruz (1 Co.2.2).

Se pensarmos bem, até mesmo por uma questão pedagógica, seria interessante aproveitarmos melhor as datas festivas para comunicar o seu significado. Por exemplo, um culto temático, cujas canções, encenações, decoração, ramos, leituras bíblicas e mensagem estivessem focadas no evento, contribuiria em muito para a fixação dos ensinamentos deste que foi o primeiro dia da Grande Semana de Jesus na Terra.
Quando Jesus iniciou o seu ministério, ele proferiu a seguinte frase: “Ainda não é chegada a minha hora” (Jo 2.4). Mas, agora, é diferente! Três anos e meio depois, finalmente, a sua hora havia chegado! O grande dia da manifestação do Messias prometido!

Jesus acabara de realizar o maior de seus milagres, ressuscitando a Lázaro, cujo corpo putrefato após quatro dias de sua morte fora milagrosamente vivificado! A fama de Jesus se espalhou por toda a Jerusalém. O povo, maravilhado, viu naquele milagre o sinal do Messias.

Então, uma multidão entusiasmada começa a celebrar a chegada do Grande Rei. Pessoas pobres improvisam a criação de um tapete estendendo seus mantos e ramos de palmeira pelo caminho em que Cristo havia de passar, e exclamavam com imenso júbilo, dizendo: “Bendito o Rei que vem em nome do Senhor! Hosana nas maiores alturas” (Mt 21.9; Lc 19.38)!

Os fariseus, incomodados, pediram que Jesus interrompesse aquela adoração, mas Jesus respondeu: “se eles se calarem, até as próprias pedras clamarão”, visto ser aquele um momento sem igual, quando as profecias messiânicas estavam se cumprindo: “alegre-se muito, cidade de Sião! Exulte, Jerusalém! Eis que o seu rei vem a você, justo, vitorioso e humilde, montado num jumentinho” (Zc 9.9)!

Interessante que ele tenha entrado em Jerusalém montado sobre um jumentinho, algo incomum para um rei, pois os reis faziam questão de ostentar poder e glória. Jesus, se quisesse, poderia ter se imposto aos homens pela força do seu poder, mas não quis que fosse assim. “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor” (Zacarias 4.6). Ele não quis se impor pela força, pois decidiu cativar pelo amor (Jo 12.32-33)! Sendo o próprio Deus, esvaziou-se de sua glória para identificar-se com nossa fraqueza (Fl 2.7), revelou-se como servo sofredor (Is 53), que carrega a sua cruz (Jo 13.1; 19.17) e dá a vida pelos seus amados (Rm 5.8). E, mesmo quando é chegada a hora de apresentar-se como Rei, em sua entrada em Jerusalém no Domingo de Ramos, Jesus não se apresenta montado num cavalo portentoso e cheio de pompa e nem estava acompanhado de um forte e ameaçador exército, mas escolheu entrar de maneira humilde e mansa montado num jumentinho.

Sendo Senhor, Jesus foi humilde e assumiu a condição de servo, chegando até a lavar os pés dos discípulos (Jo 13.4-5). Ele não foi dominador e nem tirano, mas procurou cativar pelo exemplo. Não constrangeu os seguidores pela força, pois seus discípulos sempre foram livres para escolher e até mesmo desistir de segui-lo. Portanto, Jesus jamais quis impor-se pela força, antes escolheu atrair seguidores através de seus atos de amor, que é uma eterna fonte de inspiração vocacional (2 Co 5.14).

O Reino de Cristo é um reino de libertação! Jesus veio para proclamar liberdade aos cativos e oprimidos (Lc 4.18). Ele veio desfazer as obras do Diabo (1 Jo 3.8). Quando da sua entrada em Jerusalém, após a purificação do templo, Jesus é visto libertando e curando a muitos. E até mesmo no episódio do burrinho, vemos um sinal de libertação. Pois, seguindo a orientação de Jesus, os discípulos foram buscar o jumentinho, que foi encontrado amarrado. Os discípulos começam a libertá-los das amarras. Os donos surgem reclamando, mas não causam maior resistência quando descobrem que os discípulos estavam à serviço do Senhor. Os jumentos estavam presos aos donos, mas o Senhor é bem mais poderoso que qualquer dono! Por vezes, os homens se vêem aprisionados e oprimidos por distintos “donos”. A força humana parece pequena diante dos poderosos donos, mas maior é o Senhor para nos livrar! O liberto começa, então, uma jornada gloriosa à serviço do Rei dos reis e do Senhor dos senhores!

O Reino de Jesus é de Paz. Jesus não vem com armas. Nenhuma gota de sangue é derramada. Nem os animais experimentam qualquer espécie de sofrimento. É notável que Jesus tenha tomado o cuidado de que o jumentinho viesse acompanhado de sua mãe de modo que nem ele e nem sua mãe padecessem a dor da separação visto ser o jumentinho ainda muito jovem. O Reino de Cristo promove restauração dos propósitos originais de Deus para o bem estar de toda a Criação. É um reino de harmonia e paz!

O Reino de Jesus não é um reino de pompa. Em sua entrada triunfal, não há carruagem, não há nenhum tapete vermelho estendido em seu caminho, mas apenas folhagens típicas da região e mantos surrados de operários pobres. Jesus desprezou a fama, a riqueza e a glória deste mundo, demonstrando que o valor da vida não reside em nada disto.

O Reino de Jesus é também um reino de muita alegria! Ele veio trazer vida abundante (Jo 10.10)! A chegada de Jesus foi motivo de alegria para adultos e crianças, que, eufóricos, exaltaram o Grande Rei!

O reino de Jesus é de natureza espiritual. Para frustração da grande maioria do povo que aguardava um Messias Político que libertaria Israel do domínio Romano, ao entrar como Rei em Jerusalém, Jesus não se encaminha na direção do Palácio de Herodes ou de Pilatos. Mas, em vez disto, é visto entrando no templo! E foi exatamente ali que ele começou o exercício de seu senhorio. Com autoridade, ele expulsou os mercenários e mercadores do templo.

A revolução que Cristo veio promover é de caráter espiritual. Começa com a santificação do templo. Tem um começo tímido e pequeno como um grão de mostarda, mas não subestime o seu poder de germinar, crescer e se espalhar por toda a Terra! Após a purificação, Cristo assume o seu lugar no templo, e começa a promover cura e salvação gratuita a todos que passaram a ter livre acesso ao templo.

A Igreja é o principal agente do Reino de Deus. Mas, para ser fiel a sua missão, ela precisa ser purificada dos mercenários que exploram a fé do povo para benefício próprio. Foi o zelo de Jesus pela santificação do templo que produziu a ira dos lideres religiosos que viam em Cristo uma séria ameaça aos seus interesses mesquinhos e escusos.

E é por seu grande amor que Jesus está entrando em Jerusalém, pois ele bem sabe que está a caminho da Cruz. Ele está disposto a dar sua vida para salvar os que estão condenados ao castigo eterno (Jo 1.29; Rm 8.1). Jesus, o justo, na Sexta-feira daquela mesma semana, assumiria o nosso lugar e cumpriria a nossa pena para que pudéssemos ter acesso ao perdão e a vida eterna (Is 53.5-11).

Ao avistar Jerusalém, Jesus chorou com pena dela e disse: “Ah! Jerusalém! Se você pudesse reconhecer aquele que pode te trazer a paz! Mas, infelizmente, os teus olhos estão tapados” (Lc 19.41-42). Jesus lamentou a cegueira espiritual de Jerusalém e segue chorando hoje por tantos que ainda estão em trevas, ignorando e desprezando sua única esperança que é o Salvador. “Eles têm olhos para ver, mas não vêem, e ouvidos para ouvir, mas não ouvem, pois são uma nação rebelde” (Ez 12:1-2).

Em outra ocasião, Jesus já havia feito um lamento semelhante: “Jerusalém, Jerusalém! Que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes” (Lc 13.34)! Repare que Jesus quer acolher a todos como filhos, mas não contra a vontade deles, pois Deus respeita a vontade dos homens; Afinal, foi Ele mesmo quem lhes concedeu poder de decisão. Também observamos isto na parábola do Filho Pródigo, que tem liberdade para deixar a casa do Pai e ir para um lugar distante (Lc 15.12-13). O Pai se entristece com a atitude rebelde do filho. Ele não quer que o seu filho sofra, no entanto, respeita as escolhas do filho, pois não quer um filho contrariado em casa, e, esperançoso, ainda o aguarda de braços abertos (Lc 15.20). Assim como o Filho Pródigo, nós também temos liberdade de ir e vir, de ficar longe e de regressar para casa. Assim como aquele povo de Jerusalém, diante de Jesus, cada um de nós tem também hoje a liberdade de exclamar “Hosana” ou de gritar “crucifica-o”. Pilatos perguntou: “Que farei de Jesus chamado Cristo?” (Mt 27.22); a multidão decidiu crucificá-lo, Pilatos preferiu lavar as mãos... e nós o que faremos?

No final daquele glorioso dia, após tantos feitos grandiosos, cansado, Jesus parece não encontrar um lugar de descanso em Jerusalém, pois é dito que se retirou de Jerusalém para pousar na casa do amigo Lázaro em Betânia. Tem gente que só sabe dar trabalho para Jesus, mas que jamais chega ao ponto de se tornar um verdadeiro amigo de Deus. Será que Jesus encontra amizade e descanso em nossas vidas e em nossas casas?

Embora tenha o Rei Jesus se manifestado aos homens primeiramente de modo humilde e manso montado sobre um jumentinho visando cativar pela via do amor, retornará finalmente com grande poder e glória montado sobre um cavalo branco e estará acompanhado de um exército celestial para subjugar todos os seus inimigos. Enquanto a primeira vinda inaugura um período de perdão, redenção e salvação, a segunda promoverá o juízo final contra o mal. A semente do Reino é plantada na primeira vinda, a plenitude do Reino será estabelecida quando o Rei retornar. Ai daqueles que o desprezam nesta era presente e felizes os que agora verdadeiramente exclamam: “Hosana nas maiores alturas! Bendito o Rei que vem em nome do Senhor!”

Bispo José Ildo Swartele de Mello

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