quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Romanos 10 - Comentário

Romanos 10 - Comentário

Perguntas Introdutórias

  1. Se Deus cumpriu sua aliança em Cristo, por que muitos judeus não creram? 2) O que significa dizer que Cristo é o telos da Lei (Rm 10.4)? 3) Como a salvação se apropria no presente e se consuma no último dia? 4) Qual é a marca do povo de Deus hoje e qual é a tarefa da igreja?

Tese: Em Romanos 10 Paulo mostra que a justiça de Deus se manifestou em Cristo e se apropria pela fé, de modo universal (judeus e gentios), através de uma resposta integral: crer com o coração e confessar com a boca. A Lei encontra seu clímax e término como via de justiça em Cristo, e a missão torna-se o elo necessário: enviados → anunciam → ouvem → creem → invocam → são salvos (Rm 10.14–17).


1) 10.1–4 — Zelo sem conhecimento e o Fim (telos) da Lei

Exposição

Paulo abre com dor pastoral: “o desejo do meu coração e a súplica… é que sejam salvos” (10.1). Ele reconhece zelo em Israel, mas “não com entendimento” (10.2). O problema: ignoram a justiça de Deus e “buscam estabelecer a sua própria”, não se sujeitando a ela (10.3). A razão decisiva: “Cristo é o telos da Lei para justiça a todo o que crê” (10.4).

Notas exegéticas

  • “Justiça de Deus” em Romanos carrega o eixo de fidelidade de aliança revelada no evangelho e dom gratuitoque constitui o povo (cf. 1.16–17; 3.21–26).

  • “Sua própria justiça”: não é apenas “entrar” no povo, mas “manter-se de pé” com base no desempenho legal (cf. Fp 3.4–9).

  • Telos = clímax/objetivo e, no plano salvífico-histórico, término da Lei como via de justiça. A Lei testemunhaCristo, mas não é mais o meio de justificação/santificação (cf. 2Co 3.7–14; Gl 3.23–25).

Teologia e síntese

justiça que salva é de Deus em Cristo; o ser humano submete-se a ela pela fé. No nosso vocabulário wesleyano: é a graça que desperta e convence, conduzindo à fé obediente que salva e santifica.

Aplicações

  • Zelo não é critério de verdade (10.2). Piedade sem evangelho não salva.

  • Pastores: interceder e evangelizar. A dor pastoral vira missão (10.1).


2) 10.5–13 — Deuteronômio 30 cumprido em Cristo: fé que crê e confessa

Exposição

Paulo contrapõe vozes:

  • Moisés sobre a justiça “da Lei”: “o homem que praticar viverá por elas” (Lv 18.5; 10.5).

  • “A justiça da fé” fala com as palavras de Dt 30.12–14não é subir ao céu nem descer ao abismo; a Palavra está perto (10.6–8).
    Clímax: “Se com a boca confessares Jesus é Senhor e no coração creres que Deus o ressuscitouserás salvo” (10.9–10). Promessa universal: “todo o que nele crê não será envergonhado” (Is 28.16; 10.11); “todo o que invocar o nome do Senhor será salvo” (Jl 2.32; 10.13). Não há distinção entre judeu e grego (10.12).

Notas intertextuais

  • Paulo faz uma variação sapiencial de Dt 30: o que Israel aguardava (fim do exílio, coração circuncidado, Palavra pertochegou em Cristo.

  • Jesus é Senhor”: confissão batismal e contracultural (no império, “Senhor” era César), agora aplicada ao Senhor do AT (Jl 2.32).

Teologia e síntese

Salvação é dom próximocrer (coração) + confessar (boca). A fé justifica e a confissão salva (10.10) — linguagem que une status e processo (início e percurso), compatível com a ênfase wesleyana: a graça salva e santifica; a confissão pública marca a incorporação no povo renovado.

Aplicações

  • Chamado claro ao arrependimento e à confissão pública de Cristo.

  • Igreja sem barreiras: o mesmo Senhor é rico para com todos (10.12).


3) 10.14–21 — A cadeia missionária e a incredulidade prevista

Exposição

Paulo deduz a necessidade da missãoenviar → pregar → ouvir → crer → invocar (10.14–15,17). Contudo, “nem todos obedeceram ao evangelho” (10.16; Is 53.1). Isso não invalida o plano; foi previsto:

  • voz já ecoou (Sl 19; 10.18).

  • Deus provocaria ciúmes em Israel por meio de um “não-povo” (Dt 32.21; 10.19).

  • Deus se deixou achar por quem não buscava (Is 65.1–2; 10.20–21).

Teologia e síntese

A missão aos gentios cumpre as Escrituras e serve ao propósito de restaurar Israel (ponte para Rm 11). A fé vem pelo ouvir da palavra de Cristo (10.17).

Aplicações

  • Prioridade missional: sem enviadosninguém crê. Invista em formar mensageiros.

  • Humildade: a incredulidade de alguns não desautoriza o evangelho; persista.


Tópicos teológicos de Romanos 10

  1. Justiça de Deus: fidelidade de aliança revelada em Cristo e comunicada pela fé (3.21–26; 10.3–4).

  2. Cristo, telos da Lei: a Lei chega ao seu alvo e cessa como caminho de justiça; permanece como testemunho(2Co 3; Gl 3–6).

  3. Resposta integralcoração (crer) + boca (confessar) = apropriação presente e honra no juízo (10.9–11).

  4. Universalidadenenhuma distinção; a mesma via para todos (10.12–13).

  5. Economia da missão: Deus salva por meio da pregação; por ela nasce fé (10.14–17).

  6. História da salvação: a entrada dos gentios e a resistência de Israel estavam no roteiro bíblico (10.18–21).


Esboço

  • “Zelo que salva? Só com conhecimento” (10.1–4): contraste entre piedade autossuficiente e submissão à justiça de Deus.

  • “Tão perto quanto a boca e o coração” (10.5–13): Dt 30 em Cristo; convite a crer e confessar.

  • “Como crerão… se não há quem pregue?” (10.14–17): convocação para enviar e ser enviado.

  • “Deus de mãos estendidas” (10.21): paciência e misericórdia como moldura do juízo.


Aplicações pastorais

  1. Graça que desperta, convence, salva e santifica: dê espaço ao apelo que una  e entrega pública (10.9–10).

  2. Cuidado com moralismozelo sem evangelho tropeça em Cristo (10.2–3, 33).

  3. Discipulado como confissão contínua: a boca que confessa no batismo deve continuar confessando na vida (Tg 3; Rm 12.1–2).

  4. Missões e envio: estabeleça cadeias missionais (formação → envio → pregação) e meça ministérios por ouvir-crer-invocar (10.14–17).

  5. Acolhimento radical: estruture a comunidade para “todos” (10.11–13), derrubando barreiras étnicas, rituais e socioculturais (Ef 2.11–22).


Conclusão

Romanos 10 é o coração prático de 9–11: a fidelidade de Deus atinge seu clímax em Cristo; a marca do povo é a fé confessante; e o método de Deus é a pregação que faz a Palavra chegar tão perto quanto a boca e o coração. Entre a dor pastoral (10.1) e a misericórdia universal (11.32), a igreja vive enviando e confessando para que “todo o que invocar o nome do Senhor seja salvo” (10.13).

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