Por que Celebramos o Natal?
Uma Reflexão Bíblica, Teológica e Pastoral Sobre a Legitimidade e a Beleza da Celebração do Nascimento de Cristo
Introdução
Sempre que nos aproximamos do mês de dezembro, surge novamente a pergunta: Devemos, como cristãos, celebrar o Natal?
Essa questão vem carregada de outras:
A Bíblia ordena essa celebração?
A data tem alguma origem pagã?
Não há risco de cairmos no consumismo ou em práticas culturais que nada têm a ver com a fé cristã?
E, afinal, qual é o sentido espiritual dessa celebração?
Gosto de iniciar minha reflexão com outra pergunta ainda mais fundamental: O que realmente celebramos quando celebramos o Natal?
Responder a essa pergunta redefine todas as outras, porque o Natal, antes de ser uma data, é um acontecimento.
E que acontecimento! O maior da história da humanidade: Deus se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14).
É a partir dessa verdade central que construo minha defesa da celebração cristã do Natal.
1. O Natal celebra a própria essência do Evangelho
Cristo veio ao mundo. E veio por nós.
Nada é mais essencial para a fé cristã do que a realidade da encarnação. Sem ela, não haveria cruz, ressurreição, perdão, esperança ou nova criação.
Quando celebramos o Natal, não estamos celebrando uma data, mas o movimento gracioso de Deus em direção à humanidade caída. A manjedoura aponta para a cruz; o menino anuncia o Cordeiro; a vinda humilde revela o amor que se entregaria até o fim.
Portanto, celebrar o Natal é simplesmente proclamar o Evangelho. É anunciar que Deus entrou na nossa história para redimi-la.
2. A Bíblia não ordena a celebração do Natal — mas nos dá liberdade para celebrá-lo
É verdade: a Escritura não nos dá um mandamento direto sobre a celebração do nascimento de Jesus.
Mas também não há qualquer proibição. E isso nos remete ao princípio paulino:
“Cada um esteja inteiramente convicto em sua própria mente.” (Rm 14.5)
O mesmo apóstolo que rejeita superstições e idolatrias também defende a liberdade cristã para celebrar momentos em que Deus agiu com poder e graça.
Israel, por exemplo:
celebrou a Páscoa como memorial da libertação (Êx 12),
instituiu Purim como celebração da intervenção de Deus na época de Ester — algo não ordenado na Lei (Et 9.20-22).
Por que então a Igreja não poderia celebrar a vinda de Cristo, a maior de todas as intervenções divinas?
O ponto aqui é simples:
Celebrar o Natal, quando feito em Cristo e por Cristo, não contradiz a Escritura — pelo contrário, harmoniza-se com seu espírito.
3. A questão da data não invalida a celebração
Muito se discute sobre o fato de não sabermos ao certo o dia em que Jesus nasceu. E, de fato, não sabemos.
Mas a data não é o ponto.
O que importa é o fato: Cristo nasceu.
Alguns lembram também de possíveis associações com festivais pagãos. Porém, isso não define o sentido cristão da celebração. A Igreja primitiva, muitas vezes, ressignificou símbolos e datas culturais para afirmar o senhorio de Cristo sobre toda a criação.
O problema nunca foi a data, mas o coração.
Se Cristo é o centro, o Natal é legítimo.
4. O desvio comercial não anula o valor espiritual do Natal
É impossível negar que o Natal se tornou, em grande parte do mundo, uma festa comercial. Presentes, consumo exagerado, pressões sociais… Tudo isso realmente obscurece a simplicidade da encarnação.
Mas não devemos confundir o desvio com a celebração.
Se o mundo deturpa, cabe a nós resgatar.
Se o consumismo invade, cabe a nós purificar.
Se a cultura seculariza, cabe à Igreja reivindicar o Natal para Cristo.
Jesus não evitou as festas de seu povo porque algumas tradições haviam se distorcido; pelo contrário, Ele as participou e lhes conferiu significado pleno.
Fazer o mesmo com o Natal é profundamente cristão.
5. O Natal é uma poderosa oportunidade de discipulado e missão
O Natal tem algo único: o mundo inteiro se volta, ainda que superficialmente, para o nome de Jesus.
Mesmo quem pouco entende da fé cristã sabe, de algum modo, que essa celebração tem a ver com Cristo.
Assim, o Natal abre portas:
- para ensinar sobre a encarnação,
- para proclamar o Evangelho,
- para fortalecer a fé das crianças,
- para despertar compaixão,
- para vivermos hospitalidade e generosidade,
- para reunirmos famílias,
- para testemunharmos ao mundo a esperança que temos.
- Seria sábio ignorar uma oportunidade tão rica?
6. Celebrar o Natal é fortalecer nossa esperança escatológica
A vinda de Cristo não é apenas um evento do passado. É a inauguração da nova criação.
A cada Natal, reafirmamos três verdades essenciais da fé:
- Cristo veio.
- Cristo está conosco.
- Cristo virá novamente.
Ou seja, o Natal não nos conduz apenas ao presépio, mas também à esperança futura. Celebrar o Natal é dizer: “O Deus que cumpriu sua promessa de vir uma vez cumprirá também sua promessa de voltar.”
A encarnação ilumina toda a história — passado, presente e futuro.
Conclusão: Celebrar o Natal é celebrar Cristo
Ao final, a questão se resume a isto:Celebrar o Natal glorifica a Deus?
A resposta, para mim, é clara:
- Sim — quando Cristo é o centro.
- Sim — quando a encarnação é proclamada.
- Sim — quando a adoração substitui o consumismo.
- Sim — quando a celebração se torna missão.
- Sim — quando usamos essa data para exaltar a graça de Deus e renovar nossa esperança.
Celebrar o Natal é celebrar a fidelidade de Deus.
É celebrar o amor que se fez carne.
É celebrar a luz que rompeu as trevas.
É celebrar o Redentor que veio ao mundo para nos salvar.
E, por tudo isso, podemos — e devemos — celebrar o Natal com fé, reverência, alegria e profunda gratidão.
“Glória a Deus nas alturas, e paz na terra entre os homens a quem Ele quer bem.” (Lc 2.14)
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