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Qual o Significado dos 144.000 de Apocalipse?

Resumo

Este estudo explora o significado simbólico dos 144.000 mencionados em Apocalipse, desafiando a interpretação literalista e destacando a unidade da Igreja como o único povo de Deus, composto por judeus e gentios.


Introdução

A visão dos 144.000 selados em Apocalipse é uma das passagens mais discutidas e debatidas entre os estudiosos da Bíblia. Entender seu significado simbólico pode fornecer insights valiosos sobre a natureza da Igreja e o plano de Deus para a humanidade.


Interpretação Literalista

Charles Taze Russell, fundador do movimento que deu origem às Testemunhas de Jeová, baseado em uma interpretação literalista de Apocalipse 7 e 14, inicialmente concluiu que apenas 144.000 pessoas seriam salvas. Ele escreveu: "As Escrituras claramente mostram que apenas 144.000 serão recompensados com a vida imortal no céu" (Estudos das Escrituras, Volume 3: Venha o Teu Reino, 1889). À medida que sua seita cresceu e superou esse número, Russell reformulou sua tese. Ele passou a ensinar que 144.000 iriam para o céu, enquanto uma grande multidão de salvos de segunda categoria habitaria um paraíso terrestre. Uma publicação das Testemunhas de Jeová afirma: "A Bíblia mostra que apenas 144.000 pessoas vão para o céu para governar com Cristo (Apocalipse 14:1, 3). As Testemunhas de Jeová acreditam que todos os outros servos leais de Deus vão viver para sempre na Terra" ("Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra", pág. 125, 1982).



Problemas desta Interpretação Literalista


O Problema de Reerguer o Muro de Separação Derrubado por Cristo

À luz do Novo Testamento, a parede de separação entre judeus e gentios foi derrubada (Efésios 2:14) e não poderia estar sendo reconstruída em Apocalipse através de uma visão celestial que separasse Israel da Igreja. Deus não possui dois povos, mas um só, composto por judeus e gentios unidos e lavados pelo sangue de Jesus (Efésios 2:16). Jesus também afirmou: "Haverá um só rebanho e um só pastor" (João 10:16), enfatizando a unidade do povo de Deus. Em Apocalipse 7, temos a Igreja sendo descrita de duas formas distintas: como um grupo bem definido, sem tirar nem por, e também como uma multidão inumerável.


O Problema de Afirmar que Apenas Judeus Homens Virgens Iriam para o Céu

Se interpretarmos literalmente Apocalipse 14:4, teríamos que concluir que apenas homens virgens dentre os hebreus seriam selados, excluindo homens casados como Abraão e Moisés, e todas as mulheres, o que é inconcebível.


O Problema de Concluir que Apenas 144.000 Judeus Seriam Especialmente Selados em Detrimento dos Demais

No livro de Apocalipse, a Igreja está em foco, não os judeus. O Apocalipse foi escrito para consolar e encorajar a Igreja. Que conforto e ânimo teriam os membros da Igreja numa interpretação literal dos 144.000 que contempla apenas os judeus? Por que Jesus concederia proteção especial para 144.000 judeus e não para a Sua Igreja (Apocalipse 7:3)? Por que apenas os 144.000 seriam selados e não também aquela multidão inumerável de cristãos de todos os povos, tribos, línguas e nações (Apocalipse 7:9)?


O Problema de Fazer Acepção de Pessoas na Base da Etnia

A Igreja é denominada o Israel de Deus, e o que determina isso não é a circuncisão, mas o novo nascimento: "De nada vale ser circuncidado ou não. O que importa é ser uma nova criação. Paz e misericórdia estejam sobre todos os que andam conforme essa regra, e também sobre o Israel de Deus" (Gálatas 6:15-16). Tiago, apóstolo de Cristo, inicia sua epístola escrita para a Igreja referindo-se a ela como as 12 tribos de Israel: "Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos dispersas entre as nações: Saudações" (Tiago 1:1). Paulo afirma que "... mediante o evangelho, os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus" (Efésios 3:6). Portanto, o verdadeiro Israel é a Igreja, herdeira da promessa feita a Abraão: "Pois nem todos os descendentes de Israel são Israel. Nem por serem descendentes de Abraão passaram todos a ser filhos de Abraão. Ao contrário: 'Por meio de Isaque a sua descendência será considerada.' Noutras palavras, não são os filhos naturais que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa é que são considerados descendência de Abraão" (Romanos 9:6-8). "Os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão" (Gálatas 3:7).


O Problema com as Dimensões da Nova Jerusalém

Além disso, interpretar o número 144.000 literalmente é problemático devido às dimensões da Nova Jerusalém, que seriam imensamente desproporcionais para um número tão reduzido de habitantes (Apocalipse 21:16-17).



Uma Interpretação Apropriada


O Simbolismo dos Números em Apocalipse

Os números em Apocalipse, como em outras literaturas apocalípticas, geralmente têm um significado simbólico em vez de literal. O número 144.000 é um exemplo claro disso. A Igreja é representada pelos 7 candelabros (Apocalipse 1:20), pelos 24 anciãos (Apocalipse 4:4), pois a Igreja foi erigida sobre o fundamento dos profetas do Antigo Testamento e dos apóstolos, conforme lemos em Efésios 2:20, ou seja, sobre os 12 patriarcas de Israel e os 12 apóstolos, que somados são iguais a 24.


Os 144.000 Representam a Igreja em Sua Plenitude e Santidade

Os 144.000 castos são, de fato, uma representação da Igreja do Senhor Jesus Cristo, pela qual ele morreu para santificá-la e apresentá-la imaculada a Deus: "... assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela para santificá-la, tendo-a purificado pelo lavar da água mediante a palavra, e para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa, sem mancha nem ruga ou coisa semelhante, mas santa e inculpável" (Efésios 5:25-27).


Como o livro de Apocalipse foi escrito para a Igreja e não para Israel, e também por se tratar de uma literatura apocalíptica repleta de figuras de linguagem, é natural concluir que os 144.000 (Apocalipse 7 e 14) sejam uma ilustração da Igreja. As descrições dos 144.000 reforçam essa interpretação, pois a expressão "até que selemos as testas dos servos do nosso Deus” (Apocalipse 7:4) indica que os 144.000 sejam uma clara referência à Igreja como um todo. Os salvos da Igreja são descritos como selados (Efésios 1:13; 4:30).


No Novo Testamento, "servos do nosso Deus" só pode ser uma referência à Igreja de Jesus Cristo. Os apóstolos de Cristo, Paulo e Tiago, se apresentam como "servos de Deus" (Tito 1:1 e Tiago 1:1). Mesmo no livro de Apocalipse, os membros da Igreja, ou os salvos em Cristo que desfrutam a eternidade na Nova Jerusalém, são chamados de servos (Apocalipse 22:3-9; 19:10). Os mártires cristãos, vencedores da Besta, cantarão o cântico de Moisés e do Cordeiro. A Igreja congrega em si mesma ambos os povos, judeus e gentios (Efésios 2), de modo que os cânticos de vitória das duas Páscoas estão em sintonia, sendo entoados pelo povo de Deus, que é a Igreja, em louvor ao único e verdadeiro Messias, o Rei das Nações (Apocalipse 15:3).


Portanto, não há motivo para concluir que a expressão "servos do Senhor" seja um indicativo do povo de Israel, pois os da Igreja também são assim nomeados no Novo Testamento. A Igreja é a manifestação do remanescente de Israel. O primeiro gentio a se converter foi Cornélio. Isso significa que a Igreja era composta originalmente de crentes judeus, os remanescentes de Israel (Romanos 2:28-29; 3:3-4; 9:6-8, 27, 29; 11:15), e os gentios foram acrescentados a essa mesma Oliveira. Neste sentido, há muito mais continuidade do que descontinuidade (Efésios 2:18-20; 3:6; Gálatas 3:6-29). Não houve mudança no plano de Deus (Efésios 1:3-4), mas revelação progressiva (Gálatas 6:16; 3:13-14).


O verdadeiro Israel é aquele que possui o Messias. Cristo é a Videira verdadeira (João 15:1), a videira é símbolo notório de Israel. O verdadeiro herdeiro de Abraão é o que tem fé no Messias prometido (Gálatas 3:7). Não é sem propósito que o número de apóstolos da Igreja é idêntico ao número de tribos de Israel. A Igreja é agora "o Israel de Deus" (Gálatas 6:16), composta por judeus (o remanescente de Israel, os judeus que aceitam o Cristo) e por gentios crentes (Efésios 2).

Além disso, Apocalipse 14:1-4 descreve os 144.000 como estando ao lado do Cordeiro, trazendo escritos na testa o nome dele, o que confirma tratar-se de um grupo cristão de seguidores de Jesus Cristo, pois também é dito que eles "seguem o Cordeiro por onde quer que ele vá" (Apocalipse 14:4). Os 144.000 também são descritos como aqueles que "haviam sido comprados da terra", e sabemos bem que os remidos da Igreja é que "foram comprados por alto preço" (1 Coríntios 6:20; 7:23).


Conclusão

Doze é o número usado para representar o povo de Deus, tanto no Antigo como no Novo Testamento. São Doze Tribos no Antigo e Doze Apóstolos no Novo. Sabemos também que o número mil representa plenitude como vemos em Apocalipse 20 e no Salmo 84:10: "Melhor é um dia nos teus átrios do que mil noutro lugar"; e até mesmo em expressões corriqueiras se percebe este uso do mil, tais como: "mil vezes mais" e "eu já ti falei mil vezes". Sendo assim, é bastante lógico concluir que o número 144.000 (12 X 12 X 1.000) está sendo utilizado para representar a totalidade do povo de Deus, a soma dos remidos do Antigo e do Novo Testamento, que também são representados pelos 24 anciãos e pelos sete candelabros.


A visão dos 144.000 em Apocalipse nos convida a ver a Igreja como o corpo único de Cristo, composto por todos os que creem. Que possamos viver essa unidade e cumprir nosso papel como embaixadores do Reino de Deus na Terra.


Bispo José Ildo Swartele de Mello

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