quarta-feira, 14 de março de 2018

João Batista foi a reencarnação de Elias?

Sabemos que os espíritas alegam que João Batista foi a reencarnação de Elias. No entanto, o próprio João Batista negou ter sido o Elias. "És tu Elias? E disse: Não sou." (Jo 1:21).

Outro argumento contra a idéia de que João Batista tenha sido a reencarnação de Elias reside no fato de que, no monte da transfiguração, apareceram Moisés e Elias (Lc 9:30-31). Mas, se João Batista fosse a reencarnação de Elias, ele deveria ter aparecido, e não Elias, pois o próprio João Batista já havia falecido na ocasião e a doutrina espírita diz que a última reencarnação é a que conta para uma aparição.

Além do mais, a doutrina espírita diz que é necessário morrer para poder reencarnar, no entanto, Elias jamais morreu. Ele foi arrebatado com corpo e tudo. (2 Reis 2:11). O que aconteceu com Elias foi o mesmo que aconteceu com Enoque que "foi trasladado para não ver a morte" (Hebreus 11:5). Portanto, nem Elias e nem Enoque morreram, pois ambos foram transladados para não verem a morte!

A Bíblia é enfática a respeito de que "aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo" (Hebreus 9:27). Portanto, só se vive uma vida, e, depois dela, vem o juízo final e não outras reencarnações assumindo personalidades distintas.

O Apóstolo Paulo, em 2 Coríntios 5:1, diz que "se a nossa casa terrestre deste tabernáculo se desfizer, temos de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus" e não novos corpos humanos, mortais e corruptíveis através de sucessivas reencarnações aqui na terra.

Enquanto os espíritas dizem que a reencarnação se faz necessária para pagar pelos pecados de vidas anteriores e também possibilitar o aperfeiçoamento do espírito através das boas obras, a Bíblia ensina que a salvação não se dá através das boas obras e nem de pagarmos pelos nossos pecados através do sofrimentos nesta ou em diversas outras existências, pois é através da fé no sacrifício único e perfeito de nosso Senhor Jesus Cristo. Por suas chagas somos sarados, purificados, santificados e salvos para a vida eterna na glória do céu! (Ef 2.8-10; Hb 10).

Agora, quando Jesus diz que João Batista "é Elias, que estava para vir" (Mt 11.14; Mt 17:10–13; Mc 9:11–13), ele não estava afirmando que João Batista seria literalmente Elias, mas que cumpria as profecias relacionadas a sua vinda (Ml 4:5), pois exerceria as funções relacionadas a ele. A ideia é que Elias representava os profetas do Antigo Testamento e João Batista foi o último dos profetas, concluindo o ciclo profético, tornando-se aquele que veio para preparar o caminho do Senhor! Há muitas semelhanças entre eles, pois ambos atuaram no deserto e assim como Elias foi perseguido pelo rei Acabe e por sua mulher, Jezabel. (1Rs 19:1-3; 21:20), João também foi perseguido pelo rei Herodes e por sua mulher, Herodias (Mt 14:3-5 e Mc 6:18-20).
Espero poder ter contribuído para uma melhor compreensão desta questão.

segunda-feira, 12 de março de 2018

A dúvida de um homem de fé

A dúvida de um homem de fé

Introdução:


"És tu aquele que estava para vir ou esperaremos outro?" (Lc 7.20).

A dúvida de João Batista tem a ver com o fato dos judeus esperarem um Messias guerreiro como Davi que venceu o Golias (1Sm 17) e não um bondoso e pacífico pastor que curava os enfermos. João Batista era um homem como nós, sujeito às mesmas fraquezas. Ele foi preso e estava prestes a ser degolado pelo perverso Rei Herodes, e não havia sido liberto daquela prisão por Jesus. Portanto, suas expectativas de que Jesus fosse um messias guerreiro e libertador político não estavam se cumprindo. A partir dos sinais do Reino de Isaías 35, Jesus provou para João que ele era de fato o Messias prometido:  "os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho" (Lc 7.22).

Existem muitas profecias que mostram o Messias atuando como um pastor que "apascentará o povo na força do Senhor... ele será a nossa paz" (Mq 5.4,5), pois Deus prometeu: "suscitarei para elas um só pastor, e ele as apascentará" (Ez 34.23). Em vez de liderar um exército armado de Israel, Deus disse que desarmaria o seu povo: "Destruirei os carros de Efraim, e os cavalos de Jerusalém; e o arco de guerra será destruído" (Zc 9.10). Pois o Messias é o Príncipe da Paz! No entanto, os judeus não costumavam dar muita atenção a tais sinais messiânicos, preferindo focar em textos como: "Pede-me e Eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por tua possessão. Com vara de ferro as regerás, e as despedaçarás como um vaso de oleiro" (Sl 2.8-9). Para eles, o messias assumiria um trono em um palácio em Jerusalém e derrotaria as nações opressoras.  Israel não esperava, de maneira alguma, que o Messias fosse o Servo Sofredor de Isaías 53, com uma postura de rei manso e humilde, que entraria em Jerusalém montado sobre um jumentinho, e que se portaria como ovelha muda diante de seus tosquiadores e como um bom pastor capaz de sacrificar sua vida para salvação de suas ovelhas.

Por conta de tais expectativas distorcidas, Jesus precisou discursar muito a respeito da verdadeira natureza de seu Reino, dizendo que seu reino não era deste mundo (Jo 18.36), seu trono não seria terreno, pois é sempre celestial (Ap 1: 4; 3:21; 4: 2,4-6, 9-10; 5:1, 6-7,11,13; 06:16; 7:9-11,15,17; 8:3; 12:5; 14:3; 16:17; 19:4-5; 20:4,11-12; 21:3,5; 22:1,3), e que "não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei- lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17:20). Jesus venceu a tentação política relativa aos reinos deste mundo (Mt 4:8-9). Disse a Pedro: “Embainha a tua espada” (Mt 26.52), pois seu reino não vem pela via da força e nem por violência (Zc 4:6; Mt 26:52). Jesus optou pela via da cruz, atraindo todos a si pelo seu amor sacrificial ali revelado (Jo 12.32). Veio como um rei manso e humilde (Lc 19 e Zc 9:9), para estabelecer um reino contrário ao espirito deste mundo. Um reino onde maior é o que serve e onde os últimos é que são os primeiros! (Lc 22.26) E felizes são os humildes, os que choram, os mansos, os que tem fome e sede de justiça, os misericordiosos e os que sofrem perseguição por causa de Cristo e seu reino de “justiça e paz e alegria no Espírito Santo” (Mt 5 e Rm 14:17).


O propósito desta mensagem é demonstrar como a profecia de Isaías 35 se cumpre plenamente em Jesus, o Cristo.


A Profecia de Isaías 35 e o seu Cumprimento em Cristo

• Parte desta profecia diz respeito a alegria do retorno de Israel depois da sua deportação à Babilônia em 587 a.C.
• Comparar com Isaías 51. A Redenção do Êxodo do cativeiro egípcio serve como analogia para a redenção do exílio babilônico, e ambos apontam para a plena redenção em Cristo!

Isaías 35.3 - Fortalecei as mãos frouxas e firmai os joelhos vacilantes.

• Hebreus 12.12 - Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos;
• Profecia e Cumprimento
• Isaías 35.4 - Dizei aos desalentados de coração: Sede fortes, não temais. Eis o vosso Deus. A vingança vem, a retribuição de Deus; ele vem e vos salvará.
• João 12.15 - Não temas, filha de Sião, eis que o teu Rei aí
• Marcos 6.50 - Tende bom ânimo! Sou eu. Não temais! Marcos 10.49 - Tem bom ânimo; levanta-te, ele te chama.
• Hebreus 6.18 - forte alento tenhamos nós que já corremos para o refúgio,

Isaías 35.4 - Dizei aos desalentados de coração: Sede fortes, não temais. Eis o vosso Deus. A vingança vem, a retribuição de Deus; ele vem e vos salvará.

• Lucas 4.18-21 - O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, 19 e apregoar o ano aceitável do Senhor. 21 Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir. (Lc 4.18–21 cp. Is 61:1–2).
• Colossenses 2:15 - Triunfou sobre os principados na Cruz
• João 12:31 - Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe será expulso.
• Lucas 10:18 - Eu via Satanás caindo do céu como um relâmpago.
• Ap 12:8-10 - O grande dragão foi lançado fora. Ele é a antiga serpente chamada Diabo ou Satanás, que engana o mundo todo. Ele e os seus anjos foram lançados à terra. Então ouvi uma forte voz dos céus que dizia: “Agora veio a salvação, o poder e o Reino do nosso Deus, e a autoridade do seu Cristo, pois foi lançado fora o acusador dos nossos irmãos.

Isaías 35.5–6 - Então, se abrirão os olhos dos cegos, e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; 6 os coxos saltarão como cervos, e a língua dos mudos cantará; pois águas arrebentarão no deserto, e ribeiros, no ermo.

• Mateus 11.5 - os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres está sendo pregado o evangelho.
• Atos 26.18 - para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim.

Isaías 35.8 - E ali haverá bom caminho, caminho que se chamará o Caminho Santo; o imundo não passará por ele, pois será somente para o seu povo; quem quer que por ele caminhe não errará, nem mesmo o louco.

• Jesus é o caminho. Ele chamou os cansados e sobrecarregados e os aliviou.
• João 14.6 - Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.
• Atos 2.28 - Fizeste-me conhecer os caminhos da vida, encher-me-ás de alegria na tua presença.

Isaías 35.9 - Ali não haverá leão, animal feroz não passará por ele, nem se achará nele; mas os remidos andarão por ele.

• Há linguagem figurada quando se fala de deserto se alegrando e também de não haver Leão e animais predadores neste caminho. O leão significa os poderosos e arrogantes que acham que podem conquistar o reino pela força e mérito. Veja o contraste com os loucos ou débio mentais que mesmo sendo inaptos não se perdem neste caminho. Não é dos fortes a vitória nem dos que correm melhor, mas dos humildes que se agarram a misericórdia divina. Deus da graça aos humildes, mas abate os soberbos. A soberba precede a derrota.
• Mateus 11.25 - Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos.
• Romanos 9.16 - Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.

Isaías 35.10 - Os resgatados do Senhor voltarão e virão a Sião com cânticos de júbilo; alegria eterna coroará a sua cabeça; gozo e alegria alcançarão, e deles fugirá a tristeza e o gemido.

• João 16.22 - Assim também agora vós tendes tristeza; mas outra vez vos verei; o vosso coração se alegrará, e a vossa alegria ninguém poderá tirar.
• Romanos 14.17 - Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo.
• Filipenses 4.4 - Alegrai-vos sempre no Senhor!

• Romanos 8.24 - Mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.
• Apocalipse 21.4 - E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram.

A plenitude da redenção e do Reino ainda é futura, mas uma boa parte já pode ser experimentada aqui e agora, em termos, não de comida e bebida, mas de justiça e paz e alegria no Espírito Santo. Pois já desfrutamos das primicias do Espírito e da vida abundante em Cristo!

Colossenses 1.13 - Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor.

Efésios 1.3 - Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo.


Bispo José Ildo Swartele de Mello



terça-feira, 6 de março de 2018

A Destruição atual de Damasco tem alguma coisa a ver com a profecia de Isaías?


Um erro grave é ler profecias bíblicas sem levar em consideração o seu contexto histórico. O profeta Isaías deixou claro que Damasco seria destruída e despojada naquele tempo pelo rei da Assíria: “Porque antes que o menino saiba dizer meu pai ou minha mãe, serão levadas as riquezas de Damasco e os despojos de Samaria, diante do rei da Assíria.” (Is 8.4).

Cerca de 738 aC, os sírios, liderados por Rezim, uniram forças com Peca, rei de Israel, para subjugar Judá. Muitas terras foram capturadas, embora o cerco de Jerusalém tenha sido mal sucedido (2 Rs 16: 5, 6; 2 Cr 28:5). Neste momento de aparente sucesso para Damasco, a destruição da cidade foi prevista por Isaías (8:4; 17:1), Amós (1:3-5) e Jeremias (49:23-27). Acaz de Judá fez uma aliança com os assírios em busca de proteção contra os sírios e Israel (reino do Norte). O rei assírio Tiglate-Pileser III concordou e marchou contra a confederação sírio-israelita. Depois de derrotar Israel, ele atacou Damasco, saqueou a cidade, deportou a população e os substituiu por estrangeiros de outras terras capturadas. Damasco, então, deixou de ser uma cidade-estado independente.

sexta-feira, 2 de março de 2018

O "homem da iniquidade" de 2 Tessalonicenses 2.3

O "homem da iniquidade" de 2 Tessalonicenses 2.3 certamente não é o anticristo porque os únicos quatro versículos que falam do anticristo ou dos anticristos os descrevem como falsos profetas cristãos gnósticos, adeptos do docetismo que negavam que Jesus havia vindo em carne. (1Jo 2.18; 1Jo 2.22; 1Jo 4.3 e 2Jo 7). 

Ainda que não possamos apontar com certeza, é possível que o "homem da iniquidade" seja a "Besta" mencionada no livro de Apocalipse, no caso, o Imperador Nero. Existem 3 referencias no capítulo 2 de 2 Tessalonicenses que indicam que tal sujeito estava por perto na época em que Paulo escreveu a carta: 1) "o que o detém", 2) "já opera" e 3) "aquele que agora o detém". 

Paulo ao escrever aos tessalonicenses, dizendo: "sabeis o que o detém", indica que eles tinham conhecimento de quem se tratava e que tinha a ver com os acontecimentos contemporâneos a eles. Sabemos que Paulo foi condenado a morte por volta do ano 68 dC, portanto, os seus últimos anos de vida foram vividos na época em que Nero era o imperador. E não se tem notícia de nenhum governante tão iníquo quanto Nero, que matou muitos membros de sua familia, até mesmo sua esposa grávida com vários chutes, incendiou Roma e culpou os cristãos. Perseguiu, torturou e matou milhares de cristãos e obrigava que as pessoas o adorassem como se fora Deus. João Crisóstomo e Agostinho afirmaram que o homem da iniquidade havia sido Nero.

quinta-feira, 1 de março de 2018

A Besta do Apocalipse

A Besta do Apocalipse


Por Bispo Ildo Mello

É comum ver os cristãos dos nossos dias lendo o Apocalipse como uma revelação de coisas que ainda estariam para acontecer, esquecendo-se de que o livro foi escrito há quase dois mil anos e que foi originalmente endereçado aos cristãos das sete igrejas da Ásia Menor que estavam realmente sofrendo terrível perseguição por parte do Império Romano. Parte das revelações diziam respeito a fatos contemporâneos a eles, outras a eventos que aconteceriam ainda naquela geração e, por fim, também encontramos revelações de coisas que só se cumprirão por ocasião da Segunda Vinda de Cristo. Portanto, antes de ser uma mensagem de Deus para nós aqui e agora, foi mensagem de Deus para eles, lá. Compreender o contexto daquelas igrejas do primeiro século e procurar interpretar a mensagem do Apocalipse a partir da ótica dele facilitará em muito a nossa compreensão do significado de figuras de linguagem como, por exemplo, a da Besta.

Vamos começar examinando a primeira descrição da Besta que encontramos no Apocalipse: “Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças” (Ap 13:1). Para os cristãos daquela época, não foi difícil concluir que tal descrição apontava para o imperador romano, pelas seguintes razões: 1) a península da Itália emerge do mar mediterrâneo. 2) Roma era conhecida como a cidade das sete colinas e 3) o Império Romano possuía 10 províncias: Acaia, Gália, África, Germânia, Ásia, Itália, Bretanha, Espanha, Egito e Síria.

Apocalipse 13.2 oferece mais detalhes : “A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão.” Isto nos leva a visão de Daniel capítulo 7 sobre “Quatro animais, grandes, diferentes uns dos outros, subiam do mar”(Dn 7.3). A visão de Daniel não deixa dúvidas a respeito do significado de cada um daqueles animais. “O primeiro era como leão” representando o Império Babilônico, o segundo animal era “semelhante ao urso”, figura do Império Medo Persa, o terceiro “semelhante a um leopardo e tinha nas costas quatro asas de ave; tinha também este animal quatro cabeças” (Dn 7.6), uma clara representação do Império Macedônico que foi dividido pelos 4 generais de Alexandre o Grande, e “o quarto animal, terrível, espantoso e sobremodo forte, o qual tinha grandes dentes de ferro; ele devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobejava; era diferente de todos os animais que apareceram antes dele e tinha dez chifres” (Dn 7.7), que certamente se refere ao Império Romano, por ser aquele que sucede ao Império Macedônico e seus 10 chifres representam as suas dez províncias e também por ter se tornado maior e mais poderoso que todos os anteriores. Tudo isto condiz com a descrição da Besta de Apocalipse 13 que é uma composição de forças de todos os impérios anteriores, “semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão”, sendo mais forte e terrível que todos e ainda possui igualmente “dez chifres”!

Se juntarmos a isto a descrição de Apocalipse 17.9-10, não restará dúvida a respeito da identidade da Besta, pois é dito que “as sete cabeças... são sete reis; dos quais caíram cinco, um existe e o outro ainda não chegou; e quando chegar, tem de durar pouco” (Ap 17:9-10). Os sete primeiros imperadores romanos, pela ordem, foram: 1) Julio Cesar, 2) Augusto, 3) Tibério, 4) Calígula, 5) Cláudio, 6) Nero e 7) Galba. Portanto, os cinco primeiros imperadores já haviam caído ou morrido, e este um que existia naquele momento era Nero, o sexto imperador Romano. O sétimo, que viria depois de Nero e que duraria pouco foi o imperador Galba, que reinou por apenas sete meses.

Nunca devemos nos esquecer que o livro de Apocalipse foi escrito para os cristãos das sete igrejas da Ásia Menor que estavam realmente sofrendo terrível perseguição por parte do Império Romano. Coloque-se no lugar deles e comece a interpretar as descrições apocalípticas do Dragão e da Besta. Essa perseguição estava sendo executada sob o poderio do Imperador, cujo nome, Nero César, equivalia a 666. João pede aos cristãos daquela mesma época que calculem para chegarem ao significado do 666, o que é mais uma prova de que se tratava de um monarca contemporâneo a eles.

É dito também que as pessoas “Adoraram a besta” (Ap 13.4); “Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias” (Ap 13.5). Sabemos que Nero ordenou que fosse construída em Roma uma imagem sua de quarenta metros de altura e que inscrições antigas foram encontradas em Éfeso exaltando Nero como “Salvador” e “Deus Todo-Poderoso”. Arrogante pretenção de ser idolatrado como se fora o próprio Deus. O culto ao imperador é blasfêmia e afronta ao único Deus verdadeiro.

Difícil encontrarmos na história um governador tão mau e pervertido como Nero, que mandou matar muitos membros de sua família. Ele chegou ao ponto de matar à ponta pés a sua própria esposa que estava grávida. Ele teve relações sexuais com sua própria mãe. Além disso, ele era homossexual e pedófilo. Casou-se oficialmente com um menino, que, posteriormente, mandou castrar. Ele era um maníaco sexual e um sádico estuprador, que gostava de se vestir como um animal selvagem para estuprar, ferir com os dentes os seus órgãos genitais e, por fim, matar muitos de seus prisioneiros, tanto do sexo feminino como do masculino.

A Besta recebeu “autoridade para agir quarenta e dois meses, e abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu. Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse”. (Ap 13.6–7). Nero botou fogo em Roma e pôs a culpa nos cristãos. A cruel perseguição de Nero aos cristãos durou realmente 42 meses, de meados de novembro do ano 64 ao início de junho do ano 68, quando ele, depois de matar tanta gente cristã, finalmente se matou quando tinha 31 anos de idade. Nero se deleitava em ver os cristãos sendo torturados e mortos nas arenas. Fala-se aqui da difamação de um tabernáculo celeste e não do templo terreno construído em Jerusalém. É esclarecido que o tabernáculo difamado são “os que habitam no céu”, são eles os membros do Corpo de Cristo, que foram assim descritos nos capítulos 6 e 7 de Apocalipse: “Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram.” (Ap 6.9–11). “São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro, razão por que se acham diante do trono de Deus e o servem de dia e de noite no seu santuário; e aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo.” (Ap 7.14–15).

Temos também a seguinte descrição da Besta: “Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta” (Ap 13.3). O Império Romano chegou à beira da morte quando Nero a incendiou em 64 D.C., Em um curto espaço de tempo, quatro imperadores foram mortos, houve três guerras civis, e inúmeras guerras estrangeiras irromperam ao redor do império. Josefo escreveu que Roma estava próxima da ruína e Tácito disse que aquele foi quase o fim do império. Somente com a subida de Vespasiano ao trono que Roma voltou a experimentar uma certa paz.

Veremos agora o significado do número da Besta. “Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis.” (Ap 13.18). João pede aos cristãos daquela mesma época que calculem e decifrem o número da Besta, o que é mais uma prova de que se tratava de um tirano contemporâneo a eles. O cálculo do número era possível para aqueles que estavam familiarizados com o alfabeto hebraico e seus equivalentes numéricos. Assim como as letras do alfabeto romano possuem valores numéricos, assim também acontece com as letras do alfabeto hebraico. Nero César em hebraico correspondia a Nrwn Qsr, cujo cálculo do número dava 666. João usou este código para não falar abertamente contra o imperador, tentando assim evitar ainda mais perseguição caso o livro caísse em mãos dos oficiais romanos.

Diante de tudo isto, fica fácil entender porque a Igreja Primitiva cria que Nero havia sido a Besta do Apocalipse. Nunca devemos nos esquecer que o livro de Apocalipse foi escrito para os cristãos das sete igrejas da Ásia Menor que estavam realmente sofrendo terrível perseguição por parte do Império Romano. Coloque-se no lugar deles e comece a interpretar as descrições apocalípticas da Besta e tire suas próprias conclusões!

*Quanto ao "homem da iniquidade" de 2 Tessalonicenses 2.3*, podemos afirmar com certeza que não se trata do anticristo porque os únicos quatro versículos bíblicos que falam do anticristo ou dos anticristos, os descrevem como falsos profetas cristãos daquela época, que eram gnósticos, adeptos do docetismo e que negavam que Jesus havia vindo em carne. (1Jo 2.18; 1Jo 2.22; 1Jo 4.3 e 2Jo 7). Portanto não devemos confundir a Besta ou o Homem da Iniquidade com o Anticristo.

O mais provável é que o "homem da iniquidade" seja realmente a "Besta" mencionada no livro de Apocalipse, que, como vimos, simbolizava o Imperador Nero. As razões para isto são as seguintes:

1. Em primeiro lugar, observa-se a existência de 3 referencias no capítulo 2 de 2 Tessalonicenses que indicam que tal indivíduo estava por perto na época em que Paulo escreveu a carta: 1) "o que o detém", 2) "já opera" e 3) "aquele que agora o detém".

2. Paulo ao escrever aos tessalonicenses, dizendo: "sabeis o que o detém", demonstra que eles tinham conhecimento de quem se tratava este tal “homem da iniquidade”. Isto é um forte indício de que este iníquo estava relacionado aos acontecimentos contemporâneos a eles, pois eles sabem o que é que está detendo o seu surgimento. Sabemos que Paulo foi condenado a morte por volta do ano 68 dC, portanto, os seus últimos anos de vida foram vividos na época em que Nero era o imperador.

3. Além do mais, não se tem notícia de nenhum governante tão iníquo quanto Nero, que matou muitos membros de sua familia, até mesmo sua esposa grávida com vários chutes, incendiou Roma e culpou os cristãos. Perseguiu, torturou e matou milhares de cristãos e obrigava que as pessoas o adorassem como se fora Deus.

4. Por fim, temos notórios cristãos do passado, como João Crisóstomo e Agostinho, que afirmaram categoricamente que o homem da iniquidade havia sido Nero.

Agora, identificar a Besta e o Homem da Iniquidade com Nero que infringiu terrível perseguição aos cristãos por 42 meses não esgota o seu significado para a Igreja que, no decorrer da história, tem sido perseguida por outras Bestas. Os 42 meses de perseguição nos fazem lembrar dos 42 acampamentos de Israel no período em que peregrinou no deserto antes de entrar na Terra Prometida (Números 33). Isto é também símbolo de nossa própria peregrinação nesta terra até chegarmos a Nova Jerusalém. “Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.“ (Rm 8.36–39).

Para saber mais a respeito, recomendo a leitura do livro Escatologia Vitoriosa de Harold Eberle e Martin Trench, Editora JOCUM.






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