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6 visões de Isaías 6



6 visões de Isaías 6


(Isaías 6.1-8)

1. Visão do caos


Isaías vive num contexto de verdadeiro caos espiritual, que ele começa a descrever já no primeiro capítulo: “Ai desta nação pecaminosa, povo carregado de iniquidade, raça de malignos, filhos corruptores; abandonaram o Senhor, blasfemaram do Santo de Israel e voltaram para trás… toda cabeça está doente e todo o coração enfermo… A vossa terra está assolada, as vossas cidades consumidas pelo fogo; a vossa lavoura os estranhos a devoram em vossa presença” (v.4-7); O próprio culto estava contaminado: “Não posso suportar iniquidade associada ao ajuntamento solene” (v.13). Era um período de profundo declínio moral e espiritual (3.5-26). A idolatria tomava conta do cenário religioso (2.18); o rico oprimia o pobre; “cada um deles ama o suborno” (1.23), homens e mulheres negligenciavam suas famílias em busca do prazer carnal; muitos dos sacerdotes e profetas tornaram-se bêbados e interesseiros (5.7-12,18-23; 22.12-14). A última frase do capítulo 5 é um resumo do caos: “se alguém olhar para a terra, eis que só há trevas e angústia, e a luz se escurece em densas nuvens”. Esta é a visão que Isaías tem da terra. Parece que o mal prevaleceu sobre o bem. O mundo parece estar de pernas para o ar. O Diabo parece estar no comando, pois as trevas estão obscurecendo a luz. Onde está Deus? Isaías vai ao templo em busca de resposta.

2. Visão de Deus em meio ao caos


A visão que Isaías tem de Deus em meio a todo o caos nacional é do Senhor “Assentado” no trono. Deus Não está agitado, correndo de um lado para o outro, nem aflito; Mas está tranquilo no controle de tudo e continua sendo o mesmo Deus glorioso e tremendo em seus grandes feitos! Isto no faz lembrar da ação criativa do Espírito Santo que pairava soberanamente sobre a Terra quando ela ainda estava em trevas e sem forma e vazia para que do caos surgisse a vida, a beleza e a ordem (Gn 1.2)! Deus não está indiferente ao que se passa na terra (3.13-26). Ele tem um plano de restauração (4.1-6; 6.8). Deus reina soberanamente e tem um caminho na tormenta (Naum 1.3)! Ele dará ordem para que haja luz (Gn 1.3)!Há muitos anos atrás, numa madrugada fria, meu coração havia sido tomado por uma grande tristeza. Não conseguia dormir. Então, fui assistir televisão para tentar espairecer um pouco, quando me deparei com estas duas excepcionais intérpretes cantando esta inspirada canção que diz que Deus tem o mundo inteiro em suas mãos! (vide vídeo abaixo).O impacto foi tremendo! Instantaneamente, despertei daquele estado melancólico. “O que eram os meus problemas diante daquele que tem o mundo inteiro em suas mãos?” Fui tomado por grande emoção diante da grandeza de Deus. Em meio a lágrimas e sorrisos de alegria, todo o meu fardo se foi, dando lugar a uma paz extraordinária que deliciosamente invadiu o meu coração, fruto de uma imensa certeza de que todo o meu futuro estava nas mãos do ser mais poderoso e bondoso de todo o universo.




3. Visão da adoração em meio ao caos


As Circunstâncias são ruins, mas Deus é adorado, pois permanece digno de louvor. Os anjos dizem constantemente: Santo, Santo, Santo (6.3)! Pois Deus não é o culpado pelo mal que há na terra (5.16). Este é produto da desobediência humana (5.24). Os homens estão colhendo o que eles mesmos plantaram, como sinal do juízo de Deus sobre o pecado (Is 3.11; 4.12; 5.24,25; Gl 6.9). Eles tiveram escolha, mas optaram por afastarem-se de Deus, trazendo sobre si o justo juízo, fazendo o mal a si mesmos (3.9, 11; 1.19-20). Pois “a arrogância do homem será abatida, e a sua altivez será humilhada; só o Senhor será exaltado naquele dia” (2.17). É possível discernir a poderosa mão de Deus em meio ao caos, de modo que os anjos estão cantando: “Toda a terra está cheia da sua glória” (6.3)!

Em meio ao caos, Deus é adorado! Não é certo deixar de adorar a Deus alegando indisposição e nem adorá-lo apenas quanto tudo nos vai bem, pois devemos adorar a Deus em todo o tempo, assim como Habacuque que exclamou (3.17-18): “Ainda que a figueira não floresce, nem há fruto na vide; o produto da oliveira mente, e os campos não produzem mantimento; as ovelhas foram arrebatadas do aprisco e nos currais não há gado, TODAVIA eu me alegro no Senhor exulto no Deus da minha salvação.” Habacuque podia agir assim, pois bem sabia que “o justo vive pela fé” e não se deixa levar pelas circunstâncias (Hc 2.4b). “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.” (Hb 11.1).

Portanto, não devemos ser cristãos de temporada, que são guiados por vista, por circunstâncias, movidos pelos “embalos de Domingo a noite”. Nossa fé em Deus não pode estar baseado em nossos sentimentos e nem nas circunstâncias ao nosso redor, por serem relativos e inconstantes. Deus segue sendo Deus a despeito das tribulações da vida, quer chova ou faça sol, seja em tempos de paz ou de guerra, de fartura ou de carestia, quer estejamos sadios ou doentes, pois “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para sempre” (Hb 13.8)! Precisamos ser como Paulo que disse (Fl 4.11, 12): “aprendi a viver contente em toda e qualquer situação… tudo posso naquele que me fortalece”. “Não vos entristeçais, pois a alegria do Senhor é a vossa força” (Ne 8.10b). Não é a alegria das circunstâncias, não é a alegria e nem a paz deste mundo. É algo que vem do Senhor e que excede a todo entendimento humano. É alegria que transcende a razão secular. A despeito da situação, dos problemas, das vicissitudes da vida, Deus segue sendo Deus e a Cruz continua sendo um evento histórico e redentor que alterou o curso da história humana. Nada pode alterar o fato de que Jesus ressuscitou, a alegria daquele dia ninguém pode nos tirar (Jo 16.22)!; A estrela brilhou de modo especial naquela Noite de Natal, os anjos apareceram aos pastores, a profecia se cumpriu, Jesus nasceu! O Verbo se fez carne! Os problemas e as mazelas desta vida não podem nos separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação?” (Rm 8.35). As circunstâncias não podem alterar a realidade de que Jesus é o Senhor e Salvador e nem de que Deus é Santo, Santo e Santo! Glória a Deus nas maiores alturas!

4. Visão de si mesmo em meio ao caos


Diante de Deus, Isaías vê o seu próprio pecado e diz: “ai de mim!” (v. 5). Isaías não atenta primeiramente para o pecado do vizinho; ele não desculpa o seu pecado e nem busca um “bode expiatório”, queixando-se de sua herança genética tentando, assim, minimizar sua responsabilidade e nem apela para as circunstâncias desfavoráveis ao seu redor ou para artimanha dos demônios e nem muito menos coloca a culpa em Deus, pelo contrário, ele se queixa dos seus próprios pecados, assumindo a sua responsabilidade e reconhecendo sua culpa.

A cura começa com a confissão do próprio pecado, ou seja, com o reconhecimento de que o caos não é apenas algo externo, mas também interno. Isaías sabe que não pode subsistir diante de Deus na base do seus próprios méritos, então, ele clama por misericórdia. Ele entende que até pode levar vantagem se quiser se comparar com determinados pecadores, mas vê-se totalmente perdido diante da pureza divina. A santidade e a luz da glória de Deus revelam a perversidade do seu coração. Assim diz o Senhor: “Porque, pois, se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus próprios pecados.” Façamos como Jeremias e Isaías: “Esquadrinhemos os nossos caminhos, provemo-los, e voltemos para o Senhor” (Lm 3.39-40).

5. Visão da bênção em meio ao caos


Deus se compadece e envia serafins para purificarem os lábios de Isaías (v. 6, 7); Ação misericordiosa e graciosa de Deus que aponta para a obra redentora de Jesus Cristo. Deus não abandona o homem a própria sorte, mas intervém na história promovendo salvação (Is 9.1-7; Jo 3.16). Ainda que Isaías tenha vivido cerca de 700 anos antes de Jesus, ele descreve o Cristo de modo tão detalhado (9.6)!

A bênção que temos em Cristo é extraordinária: “já fomos abençoados com toda sorte de bênçãos e graças espirituais em Cristo Jesus” (Ef 1.3); Fomos purificados de modo ainda mais especial do que Isaías: “Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós abundantemente, por meio de Jesus Cristo nosso Senhor.” (Tt 3.5,6). Jesus disse: “Já estais limpos pela Palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3); João disse: “… O sangue de Jesus, Seu Filho, nos purifica de todo pecado” (1 Jo 1.7).

6. Visão da sua missão em meio caos


O Encontro com Deus traz bênção e missão; purificação e serviço (v. 6-8). Após sua purificação, Isaías é convocado por Deus e enviado com uma missão ao mundo (v. 8). O mesmo vemos no episódio do chamado de Abraão registrado em Gênesis 12.2. Primeiramente, Deus diz a Abraão: “…de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome”; E, logo depois, diz: “Sê tu uma bênção!”

As bênçãos são como os talentos descritos na famosa Parábola de Mateus 25; Não podem e nem devem ser “enterradas” e nem existem para serem guardadas e conservadas intactas; Antes, precisam render e produzir frutos; Se não, corre o risco de ser considerada nula (Jo 15)! Pois aquele que é abençoado por Jesus, deve ele próprio ser uma bênção. Aquele que bebe da água da vida, não tornará apenas a não ter mais sede de novo, mas também se tornará uma fonte a saltar para a vida eterna (Jo 4). Devemos ser como a luz que não existe para ser guardada, mas, sim, para ser espalhada em benefício de todos ao redor! Fomos chamados a fazer diferença no Mundo!
Conhece aquele cântico que diz: “você veio buscar uma missão? Missão Jesus tem pra dar”? Eu também não! Isto porque muitas pessoas costumam buscar apenas as bênçãos, mas não estão interessadas em servir a Deus neste mundo. Se apenas um dos dez leprosos curados voltou para agradecer a Jesus, quão poucos não serão os que retornam para servir!

Precisamos ter cuidado com a mentalidade utilitarista e egoísta que visa apenas ao interesse pessoal; que usa e depois joga fora como se algo descartável fosse. Infelizmente, tal atitude tem tomado conta da nossa sociedade, a ponto de adentrar nas igrejas. A igreja não é supermercado, onde os cristãos seriam os fregueses. Hoje, muitos trocam de igreja com a mesma facilidade com que trocam de supermercado. Estão sempre em busca de melhores ofertas. Se sentem como fregueses, como clientes e não como servos. Não estão dispostos a servir para suprir as necessidades da igreja local, não se sentem responsáveis. São melindrosos, imaturos, bebês que precisam ainda de mamadeira. E a igreja também não é um navio, onde os cristãos seriam os turistas. Mas se a igreja fosse um navio os cristãos seriam a tripulação e não meros passageiros. Longe de nós tal mentalidade sanguessuga e parasita, que nada tem a ver com seguir os passos de Cristo, que veio para servir e não para ser servido.

Concluindo:


A visão de que Deus está assentado num alto e sublime trono, reinando sobre tudo, tendo o mundo todo em suas mãos nos anima, revigora, enche o coração de alegria e confiança diante das tribulações e desafios da vida.

Adoremos a Deus por quem Ele é, e por tudo que Jesus fez. Não sejamos inconstantes. Nosso relacionamento com Deus, nossa salvação, nossa paz e alegria, e nossa adoração não dependem dos nossos sentimentos e das circunstâncias muitas vezes caóticas que nos rodeiam, mas devem estar edificados no firme fundamento da fé em Jesus e nos seus atos redentores e históricos e imutáveis registrados nas Escrituras.

O encontro com Deus produz o humilde reconhecimento do nosso pecado e culpa, conduzindo-nos ao arrependimento. Não há lugar para desculpas ou para transferência de culpa, quando estamos diante daquele que é Santo e que sabe todas as coisas. Cônscios dos nossos próprios pecados, não nos sentimos à vontade para apontar o cisco que porventura esteja no olho do nosso semelhante (Mt 7.3) e nem para sermos murmuradores e nos queixarmos dos outros e das circunstâncias, a não ser dos nossos próprios pecados. Cônscios também da gravidade dos nossos pecados, não ousamos confiar em nossos próprios méritos, mas assumimos a nossa inteira dependência da graça perdoadora de Deus, o que nos leva a sermos também misericordiosos com os que pecam contra nós (Mt 6.12).

Por fim, Deus nos concede bênçãos para que possamos ser bênçãos. Os talentos que Deus nos concede não devem ficar estagnados, precisam ser aplicados para poderem render (Mt 25). As bênçãos que um ramo recebe da raiz da árvore visam conceder-lhe as condições necessárias para frutificação. Mas, se não produzir os devidos frutos, corre o risco de ser cortado e lançado fora (Jo 15).

O justo viverá pela fé e não por circunstâncias. O cristão é cheio de esperança, confiança, alegria, tudo regado com muita humildade, amor e espírito misericordioso. Ele não é utilitarista; não busca apenas o que é seu, mas busca o bem comum, a unidade da Igreja e a glória de Deus; não busca apenas receber, mas aprendeu a servir, pois recebeu de Jesus o exemplo, a bacia e a toalha (Jo 13.5).

Bispo José Ildo Swartele de Mello




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