sábado, 18 de outubro de 2025

O Pastor Wesleyano: Guardião da Fé, Educador do Povo e Servo de Cristo

 O Pastor Wesleyano: Guardião da Fé, Educador do Povo e Servo de Cristo

Uma reflexão teológica e pastoral à luz da tradição wesleyana

1. Introdução: O papel pastoral na tradição wesleyana

Ao longo dos séculos, diferentes visões sobre o ministério pastoral moldaram a vida da Igreja. Na tradição wesleyana, entretanto, o pastor é compreendido essencialmente como servo de Cristo e da Igreja, alguém que conduz o povo de Deus à maturidade espiritual por meio da fidelidade à Palavra, da piedade prática e de uma vida pastoral marcada pela graça e pelo serviço. Esta reflexão propõe destacar traços característicos desse ministério, sem necessidade de contrapor explicitamente outras formas de liderança, mas permitindo que o contraste surja naturalmente a partir da clareza do perfil apresentado.

2. Fundamento teológico: Cristo, a Palavra e a Igreja

Na tradição wesleyana, a centralidade de Cristo é inegociável. O pastor não conduz a igreja a si mesmo, mas sempre a Cristo, único Senhor e Cabeça da Igreja (Cl 1.18). Sua autoridade é derivada, não própria. A Palavra de Deus é sua norma e medida (2Tm 3.16–17), e a Igreja, o espaço no qual essa Palavra é ensinada, vivida e compartilhada em comunhão. Assim, a vocação pastoral se configura como um serviço humilde e perseverante à comunidade.

3. O pastor como guardião da fé apostólica

Ser pastor, na perspectiva wesleyana, significa zelar pela fé recebida dos apóstolos. Não se trata de conservar tradições humanas, mas de permanecer firme na verdade revelada (2Ts 2.15). A tarefa de guardar 'o bom depósito' (2Tm 1.14) exige clareza doutrinária, espírito vigilante e coração pastoral. John Wesley compreendia a doutrina como 'religião do coração': não apenas ideias, mas verdades que geram vida. Por isso, ao ensinar, o pastor forma discípulos sólidos, capazes de discernir e permanecer firmes em tempos de confusão.

4. O pastor como educador espiritual do povo de Deus

O movimento metodista nasceu marcado por forte vocação educadora. Wesley percebia que a fé precisava ser nutrida por meio de ensino bíblico consistente e acompanhamento pessoal. Assim, o pastor não é apenas pregador, mas educador espiritual, ajudando o povo a crescer no entendimento e na prática da fé. Por meio da pregação, do discipulado e da formação comunitária, ele promove amadurecimento espiritual (Ef 4.11–16). Não visa dependência, mas maturidade.

5. O pastor como servo-líder

Seguindo o exemplo de Cristo, que 'não veio para ser servido, mas para servir' (Mc 10.45), o pastor wesleyano exerce autoridade com humildade. Sua liderança é marcada mais por exemplo do que por imposição. Ele ouve, orienta e caminha com o rebanho, cultivando relações de confiança e cooperação. Como Wesley afirmava, um líder cristão é servo dos servos de Deus.

6. O pastor como agente de santificação comunitária

A santidade pessoal e comunitária ocupa lugar central no ministério wesleyano. O pastor é chamado a conduzir a igreja na busca da 'santidade sem a qual ninguém verá o Senhor' (Hb 12.14). Isso inclui proclamar com clareza o chamado ao arrependimento, estimular práticas devocionais e promover um ambiente de cuidado mútuo, confissão e oração. A meta não é produzir seguidores, mas formar discípulos que reflitam o caráter de Cristo.

7. O pastor como missionário e mobilizador

Wesley declarou certa vez: 'O mundo é a minha paróquia'. Essa frase revela a convicção de que o pastor não se limita aos que já estão na comunidade de fé, mas lidera o povo de Deus a alcançar os que estão fora dela. Evangelismo, ação social, compaixão e proclamação da esperança são dimensões inseparáveis do seu ministério. Ele inspira outros a viverem como testemunhas, não apenas a participarem de estruturas internas.

8. Conclusão: O perfil pastoral que serve ao Reino

O pastor wesleyano é guardião da fé, educador espiritual, servo-líder, promotor de santidade e mobilizador missionário. Sua autoridade nasce do Evangelho e é exercida em amor. Mais do que aplicar métodos, ele encarna uma forma de ser e servir que conduz o povo a Cristo. Num tempo em que muitos modelos de liderança eclesial competem entre si, o simples testemunho desse perfil pastoral fala por si mesmo.

Notas

1. John Wesley, The Works of John Wesley, ed. Thomas Jackson (Grand Rapids: Baker, 1978), vol. 8.
2. Richard P. Heitzenrater, Wesley and the People Called Methodists (Nashville: Abingdon, 1995).
3. Albert C. Outler, John Wesley (New York: Oxford University Press, 1964).
4. Bíblia Sagrada, versão Nova Almeida Atualizada.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Não fale o nome de Deus em vão

Quando alguém usa o nome de Deus em vão

 

Quando alguém usa o nome de Deus em vão

O terceiro mandamento ordena: “Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão, porque o Senhor não terá por inocente aquele que tomar o seu nome em vão” (Êx 20.7).
Tomar o nome de Deus em vão significa usá-lo de forma leviana, mentirosa ou desrespeitosa. A seguir estão exemplos práticos:

1. Usar o nome de Deus para dar credibilidade a mentiras

Quando alguém diz “Deus me disse” ou “Deus mandou” sem que isso seja verdadeiro, usa o nome de Deus para manipular ou se justificar.
(Mt 5.33–37; Jr 23.25–31; Dt 18.20)

2. Fazer juramentos falsos

Usar o nome de Deus em promessas ou juramentos sem intenção de cumpri-los ou mentindo é pecado.
(Lv 19.12; Mt 5.34–37; Tg 5.12)

3. Usar o nome de Deus de forma banal

Falar “meu Deus” ou “Jesus” sem reverência, como bordão ou muleta de linguagem, é tomar o nome de Deus em vão.
(Sl 111.9; Mt 6.9)

4. Associar o nome de Deus a causas injustas

Invocar Deus para apoiar atitudes contrárias à sua vontade é profanação.
(Mt 7.21–23; Ez 36.20–23; Rm 2.24)

5. Fazer votos ou promessas religiosas irresponsáveis

Prometer servir ou consagrar algo a Deus sem cumprir é usar seu nome em vão.
(Ec 5.4–6; Dt 23.21–23; Mt 21.28–31)

6. Usar o nome de Deus para autopromoção

Líderes ou pessoas que usam o nome de Deus para obter poder, fama ou dinheiro estão profanando o nome divino.
(Mt 7.15–23; 2Pe 2.1–3; Mt 23.5)

7. Hipocrisia religiosa

Professar fé e viver de modo contrário ao Evangelho desonra o nome de Deus.
(Is 29.13; Tt 1.16; Rm 2.23–24)

8. Brincadeiras ou piadas com o nome de Deus

Fazer humor com o nome de Deus demonstra falta de reverência.
(Gl 6.7; Sl 139.20; Ef 5.4)

9. Repetir expressões religiosas sem fé verdadeira

Orar ou usar expressões como “em nome de Jesus” de forma automática e sem convicção é usar seu nome em vão.
(Mt 6.7; Is 29.13; Mc 7.6)


Conclusão

Tomar o nome de Deus em vão não se limita a palavrões ou blasfêmias. Inclui toda atitude leviana, hipócrita ou manipuladora em relação ao seu nome. Devemos falar e agir com reverência e verdade, conscientes de que o nome de Deus é santo.

“Tudo o que fizerem, seja em palavra, seja em ação, façam em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai.” (Cl 3.17)

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Romanos 10 - Comentário

Romanos 10 - Comentário

Perguntas Introdutórias

  1. Se Deus cumpriu sua aliança em Cristo, por que muitos judeus não creram? 2) O que significa dizer que Cristo é o telos da Lei (Rm 10.4)? 3) Como a salvação se apropria no presente e se consuma no último dia? 4) Qual é a marca do povo de Deus hoje e qual é a tarefa da igreja?

Tese: Em Romanos 10 Paulo mostra que a justiça de Deus se manifestou em Cristo e se apropria pela fé, de modo universal (judeus e gentios), através de uma resposta integral: crer com o coração e confessar com a boca. A Lei encontra seu clímax e término como via de justiça em Cristo, e a missão torna-se o elo necessário: enviados → anunciam → ouvem → creem → invocam → são salvos (Rm 10.14–17).


1) 10.1–4 — Zelo sem conhecimento e o Fim (telos) da Lei

Exposição

Paulo abre com dor pastoral: “o desejo do meu coração e a súplica… é que sejam salvos” (10.1). Ele reconhece zelo em Israel, mas “não com entendimento” (10.2). O problema: ignoram a justiça de Deus e “buscam estabelecer a sua própria”, não se sujeitando a ela (10.3). A razão decisiva: “Cristo é o telos da Lei para justiça a todo o que crê” (10.4).

Notas exegéticas

  • “Justiça de Deus” em Romanos carrega o eixo de fidelidade de aliança revelada no evangelho e dom gratuitoque constitui o povo (cf. 1.16–17; 3.21–26).

  • “Sua própria justiça”: não é apenas “entrar” no povo, mas “manter-se de pé” com base no desempenho legal (cf. Fp 3.4–9).

  • Telos = clímax/objetivo e, no plano salvífico-histórico, término da Lei como via de justiça. A Lei testemunhaCristo, mas não é mais o meio de justificação/santificação (cf. 2Co 3.7–14; Gl 3.23–25).

Teologia e síntese

justiça que salva é de Deus em Cristo; o ser humano submete-se a ela pela fé. No nosso vocabulário wesleyano: é a graça que desperta e convence, conduzindo à fé obediente que salva e santifica.

Aplicações

  • Zelo não é critério de verdade (10.2). Piedade sem evangelho não salva.

  • Pastores: interceder e evangelizar. A dor pastoral vira missão (10.1).


2) 10.5–13 — Deuteronômio 30 cumprido em Cristo: fé que crê e confessa

Exposição

Paulo contrapõe vozes:

  • Moisés sobre a justiça “da Lei”: “o homem que praticar viverá por elas” (Lv 18.5; 10.5).

  • “A justiça da fé” fala com as palavras de Dt 30.12–14não é subir ao céu nem descer ao abismo; a Palavra está perto (10.6–8).
    Clímax: “Se com a boca confessares Jesus é Senhor e no coração creres que Deus o ressuscitouserás salvo” (10.9–10). Promessa universal: “todo o que nele crê não será envergonhado” (Is 28.16; 10.11); “todo o que invocar o nome do Senhor será salvo” (Jl 2.32; 10.13). Não há distinção entre judeu e grego (10.12).

Notas intertextuais

  • Paulo faz uma variação sapiencial de Dt 30: o que Israel aguardava (fim do exílio, coração circuncidado, Palavra pertochegou em Cristo.

  • Jesus é Senhor”: confissão batismal e contracultural (no império, “Senhor” era César), agora aplicada ao Senhor do AT (Jl 2.32).

Teologia e síntese

Salvação é dom próximocrer (coração) + confessar (boca). A fé justifica e a confissão salva (10.10) — linguagem que une status e processo (início e percurso), compatível com a ênfase wesleyana: a graça salva e santifica; a confissão pública marca a incorporação no povo renovado.

Aplicações

  • Chamado claro ao arrependimento e à confissão pública de Cristo.

  • Igreja sem barreiras: o mesmo Senhor é rico para com todos (10.12).


3) 10.14–21 — A cadeia missionária e a incredulidade prevista

Exposição

Paulo deduz a necessidade da missãoenviar → pregar → ouvir → crer → invocar (10.14–15,17). Contudo, “nem todos obedeceram ao evangelho” (10.16; Is 53.1). Isso não invalida o plano; foi previsto:

  • voz já ecoou (Sl 19; 10.18).

  • Deus provocaria ciúmes em Israel por meio de um “não-povo” (Dt 32.21; 10.19).

  • Deus se deixou achar por quem não buscava (Is 65.1–2; 10.20–21).

Teologia e síntese

A missão aos gentios cumpre as Escrituras e serve ao propósito de restaurar Israel (ponte para Rm 11). A fé vem pelo ouvir da palavra de Cristo (10.17).

Aplicações

  • Prioridade missional: sem enviadosninguém crê. Invista em formar mensageiros.

  • Humildade: a incredulidade de alguns não desautoriza o evangelho; persista.


Tópicos teológicos de Romanos 10

  1. Justiça de Deus: fidelidade de aliança revelada em Cristo e comunicada pela fé (3.21–26; 10.3–4).

  2. Cristo, telos da Lei: a Lei chega ao seu alvo e cessa como caminho de justiça; permanece como testemunho(2Co 3; Gl 3–6).

  3. Resposta integralcoração (crer) + boca (confessar) = apropriação presente e honra no juízo (10.9–11).

  4. Universalidadenenhuma distinção; a mesma via para todos (10.12–13).

  5. Economia da missão: Deus salva por meio da pregação; por ela nasce fé (10.14–17).

  6. História da salvação: a entrada dos gentios e a resistência de Israel estavam no roteiro bíblico (10.18–21).


Esboço

  • “Zelo que salva? Só com conhecimento” (10.1–4): contraste entre piedade autossuficiente e submissão à justiça de Deus.

  • “Tão perto quanto a boca e o coração” (10.5–13): Dt 30 em Cristo; convite a crer e confessar.

  • “Como crerão… se não há quem pregue?” (10.14–17): convocação para enviar e ser enviado.

  • “Deus de mãos estendidas” (10.21): paciência e misericórdia como moldura do juízo.


Aplicações pastorais

  1. Graça que desperta, convence, salva e santifica: dê espaço ao apelo que una  e entrega pública (10.9–10).

  2. Cuidado com moralismozelo sem evangelho tropeça em Cristo (10.2–3, 33).

  3. Discipulado como confissão contínua: a boca que confessa no batismo deve continuar confessando na vida (Tg 3; Rm 12.1–2).

  4. Missões e envio: estabeleça cadeias missionais (formação → envio → pregação) e meça ministérios por ouvir-crer-invocar (10.14–17).

  5. Acolhimento radical: estruture a comunidade para “todos” (10.11–13), derrubando barreiras étnicas, rituais e socioculturais (Ef 2.11–22).


Conclusão

Romanos 10 é o coração prático de 9–11: a fidelidade de Deus atinge seu clímax em Cristo; a marca do povo é a fé confessante; e o método de Deus é a pregação que faz a Palavra chegar tão perto quanto a boca e o coração. Entre a dor pastoral (10.1) e a misericórdia universal (11.32), a igreja vive enviando e confessando para que “todo o que invocar o nome do Senhor seja salvo” (10.13).

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Seja um Evangelista — Missão, Fundamentos e Prática

 📖 Seja um Evangelista — Missão, Fundamentos e Prática

Por Bispo Ildo Mello

1) Jesus: o maior evangelista e nosso modelo

Quem foi o maior evangelista de todos os tempos? Jesus. Ele mesmo declarou: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me para proclamar libertação aos cativos, restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos” (Lc 4.18).

Antes de subir aos céus, disse aos seus discípulos: “Assim como o Pai me enviou, eu também envio vocês” (Jo 20.21). E então ordenou: “Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estarei com vocês todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28.18–20).

Evangelizar, portanto, não é uma ideia humana: é a extensão da missão de Cristo no mundo, realizada através da Igreja.


2) O que é evangelizar?

Evangelizar é anunciar as boas-novas — a mensagem de que Deus oferece perdão, reconciliação e vida eterna por meio da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo (1Co 15.1–4; Jo 3.16).

Evangelizar é chamar pessoas ao arrependimento e à fé: “Deus manda que todos, em todos os lugares, se arrependam” (At 17.30; Mc 1.15; At 2.38).

Evangelizar é cooperar com o Espírito Santo, que convence o ser humano do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). Nós falamos — Ele convence (At 1.8).


3) Minhas primeiras experiências de evangelismo

Quando tive meu despertamento espiritual, aos 16 anos, senti fortemente no coração o desejo de compartilhar a fé com meus amigos. Comecei a orar todos os dias por colegas de escola e do bairro.

Nos acampamentos da igreja, comecei a convidá-los: no primeiro, levei quatro ou cinco amigos; no segundo, vinte. Muitos deles se converteram ali mesmo, impactados pela Palavra e pelo convívio cristão.

No último ano do colegial, reuni meus colegas cristãos — de diferentes denominações — e li com eles: “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16).

Propus que evangelizássemos a escola juntos, no intervalo das aulas. Quando sugeri que alguém pregasse, ninguém se apresentou — foi como na cena dos Três Patetas: todos deram um passo atrás. Então criamos uma escala de testemunho, até para quem havia se convertido havia apenas um mês!

Cantávamos louvores no pátio, compartilhávamos mensagens e testemunhos, e logo uma multidão de estudantes nos cercava. Dessa iniciativa, surgiram seis pastores. Ver isso acontecer me ensinou uma verdade simples e poderosa: Deus usa pessoas comuns, quando se dispõem.


4) Por que evangelizar? (quatro fundamentos inegociáveis)

Necessidade universal — Todos pecaram e estão separados de Deus (Rm 3.23; Is 59.2).

Só Cristo salva — “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6; At 4.12).

Urgência existencial — “Está ordenado aos homens morrerem uma só vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9.27; 2Co 6.2).

Obediência amorosa — Se amamos a Cristo, obedecemos seus mandamentos (Jo 14.15; Mt 28.18–20).


5) Evangelismo no cotidiano — exemplos reais

Mais tarde, no ambiente de trabalho, experimentei como o testemunho silencioso e coerente também evangeliza. Lembro-me de dois colegas que, no início, não sabiam absolutamente nada sobre o que significava ser evangélico. Quando descobriram que eu era seminarista, ficaram curiosos. Não aceitei discussões forçadas, mas vivi de modo íntegro.

Um deles, após um ano e meio, enfrentou uma crise pessoal profunda e, humildemente, se aproximou pedindo oração. Aquilo me marcou: percebi que o bom testemunho abre portas que palavras sozinhas não abririam (Mt 5.16; 1Pe 3.15).


6) O que fundamenta nossa proclamação (argumentos fortes)

6.1 Base bíblica sólida

Grande Comissão — O imperativo central é “fazei discípulos”; “indo, batizando e ensinando” são os meios para cumpri-lo (Mt 28.18–20).

Valor humano — Cada pessoa foi criada à imagem de Deus (Gn 1.26–27). Evangelizar é amar o próximo.

Amor que constrange — “O amor de Cristo nos constrange” (2Co 5.14–15).

Palavra da reconciliação — “Deus nos confiou a palavra da reconciliação” (2Co 5.18–20).

6.2 Evidências centrais do Evangelho

Ressurreição de Cristo como fato histórico (1Co 15.3–8; Mt 28.6).

Transformação de vidas na Igreja Primitiva (At 2.42–47).

A mensagem cristã responde à culpa, ao poder do pecado e ao sentido da vida (Rm 5.1; Rm 6.11–14; Rm 8.18–25).


7) Um alerta — como não evangelizar

Certa vez, dentro de um ônibus, presenciei uma cena triste: uma senhora gritava versículos para um rapaz que não queria ouvi-la. Irritada, ela o acusava e condenava em voz alta. No final, brigou com cobrador, motorista e passageiros, saiu gritando “vocês vão para o inferno”.

A cena causou escárnio, e ninguém ouviu a mensagem. Aquilo me ensinou algo importante: evangelizar não é agredir nem impor, mas conquistar corações com graça, mansidão e respeito (1Pe 3.15–16).


8) Perseverança no lar — o caso do meu irmão Silvio

Durante anos, compartilhei o Evangelho com meu irmão Silvio. Ele sempre dizia que iria à igreja, mas adiava semana após semana. Eu não desisti. Chegou o Domingo de Páscoa de 1986 — eu era o pregador do culto. Fui buscá-lo em casa e disse: “Se você não for, eu também não irei”.

Dessa vez, ele foi. Naquela noite, ele entregou sua vida a Jesus. Pouco tempo depois, foi batizado. Evangelizar é também amar com perseverança aqueles que estão mais próximos de nós (At 16.31).


9) O exemplo do Eli Orsi

Havia um irmão chamado Eli Orsi — um dos maiores evangelistas que conheci. Todas as manhãs, orava: “Senhor, a quem devo falar hoje? Coloca as pessoas certas no meu caminho”.

Ele evangelizava no mercadinho, na padaria, nas ruas. Tinha até um ministério com gestantes: orava por grávidas e entregava folhetos, dizendo que Jesus cuidaria delas e de seus bebês. A evangelização era seu estilo de vida — não um evento isolado.


10) Respondendo a objeções comuns

“Evangelizar é impor.” → Não, é propor com amor (2Tm 2.24–25; 1Pe 3.15).

“Todas as religiões levam a Deus.” → Jesus é o único caminho (Jo 14.6; At 4.12).

“Sou pecador demais.” → Cristo veio para pecadores (Mc 2.17; Rm 5.20).

“Não sei falar.” → O Espírito ajuda; comece com seu testemunho (Mt 10.19–20; At 22.3–21).


11) Caminhos práticos para evangelizar

Ore nomes — Liste pessoas e ore diariamente por elas (Cl 4.2–4).

Sirva necessidades — Amor abre corações (Gl 6.10; Mt 5.16).

Convide com sabedoria — “Vem e vê” (Jo 1.46).

Conecte-se com a cultura — Como Jesus com a samaritana (Jo 4.7–14).

Use suas redes — Deus age através de lares e relacionamentos (At 16.31–34; At 10.24, 44–48).


12) Alegria da colheita

“Há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende” (Lc 15.10).

Ver amigos, familiares ou colegas sendo alcançados por Cristo é uma alegria que transforma nossa fé. Eu vi isso no colégio, no bairro, no trabalho e na minha família.

Alguns semeiam, outros regam, mas Deus dá o crescimento (1Co 3.6–7).


13) Conclusão

Evangelizar é obedecer a Cristo e cooperar com o Espírito Santo. É amar pessoas reais, com histórias reais — assim como alguém um dia amou e anunciou Cristo a você.

“Como são belos os pés dos que anunciam boas-novas!” (Rm 10.15; Is 52.7).

“Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz” (Ef 6.15).

“Recebereis poder… e sereis minhas testemunhas” (At 1.8).

👉 Seja um evangelista: na sua casa, na escola, no trabalho, no bairro e onde Deus o enviar.

👉 Você não precisa ser eloquente — precisa estar disponível.


📜 Referências Bíblicas

Lc 4.18; Jo 20.21; Mt 28.18–20; 1Co 15.1–4; Jo 3.16; At 17.30; Mc 1.15; At 2.38; Jo 16.8; At 1.8; Rm 1.16; Rm 3.23; Is 59.2; Jo 14.6; At 4.12; Hb 9.27; 2Co 6.2; Jo 14.15; Gn 1.26–27; 2Co 5.14–15; 2Co 5.18–20; Mt 28.6; 1Co 15.3–8; At 2.42–47; Mt 5.16; 1Pe 3.15–16; Cl 4.2–4; Gl 6.10; Jo 1.46; Jo 4.7–14; At 16.31–34; At 10.24, 44–48; 2Tm 2.24–25; Mc 2.17; Rm 5.20; Mt 10.19–20; At 22.3–21; Lc 15.10; 1Co 3.6–7; Rm 10.15; Is 52.7; Ef 6.15; At 1.8.

Jesus Vê, Se Importa e Supre


Você sabia que houve dois milagres da multiplicação dos pães e peixes? (cf. Marcos 6.30–44; 8.1–9). Isso já nos ensina algo precioso: Deus não está limitado a agir uma única vez. O mesmo Senhor que multiplicou pães e peixes para uma multidão faminta, pode fazer novamente — e ainda mais abundantemente. Quando caminhamos com Jesus, vemos coisas grandiosas acontecerem (Ef 3.20).
Na segunda multiplicação (Mc 8.1–9), o evangelista nos diz que a multidão estava com Jesus havia três dias, num lugar deserto. Três dias ouvindo a sua voz, sendo alimentados espiritualmente, sedentos da Palavra de vida. E é notável: ninguém reclamou de fome. Isso, talvez, seja um dos maiores milagres desse texto — permanecer tanto tempo com fome aos pés de Jesus, sem murmurar (cf. Mt 4.4).
“Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.” (Mt 4.4)
Quando o coração está cheio da presença de Deus, as carências perdem o peso. Quantas vezes, quando estamos entusiasmados com algo que amamos, até esquecemos de comer? Essa multidão estava assim: saciada espiritualmente, embora o corpo estivesse faminto.
Mas Jesus — o Bom Pastor — viu a necessidade deles. Ele sempre vê. “Tenho compaixão desta multidão”, disse Ele (Mc 8.2). Havia pessoas que tinham vindo de longe, fazendo grandes sacrifícios para estar ali. E Jesus se importa com isso. Ele conhece o caminho percorrido, o esforço feito, a entrega silenciosa. E acrescentou: “Se eu os mandar embora com fome para casa, desfalecerão pelo caminho” (Mc 8.3).
“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o trabalho de vocês não é em vão.” (1Co 15.58)
Assim também é conosco: Deus vê o nosso sacrifício. Ele vê sua fidelidade no lar, no trabalho, na igreja, seu esforço para servir ao Reino, sua bondade, honestidade e dedicação. Nada passa despercebido aos olhos do Senhor (Hb 6.10). Ele valoriza cada passo dado em fé.
E porque Ele vê, Ele também supre. Jesus não os despediu famintos; Ele realizou novamente o milagre. Aquele que multiplica pães e peixes continua multiplicando provisão, graça e força em nossa caminhada. Mesmo quando você ainda não expressou em palavras, Deus já conhece as suas necessidades (Mt 6.8).
“Antes mesmo que a palavra me chegue à língua, tu, Senhor, já a conheces toda.” (Sl 139.4)
Nosso Deus é atencioso, compassivo e fiel. Ele se antecipa aos desafios do nosso dia e age a nosso favor — muitas vezes antes mesmo que peçamos. Como está escrito:
“O Senhor te guiará continuamente, fartará a tua alma até em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado e como um manancial cujas águas nunca faltam.” (Is 58.11)
✨ Aplicação Devocional
Não limite Deus a uma única experiência. Ele pode operar de novo, e de novo, e de novo — com a mesma fidelidade com que agiu no passado.
Lembre-se que Deus vê e valoriza o seu sacrifício. Mesmo que outros não percebam, Jesus percebe e tem compaixão.
Confie na provisão antecipada de Deus. Ele sabe do que você precisa antes mesmo de você pedir.
Permaneça aos pés de Jesus. Quando Ele é a prioridade, o restante é acrescentado (Mt 6.33).
“Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele, e o mais ele fará.” (Sl 37.5)
Essa passagem nos lembra que, com Jesus, os milagres podem se repetir — não porque os merecemos, mas porque Ele é bom. E Ele continua a cuidar dos que O buscam com sinceridade. 🕊️✨

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