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REPENSANDO O INFERNO: EXPULSANDO A SERPENTE DO JARDIM DA CIDADE

Nem todo mundo sabe disso, mas eu tenho um reflexo de vômito extremamente sensível. Descobri isso durante uma semana de missão em um conjunto habitacional próximo a King’s Cross. Estávamos trabalhando com igrejas locais e algumas organizações para proclamar e demonstrar o amor de Deus por meio de projetos de ação social, eventos evangelísticos e dias de diversão comunitária. Uma das organizações com as quais fizemos parceria realizava um trabalho fenomenal entre os jovens em algumas das áreas mais carentes de Londres. A visão deles era levar o amor de Jesus a todas as escolas, a todos os conjuntos habitacionais e a todos os bairros e, ao fazer isso, “amar o inferno para fora da comunidade” em que estavam inseridos.

Como isso funciona na prática? Bem, o primeiro trabalho a cada manhã da missão era limpar a área do parque no meio do conjunto habitacional para que pudéssemos organizar um churrasco e jogos de futebol de cinco. E por "limpar", quero dizer colocar luvas de borracha e recolher cada pedaço de cocô de cachorro no parque. Então coloquei minhas luvas, na esperança de que as pessoas vissem essa demonstração pública de liderança servil, e me abaixei para pegar o primeiro cocô. Imediatamente, tive ânsia de vômito. Não sei se foi o cheiro ou a textura, mas a combinação dos dois foi insuportável. Coloquei o cocô em um saco e segui em frente.

O próximo cocô teve o mesmo efeito. Tive ânsia de novo. Dessa vez, precisei de alguns momentos para me recuperar, me concentrar e me preparar para o cocô número três. Múltiplas perguntas me atormentavam: "O que eles alimentam os cachorros por aqui? Será que aquele último cachorro sobreviveu? Porque aquele certamente foi o cocô de um cachorro moribundo. Quantos cachorros vivem neste conjunto habitacional, já que este parque se tornou, literalmente, um depósito de lixo?"

Respirei fundo e me abaixei mais uma vez, desesperadamente tentando não ter ânsia. Falhei miseravelmente. O efeito cumulativo das três ânsias estava cobrando seu preço. Eu estava à beira de vomitar. Eu estava fazendo o meu melhor para demonstrar liderança servil e tentando amar o inferno para fora daquele parque. Cada cocô oferecia uma manifestação muito real do inferno. Mas tudo se tornou demais para mim. Uma adorável senhora da comunidade se aproximou, olhou para mim com compaixão e me pediu para encontrar outro trabalho, pois eu estava distraindo a todos com as minhas ânsias. Tirei as luvas e observei o exército de voluntários continuar, sujando as mãos e transformando o parque em um jardim de delícias. Em poucas horas, havia uma atmosfera de festa com churrascos, castelos infláveis e futebol, tudo acompanhado pelo som de risadas e alegria enquanto a comunidade se reunia. Parecia um pequeno vislumbre do céu.

Jesus disse que edificaria a sua igreja e que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela. A implicação é que o inferno é mais do que apenas uma realidade futura; também é uma realidade presente. A visão de Jesus foi e continua sendo usar sua igreja, suas mãos e pés, para repelir as trevas e expurgar da sua criação todas as forças que se opõem aos propósitos do seu reino. O que estávamos fazendo pelo parque no meio do conjunto habitacional, Deus quer fazer pelo mundo que tanto ama. Por quê? Porque Ele ama expulsar o inferno de Sua criação.


Pete Hughes, All Things New: Joining God’s Story of Re-Creation (Colorado Springs, CO: David C Cook, 2020).

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