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Amor e Conflito

Amor e Conflito

“Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.” (1Co 13.13)

O amor é o maior de todos os dons. Ele permanece quando tudo o mais passa. Mas é importante lembrar que o verdadeiro amor, o amor que vem de Deus, nem sempre é aceito ou compreendido. Muitas vezes, amar de verdade significa entrar em conflito com o mundo ao nosso redor. Isso aconteceu com Jesus. Ele era o amor encarnado. Suas palavras eram cheias de graça e verdade, suas mãos curavam e consolavam, seus passos o levavam aos necessitados. Ainda assim, foi rejeitado, perseguido e crucificado. E por quê? Porque esse amor verdadeiro confronta. Ele não se contenta em agradar, mas chama as pessoas ao arrependimento, à transformação. Esse amor expõe o pecado, e muitos não querem lidar com isso.

O mesmo continua acontecendo com os que seguem Jesus de forma sincera. Quando buscamos viver com integridade, colocando Deus em primeiro lugar, acabamos incomodando quem prefere manter uma religiosidade confortável. Já aconteceu com você de se sentir isolado por querer obedecer a Deus com mais profundidade? Talvez você tenha tomado uma decisão que não foi compreendida pelos seus amigos cristãos ou até por sua própria família. Nesses momentos, a tentação de recuar é grande. Pensamos: “Será que estou indo longe demais? Será que estou sendo duro?” Mas, se estamos sendo guiados pelo Espírito de Deus e vivendo de acordo com a Sua Palavra, precisamos continuar firmes, mesmo que isso nos custe relacionamentos ou a aceitação das pessoas.

Às vezes, o maior obstáculo não está no mundo, mas entre os próprios cristãos. Há muitos que abafam o chamado de Deus em suas vidas por causa da opinião de familiares ou amigos da igreja. Pais que impedem filhos de servirem com liberdade; irmãos que desanimam irmãs que desejam consagrar suas vidas ao Senhor. Quantos projetos do Reino já foram sufocados por esse tipo de interferência disfarçada de conselho! É necessário discernimento. Deus nos chama a ouvir Sua voz acima de todas as outras. Isso não significa agir com rebeldia ou desprezo, mas com convicção e obediência. O Senhor não tem dois pesos: não julga os homens de um jeito e as mulheres de outro; pais de um jeito e filhos de outro. Todos nós seremos responsabilizados diante Dele por obedecer ou não ao Seu chamado.

O amor verdadeiro não foge do conflito quando ele é consequência da fidelidade a Deus. Ele não se esconde quando seguir a Jesus custa caro. Amar como Cristo amou é permanecer ao lado Dele quando Ele carrega a cruz, não apenas quando é aclamado com “Hosana”. E isso nos desafia profundamente. Será que continuaríamos fiéis se a perseguição voltasse? Se confessar nossa fé significasse perder a reputação, os bens ou até a liberdade? Será que continuaríamos ao lado de Jesus se estivéssemos entre zombadores, e não entre os aplausos? O amor que Deus quer formar em nós é um amor firme, corajoso, que permanece mesmo quando tudo se opõe. Amar de verdade é suportar o desprezo, é seguir em frente quando a maioria volta atrás.

E é importante lembrar que esse amor começa no dia a dia. Ele se manifesta quando escolhemos a integridade nos negócios, mesmo que isso nos custe lucro. Quando nos recusamos a participar de práticas injustas, mesmo que todos à nossa volta digam que é normal. Quando decidimos ser fiéis a Deus em nossos relacionamentos, no uso do tempo, no falar, no servir, mesmo que sejamos mal interpretados por isso. O amor verdadeiro não faz vista grossa para o erro nem se acomoda com a injustiça. Ele é inseparável da justiça. Onde há amor de verdade, há também compromisso com o que é certo. Se o que chamamos de amor nos leva a encobrir o pecado, a favorecer o erro ou a buscar apenas nosso conforto, então não é o amor de Deus — é apenas uma aparência, uma imitação que não resiste ao fogo da provação.

Por isso, o chamado de Deus é claro: examine o seu coração. Se o Senhor está te mostrando algo que precisa ser cortado, entregue isso a Ele. Não se esconda. Não adie. Diga: “Senhor, limpa meu coração. Mostra-me o que precisa mudar.” O amor verdadeiro dói, às vezes. Mas é esse amor que purifica, que fortalece, que molda o nosso caráter à semelhança de Cristo. Ele nos torna dispostos a sofrer por causa do Evangelho, a abrir mão de reconhecimento, a suportar zombarias e rejeição, se for necessário, para que o Reino de Deus avance.

Esse é o amor que permanece. É o amor que será aprovado no dia do juízo. Amor que ama na dor, na escuridão, na solidão, na vergonha. Amor que continua amando, mesmo quando tudo diz para parar. Esse amor não nasce de nós. Ele é obra do Espírito em nós. Por isso, ore: “Senhor, coloca esse amor em mim. Ensina-me a amar como Tu amas. Dá-me coragem para obedecer, mesmo que isso me custe. Faz-me verdadeiro, inteiro, Teu.”

Que esse amor habite ricamente em nós. Que sejamos conhecidos não pelo tanto que sabemos ou falamos, mas pelo quanto estamos dispostos a amar — com verdade, com coragem, com fidelidade, até o fim.

Baseado no Sermão de Catherine Booth, “Charity and Conflict”, in Godliness (Bellingham, WA: Faithlife Corporation, 2016).

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