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Três Ideias Cruciais que Diferenciam o Arminianismo do Calvinismo

A discussão entre arminianismo e calvinismo é fundamental para entender diferentes visões sobre a bondade de Deus, o problema do mal e a questão do livre-arbítrio na salvação. Baseado na resposta à décima nona pergunta do livro "Arminianismo: Perguntas Frequentes" de Roger Olson, vamos explorar três ideias cruciais que distinguem essas duas perspectivas teológicas.

A Bondade de Deus:

Arminianismo: Deus é completamente bom e justo de uma maneira que podemos entender. Sua bondade não contradiz nosso entendimento básico do que é bom e justo. Se sabemos que amar ao próximo é bom, Deus age dessa mesma forma. Ele não faz nada que viole nossa compreensão de amor e justiça. Por exemplo:
  • 1 João 4:8: "Deus é amor."
  • Mateus 7:11: "Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas dádivas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!"
  • Tiago 1:17: "Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes."
Calvinismo: Deus é visto como bom, mas às vezes Suas ações podem parecer severas e difíceis de entender. A ideia de que Deus predestina algumas pessoas para a salvação e outras para a condenação eterna, sem considerar suas ações ou escolhas, leva à percepção de que Deus é arbitrário e injusto, o que contradiz nosso senso básico de justiça e bondade. Isso é problemático à luz de passagens como:
  • 1 Timóteo 2:4: "Deus quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade."

Vontade de Deus e o Mal no Mundo:

Arminianismo: Deus permite que as pessoas façam escolhas livres, incluindo escolhas más. Ele sabia que os humanos poderiam escolher o mal (como aconteceu com a queda de Adão e Eva), mas Ele não força ninguém a pecar. Deus poderia ter criado seres programados para sempre fazer o bem, mas isso tornaria suas expressões de amor, louvor e serviço artificiais e sem significado real. Em Sua soberania, Deus decidiu criar seres angelicais e humanos com livre-arbítrio, mesmo sabendo das possíveis consequências: pecado, crimes, doenças, guerras, fome e tristeza. É um preço alto, mas permite que muitos possam escolher amar a Deus livremente. Liberdade verdadeira implica a possibilidade de escolher o mal. Deus permite que o mal aconteça, mas Ele não o causa. Isso significa que Deus não é responsável pelo mal, mesmo permitindo que ele ocorra. Deus criou tudo perfeito; o mal é uma perversão causada pelas escolhas de seres livres. Exemplos bíblicos incluem:
  • Tiago 1:13: "Quando alguém for tentado, jamais deverá dizer: 'Estou sendo tentado por Deus.' Pois Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta."
  • Deuteronômio 30:19: "Escolham a vida, para que vocês e os seus filhos vivam."

Calvinismo: Deus planeja e controla tudo o que acontece, incluindo o mal. Isso significa que, de acordo com essa visão, Deus preordena todas as ações, incluindo os pecados das pessoas. Isso leva a implicações complicadas, pois faz de Deus o autor indireto do mal e da condenação, o que coloca em dúvida Sua bondade e justiça. Esta visão é difícil de conciliar com passagens como:
  • 1 João 1:5: "Deus é luz; nele não há treva alguma."

Salvação e Livre-Arbítrio:

Arminianismo: Deus oferece a salvação a todas as pessoas e dá a todos a oportunidade de aceitá-la ou rejeitá-la. Ele proporciona os meios para a salvação (como a expiação de Jesus e a graça preveniente que nos capacita a crer), mas cada pessoa deve decidir se aceita ou não. A salvação é um presente de Deus, e a aceitação desse presente é uma escolha livre do indivíduo. Passagens que ilustram isso incluem:
  • 2 Pedro 3:9: "O Senhor... não quer que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento."
  • João 3:16: "Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna."
Calvinismo: Deus decide unilateralmente quem será salvo e quem será condenado, sem considerar a resposta das pessoas. Isso implica que Deus cria algumas pessoas com o propósito de condená-las eternamente, o que levanta questões sobre a justiça e o amor de Deus. Se a salvação não depende de uma resposta humana, então a responsabilidade pessoal e o livre-arbítrio são anulados. Isso é problemático à luz de passagens como:
  • Ezequiel 18:23: "Acaso tenho eu prazer na morte do ímpio? — diz o Senhor Deus; não desejo eu, antes, que ele se converta dos seus caminhos e viva?"
  • Jeremias 13:11: "Assim como um cinto se apega à cintura de um homem, da mesma forma fiz com que toda a comunidade de Israel e toda a comunidade de Judá se apegasse a mim, para que fosse o meu povo para o meu renome, louvor e honra. Mas eles não me ouviram."
  • Mateus 23:37: "... Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram."
Essas três ideias mostram claramente como, no arminianismo, Deus respeita a liberdade humana e age de maneira justa e boa, oferecendo a salvação a todos sem forçar a decisão de ninguém.

Essas diferenças teológicas não são meramente acadêmicas; elas têm implicações profundas para nossa compreensão do caráter de Deus e nossa responsabilidade como seres humanos. O arminianismo apresenta um Deus cujo amor e justiça são compreensíveis e acessíveis, que oferece a salvação a todos e respeita a liberdade humana.

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