quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Sermão Escatológico de Jesus


Mateus 23 e 24 e o Sermão Escatológico de Jesus


Mateus 23 a partir do versículo 29

"Ai de vocês, escribas e fariseus, hipócritas! Porque edificam os túmulos dos profetas, enfeitam os monumentos dos justos e dizem: Se tivéssemos vivido nos dias de nossos pais, não teríamos sido seus cúmplices no derramamento do sangue dos profetas. Assim, vocês dão testemunho contra si mesmos, de que são filhos dos que mataram os profetas. Portanto, tratem de terminar aquilo que os pais de vocês começaram! Serpentes! Raça de víboras! Como escaparão da condenação do inferno? Por isso, eis que eu lhes envio profetas, sábios e escribas; a uns vocês matarão e crucificarão; a outros açoitarão nas sinagogas e perseguirão de cidade em cidade, para que venha sobre vocês todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem vocês mataram entre o santuário e o altar. Em verdade lhes digo que todas estas coisas hão de vir sobre a presente geração." (Mt 23.29–36)


Aqui, Jesus está se dirigindo de forma dura e direta aos líderes religiosos — escribas e fariseus. Ele os chama de hipócritas porque, apesar de honrarem os profetas mortos no passado, decorando seus túmulos, afirmavam que jamais fariam o que seus antepassados fizeram. No entanto, Jesus denuncia que eles não são melhores, mas piores, pois rejeitariam e matariam o próprio Messias, além de perseguirem seus enviados.


"Jerusalém, Jerusalém, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, mas vocês não quiseram! Eis que a casa de vocês ficará deserta. Pois eu lhes afirmo que, desde agora, não me verão mais, até que digam: Bendito o que vem em nome do Senhor!" (Mt 23.37–39; cf. Sl 118.26)

Esta lamentação de Jesus expressa sua compaixão e também o juízo que viria. "Casa deserta" aponta para a destruição iminente de Jerusalém e do templo, algo que se cumpriria cerca de 40 anos depois, no ano 70 d.C.


Mateus 24 — Profecia sobre a destruição do templo

“Jesus saiu do templo e, enquanto caminhava, seus discípulos se aproximaram para lhe mostrar as construções do templo. Ele, porém, lhes disse: ‘Vocês estão vendo tudo isto? Em verdade lhes digo que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.’” (Mt 24.1–2)

Impressionados com a grandiosidade do templo, os discípulos o contemplavam com admiração. Contudo, Jesus anunciou que ele seria totalmente destruído — profecia que se cumpriu literalmente no cerco romano de 70 d.C. (cf. Lc 21.5–6; Mc 13.1–2).


Conexão entre Mateus 23 e 24

O capítulo 23 de Mateus revela a gravidade da rejeição do Messias por aquela geração. Jesus declarou que todo o sangue justo, desde Abel (Gn 4.8) até Zacarias (2Cr 24.20–21), seria cobrado dela (Mt 23.35–36). Tal sentença apontava para um juízo histórico específico — a destruição de Jerusalém — e, ao mesmo tempo, prenunciava o juízo final.

O historiador judeu Flávio Josefo descreve o cerco como um período de fome extrema, violência interna e até casos de canibalismo. A cidade permaneceu sitiada por cerca de cinco meses, até ser invadida e arrasada. O templo foi queimado e nenhum bloco permaneceu sobre outro, cumprindo com precisão as palavras de Jesus (Lc 21.20–24).


O anúncio nos Evangelhos Sinóticos

Nos três Evangelhos, Jesus antecipou com clareza a queda da cidade e do templo:

  • Mt 24.1–2 – “Não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada.”
  • Mc 13.1–2 – repete a mesma profecia.
  • Lc 21.6 – reforça a destruição total.
  • Lc 19.43–44 – descreve inimigos cercando Jerusalém com trincheiras e derrubando-a com seus habitantes.

Essas palavras foram pronunciadas cerca de 40 anos antes de seu cumprimento, dentro do limite da “presente geração” mencionada por Jesus (Mt 23.36; Mt 24.34).


O sinal e a instrução de Jesus

Lucas registra o sinal específico dado por Cristo:

“Quando, porém, virdes Jerusalém cercada de exércitos, sabei que é chegada a sua devastação.” (Lc 21.20)

  • Não se tratava de um sinal do fim do mundo, mas de um evento histórico ligado ao juízo sobre a cidade que rejeitou o Messias.
  • Jesus orientou: “Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes; os que estiverem dentro da cidade saiam; e os que estiverem nos campos não entrem nela” (Lc 21.21).

Eusébio de Cesareia relata que muitos cristãos, recordando essa instrução, fugiram para Pella, na Pereia, e assim escaparam da tragédia.


Linha do tempo da guerra judaico-romana

  • 66 d.C. – Início da rebelião judaica contra Roma.
  • 67–69 d.C. – Avanço de Vespasiano e Tito pela Galileia e Judeia, conquistando cidades e isolando Jerusalém.
  • 14 de abril de 70 d.C. – Início do cerco à cidade, durante a Páscoa.
  • Agosto de 70 d.C. – Incêndio e destruição do templo (9º dia do mês de Ab, mesma data da destruição do Primeiro Templo em 586 a.C.).
  • 8 de setembro de 70 d.C. – Queda total da cidade.

O cerco durou cerca de cinco meses, mas a guerra como um todo se estendeu por quatro anos.


As condições durante o cerco

O relato de Josefo confirma, de modo impressionante, as palavras de Jesus:

  • Fome extrema“Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias” (Mt 24.19; Lc 21.23).
  • Angústia sem escape“Haverá grande aflição sobre a terra e ira contra este povo” (Lc 21.23).
  • Mortes e dispersão“Cairão ao fio da espada e serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será pisada pelos gentios” (Lc 21.24).

Josefo narra episódios de canibalismo por desespero e destaca que a luta interna entre facções judaicas matou muitos antes mesmo da invasão romana.


Cumprimento ponto a ponto

  • “Não ficará pedra sobre pedra” – O templo foi completamente demolido; até sua plataforma foi desmontada para extração de ouro derretido nas fendas.
  • “A casa ficará deserta” – Jerusalém foi reduzida a ruínas; seus sobreviventes morreram ou foram levados cativos.
  • “Será pisada pelos gentios” – A cidade permaneceu sob domínio estrangeiro por séculos.


Aplicação teológica

  1. Marco profético histórico – Cumpriu literalmente parte do discurso de Jesus no Monte das Oliveiras.
  2. Tipo e prenúncio do juízo final – Assim como o cerco foi juízo sobre Israel que rejeitou o Messias, a volta de Cristo trará juízo sobre toda a humanidade impenitente.
  3. Lição de vigilância – Os cristãos daquela época escaparam porque creram e obedeceram à palavra do Senhor; isso nos lembra que nossa segurança está em viver sob Sua direção (Sl 91.1–2; Hb 2.3).


Sinais e advertências

Jesus também advertiu seus discípulos que não confundissem sinais preliminares com o fim imediato:

"Vocês ouvirão falar de guerras e rumores de guerras. Não se assustem, porque é necessário que assim aconteça, mas ainda não é o fim. Pois nação se levantará contra nação, e reino contra reino; e haverá fomes e terremotos em vários lugares. Porém tudo isto é o princípio das dores." (Mt 24.6–8)

Assim como as dores de parto indicam que o nascimento se aproxima, mas não acontece de imediato, esses sinais mostram que o fim se aproxima, mas ainda não chegou.

Entre os sinais mais graves, Jesus menciona perseguição, apostasia, falsos profetas e o esfriamento do amor (Mt 24.9–12). O apóstolo Paulo também alerta para a apostasia antes da volta de Cristo (2Ts 2.3).


O Evangelho pregado a todas as nações

"E este evangelho do Reino será pregado em todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então virá o fim." (Mt 24.14)

O alcance missionário é parte do plano divino. Em Apocalipse, João vê uma multidão de "todas as nações, tribos, povos e línguas" diante do trono (Ap 7.9), indicando que a missão será cumprida.


O abominável da desolação e a fuga da Judeia

Jesus aplica à iminente destruição de Jerusalém a profecia de Daniel (Dn 9.27; 11.31; 12.11):

"Quando, pois, vocês virem o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda), então os que estiverem na Judeia fujam para os montes. Quem estiver no terraço não desça para tirar de casa alguma coisa; e quem estiver no campo não volte atrás para buscar a sua capa. Ai das que estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles dias! Orem para que a fuga de vocês não aconteça no inverno, nem no sábado." (Mt 24.15–20)

A expressão “abominável da desolação” remete a uma profanação do lugar santo. Daniel fala de um evento em que o santuário seria invadido e seu serviço interrompido. No contexto imediato das palavras de Jesus, esse sinal indicaria que o cerco romano e a destruição de Jerusalém estavam prestes a acontecer.

Lucas registra o equivalente da advertência de Jesus em termos mais claros para o cumprimento histórico:

"Quando virem Jerusalém cercada de exércitos, saibam que está próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judeia fujam para os montes; os que estiverem no interior da cidade saiam, e os que estiverem nos campos não entrem nela." (Lc 21.20–21)

O “abominável” se cumpre no ato de profanação e devastação do templo e da cidade pelas legiões romanas. Jesus fala de algo muito localizado: a Judeia, Jerusalém, o templo. A ordem é clara: não tentar salvar bens, mas fugir imediatamente. “Pernas, pra que te quero” — o livramento viria pela obediência, não por resistência militar e nem por um arrebatamento secreto.

Eusébio de Cesareia relata que, lembrando-se dessa profecia, muitos cristãos judeus abandonaram a cidade antes do cerco completo, refugiando-se em Pella, na Pereia. Dessa forma, escaparam da tragédia que se abateu sobre aqueles que permaneceram.


A comparação com os dias de Noé

Jesus prossegue usando um paralelo com o dilúvio para ilustrar a sua vinda:

"Pois assim como foi nos dias de Noé, também será na vinda do Filho do Homem. Porque, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não perceberam, até que veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a vinda do Filho do Homem. Então dois estarão no campo: um será levado, e o outro deixado. Duas mulheres estarão trabalhando num moinho: uma será levada, e a outra deixada." (Mt 24.37–41; cf. Gn 6.5–13)

Nos dias de Noé, “levados” foram os que pereceram sob as águas do juízo; “deixados” foram Noé e sua família, preservados para habitar a terra renovada após o dilúvio. Portanto, no ensino de Jesus, na sua vinda, ser “levado” é ser removido pelo juízo divino, e ser “deixado” é permanecer para o Reino. A imagem não fala de um arrebatamento secreto, mas da separação final entre justos e ímpios no dia do Senhor (cf. Mt 13.41–43, 49–50).


Conclusão prática

Após anunciar esses sinais e ilustrações, Jesus conclui com uma exortação à vigilância:

"Portanto, vigiem, porque vocês não sabem em que dia virá o seu Senhor." (Mt 24.42; cf. Mt 25.13; Mc 13.35–37)

O chamado é claro: vigilância constante, preparo espiritual e fidelidade até o fim (Mt 24.13; Ap 2.10). Assim como Noé construiu a arca com perseverança, aguardando o cumprimento da palavra de Deus, o discípulo de Cristo é chamado a viver preparado, não especulando datas, mas permanecendo firme na obediência, sabendo que a vinda do Senhor será repentina e inescapável para os que não o aguardam.




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