sábado, 5 de julho de 2025

2 Tessalonicenses 2. É base para o pré ou o pós tribulacionismo?


2 Tessalonicenses 2 é base para o pré-tribulacionismo?

Com base em uma leitura cuidadosa, contextual e integrada das cartas paulinas aos Tessalonicenses — considerando aspectos lexicais, teológicos e históricos — podemos afirmar com segurança que 2 Tessalonicenses 2 não apoia o pré-tribulacionismo. Pelo contrário, refuta claramente essa interpretação, mostrando que a Igreja ainda estará presente durante a apostasia e a revelação do Anticristo.


1. A unidade entre a Parusia e a reunião dos santos (2Ts 2.1)

“Quanto à vinda (parousia) de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião (episynagōgē) com ele..."

Paulo menciona dois aspectos de um mesmo evento escatológico: a volta gloriosa de Cristo (Parusia) e o ajuntamento dos crentes com Ele (arrebatamento).

Essa linguagem remete diretamente a 1 Tessalonicenses 4.15–17, onde ocorre a ressurreição dos mortos em Cristo e o arrebatamento dos vivos, juntos para encontrar o Senhor nos ares. Não há qualquer indício de uma vinda em duas etapas ou de um arrebatamento secreto anterior.

Além disso, o mesmo termo grego episynagōgē, traduzido por “reunião” em 2Ts 2.1, também aparece em Mateus 24.31, onde Jesus afirma que, por ocasião de sua vinda visível e gloriosa — que abalará céus e terra (Mt 24.29-30) — Ele enviará seus anjos com grande som de trombeta para reunir os seus escolhidos dos quatro ventos. Trata-se, portanto, do mesmo evento: o arrebatamento que ocorre no Dia do Senhorna manifestação pública de Cristo, e não antes dela.

Conclusão: a reunião com Cristo ocorre na Parusia, não antes dela.


2. A falsa ideia de que o "Dia do Senhor" já havia chegado (2Ts 2.2)

Os tessalonicenses estavam perturbados não por medo de perder o arrebatamento, mas pela ideia errada de que o Dia do Senhor já havia chegado. Paulo, então, esclarece:

"Ninguém de modo nenhum os engane, porque isso não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade..." (2Ts 2.3)

Antes da Parusia e da reunião com Cristo, dois eventos devem ocorrer:

  • apostasia (rebelião contra Deus);

  • revelação do Anticristo (homem da iniquidade).

Se a igreja estivesse ausente, Paulo teria simplesmente dito: "Vocês não estarão aqui". Mas ele os prepara para enfrentar esses sinais.


3. Apostasia não é o arrebatamento

O termo grego apostasia significa abandono ou revolta, e jamais significa partida física no grego bíblico ou clássico. Exemplos:

  • At 21.21: abandono da Lei;

  • 1Tm 4.1: apostatar da fé;

  • Jr 2.19 LXX: infidelidade de Israel.

Conclusão: interpretar "apostasia" como arrebatamento é forçar o texto, invertendo a ordem dos eventos apresentada por Paulo.


4. O Anticristo é revelado antes da Parusia (2Ts 2.3–8)

O homem da iniquidade:

  • Se opõe a Deus;

  • Se exalta acima de tudo o que se chama Deus;

  • Se assenta no templo de Deus;

  • Opera sinais e enganos.

"Então será revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro da sua boca e destruirá pela manifestação da sua vinda." (2Ts 2.8)

Conclusão: O Anticristo ainda estará ativo no mundo quando Cristo vier em glória. Portanto, o arrebatamento é simultâneo ou posterior, e não anterior, à manifestação do Anticristo.


5. O "restritor" (katechon) não é o arrebatamento nem o Espírito Santo

O pré-tribulacionismo alega que o "restritor" é o Espírito Santo sendo retirado com a igreja. Isso é improvável por vários motivos:

  • O Espírito Santo é onipresente e não pode ser retirado do mundo;

  • O texto não fala de "arrebatamento", mas de algo sendo "removido do caminho" (ek mesou genetai);

  • Os Pais da Igreja entendiam o katechon como o Império Romano ou a ordem civil que impedia o surgimento da anarquia;

  • Outros sugerem o arcanjo Miguel (cf. Dn 10; Ap 12.7).

Conclusão: A retirada do restritor é o que permite a revelação do Anticristo, não o arrebatamento da Igreja.


6. A postura pastoral de Paulo contraria o pré-tribulacionismo

Se Paulo cresse que a Igreja seria arrebatada antes da tribulação, ele diria: "Vocês não passarão por isso". Em vez disso, ele:

  • Ensina os sinais a serem observados;

  • Convida os crentes a permanecerem firmes (2Ts 2.15);

  • Consola com a esperança na vinda de Cristo (2Ts 2.16–17).

A expectativa apostólica é de uma igreja vigilante e perseverante, não ausente.


7. O Dia do Senhor: evento, não período

O pré-tribulacionismo transforma o "Dia do Senhor" num período de sete anos (a tribulação), mas Paulo o apresenta como um evento singular, escatológico e definitivo:

  • 1Ts 5.2: Vem como ladrão à noite;

  • 2Ts 1.7-10: Dia da manifestação gloriosa, juízo dos ímpios e glorificação dos santos;

  • 2Ts 2.2: É associado à Parusia e à nossa reunião com Cristo.

Conclusão: o Dia do Senhor é o clímax escatológico, não um período prolongado ou dividido em fases.


8. A reunião com Cristo é o arrebatamento (2Ts 2.1)

A palavra episynagōgē é usada em Hb 10.25 (assembleia) e Mt 24.31 (reunião dos eleitos pelos anjos), descrevendo o ajuntamento final dos salvos.

Esse evento coincide com:

  • A Parusia (2Ts 2.1);

  • A ressurreição e arrebatamento (1Ts 4.16-17);

  • A vinda em glória (Mt 24.30-31).


9. Conclusão: escatologia paulina é unificada e pastoral

Ponto chavePré-tribulacionismoPaulo (1–2 Tessalonicenses)
Parusia + arrebatamentoDois eventos distintosUm único evento glorioso
ApostasiaArrebatamentoRebelião contra Deus
RestritorEspírito Santo + IgrejaOrdem civil / Miguel
Dia do SenhorPeríodo de tribulaçãoEvento escatológico final
AnticristoApós arrebatamentoRevelado antes da Parusia
Encorajamento pastoral"Vocês não estarão aqui"

"Permaneçam firmes"

Portanto, 2 Tessalonicenses 2 não sustenta o pré-tribulacionismo, mas o contradiz com clareza.

“Permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas.” (2Ts 2.15)
“E assim estaremos para sempre com o Senhor.” (1Ts 4.17)

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