2 Tessalonicenses 2 é base para o pré-tribulacionismo?
Com base em uma leitura cuidadosa, contextual e integrada das cartas paulinas aos Tessalonicenses — considerando aspectos lexicais, teológicos e históricos — podemos afirmar com segurança que 2 Tessalonicenses 2 não apoia o pré-tribulacionismo. Pelo contrário, refuta claramente essa interpretação, mostrando que a Igreja ainda estará presente durante a apostasia e a revelação do Anticristo.
1. A unidade entre a Parusia e a reunião dos santos (2Ts 2.1)
“Quanto à vinda (parousia) de nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião (episynagōgē) com ele..."
Paulo menciona dois aspectos de um mesmo evento escatológico: a volta gloriosa de Cristo (Parusia) e o ajuntamento dos crentes com Ele (arrebatamento).
Essa linguagem remete diretamente a 1 Tessalonicenses 4.15–17, onde ocorre a ressurreição dos mortos em Cristo e o arrebatamento dos vivos, juntos para encontrar o Senhor nos ares. Não há qualquer indício de uma vinda em duas etapas ou de um arrebatamento secreto anterior.
Além disso, o mesmo termo grego episynagōgē, traduzido por “reunião” em 2Ts 2.1, também aparece em Mateus 24.31, onde Jesus afirma que, por ocasião de sua vinda visível e gloriosa — que abalará céus e terra (Mt 24.29-30) — Ele enviará seus anjos com grande som de trombeta para reunir os seus escolhidos dos quatro ventos. Trata-se, portanto, do mesmo evento: o arrebatamento que ocorre no Dia do Senhor, na manifestação pública de Cristo, e não antes dela.
Conclusão: a reunião com Cristo ocorre na Parusia, não antes dela.
2. A falsa ideia de que o "Dia do Senhor" já havia chegado (2Ts 2.2)
Os tessalonicenses estavam perturbados não por medo de perder o arrebatamento, mas pela ideia errada de que o Dia do Senhor já havia chegado. Paulo, então, esclarece:
"Ninguém de modo nenhum os engane, porque isso não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade..." (2Ts 2.3)
Antes da Parusia e da reunião com Cristo, dois eventos devem ocorrer:
A apostasia (rebelião contra Deus);
A revelação do Anticristo (homem da iniquidade).
Se a igreja estivesse ausente, Paulo teria simplesmente dito: "Vocês não estarão aqui". Mas ele os prepara para enfrentar esses sinais.
3. Apostasia não é o arrebatamento
O termo grego apostasia significa abandono ou revolta, e jamais significa partida física no grego bíblico ou clássico. Exemplos:
At 21.21: abandono da Lei;
1Tm 4.1: apostatar da fé;
Jr 2.19 LXX: infidelidade de Israel.
Conclusão: interpretar "apostasia" como arrebatamento é forçar o texto, invertendo a ordem dos eventos apresentada por Paulo.
4. O Anticristo é revelado antes da Parusia (2Ts 2.3–8)
O homem da iniquidade:
Se opõe a Deus;
Se exalta acima de tudo o que se chama Deus;
Se assenta no templo de Deus;
Opera sinais e enganos.
"Então será revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro da sua boca e destruirá pela manifestação da sua vinda." (2Ts 2.8)
Conclusão: O Anticristo ainda estará ativo no mundo quando Cristo vier em glória. Portanto, o arrebatamento é simultâneo ou posterior, e não anterior, à manifestação do Anticristo.
5. O "restritor" (katechon) não é o arrebatamento nem o Espírito Santo
O pré-tribulacionismo alega que o "restritor" é o Espírito Santo sendo retirado com a igreja. Isso é improvável por vários motivos:
O Espírito Santo é onipresente e não pode ser retirado do mundo;
O texto não fala de "arrebatamento", mas de algo sendo "removido do caminho" (ek mesou genetai);
Os Pais da Igreja entendiam o katechon como o Império Romano ou a ordem civil que impedia o surgimento da anarquia;
Outros sugerem o arcanjo Miguel (cf. Dn 10; Ap 12.7).
Conclusão: A retirada do restritor é o que permite a revelação do Anticristo, não o arrebatamento da Igreja.
6. A postura pastoral de Paulo contraria o pré-tribulacionismo
Se Paulo cresse que a Igreja seria arrebatada antes da tribulação, ele diria: "Vocês não passarão por isso". Em vez disso, ele:
Ensina os sinais a serem observados;
Convida os crentes a permanecerem firmes (2Ts 2.15);
Consola com a esperança na vinda de Cristo (2Ts 2.16–17).
A expectativa apostólica é de uma igreja vigilante e perseverante, não ausente.
7. O Dia do Senhor: evento, não período
O pré-tribulacionismo transforma o "Dia do Senhor" num período de sete anos (a tribulação), mas Paulo o apresenta como um evento singular, escatológico e definitivo:
1Ts 5.2: Vem como ladrão à noite;
2Ts 1.7-10: Dia da manifestação gloriosa, juízo dos ímpios e glorificação dos santos;
2Ts 2.2: É associado à Parusia e à nossa reunião com Cristo.
Conclusão: o Dia do Senhor é o clímax escatológico, não um período prolongado ou dividido em fases.
8. A reunião com Cristo é o arrebatamento (2Ts 2.1)
A palavra episynagōgē é usada em Hb 10.25 (assembleia) e Mt 24.31 (reunião dos eleitos pelos anjos), descrevendo o ajuntamento final dos salvos.
Esse evento coincide com:
A Parusia (2Ts 2.1);
A ressurreição e arrebatamento (1Ts 4.16-17);
A vinda em glória (Mt 24.30-31).
9. Conclusão: escatologia paulina é unificada e pastoral
Ponto chave | Pré-tribulacionismo | Paulo (1–2 Tessalonicenses) |
---|---|---|
Parusia + arrebatamento | Dois eventos distintos | Um único evento glorioso |
Apostasia | Arrebatamento | Rebelião contra Deus |
Restritor | Espírito Santo + Igreja | Ordem civil / Miguel |
Dia do Senhor | Período de tribulação | Evento escatológico final |
Anticristo | Após arrebatamento | Revelado antes da Parusia |
Encorajamento pastoral | "Vocês não estarão aqui" |
"Permaneçam firmes" |
Portanto, 2 Tessalonicenses 2 não sustenta o pré-tribulacionismo, mas o contradiz com clareza.
“Permanecei firmes e guardai as tradições que vos foram ensinadas.” (2Ts 2.15)
“E assim estaremos para sempre com o Senhor.” (1Ts 4.17)
Nenhum comentário:
Postar um comentário