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A Igreja passa pela Grande Tribulação?

 

A Igreja passa pela Grande Tribulação?

Por Bispo José Ildo Swartele de Mello

Introdução

 

Os adeptos da teoria pré-tribulacionista ensinam que a Segunda Vinda de Cristo se desdobrará em duas etapas, separadas por um período de sete anos conhecido como A Grande Tribulação. De acordo com esta visão, a primeira etapa consistirá em uma vinda silenciosa e secreta de Cristo para arrebatar os fiéis da Igreja antes da Grande Tribulação, enquanto a segunda etapa envolverá uma vinda gloriosa e visível de Cristo após esse período tumultuado. Eles procuram fundamentar essa crença principalmente em textos como 1 Tessalonicenses 4:16-17, que descreve o arrebatamento dos crentes vivos "nos ares", e Apocalipse 3:10, que menciona a preservação da igreja da "hora da provação que virá sobre todo o mundo".

 

Os pré-tribulacionistas sustentam que Deus não permitirá que a Igreja sofra durante a Grande Tribulação. No entanto, não há nenhum versículo bíblico explícito que afirme que a Igreja será poupada desse período, nem existe na Bíblia uma clara descrição de uma Segunda Vinda de Cristo em duas fases distintas, separadas por sete anos de Grande Tribulação. Além disso, não há base para a ideia de um arrebatamento "secreto", pois as narrativas bíblicas que descrevem o arrebatamento da Igreja não sugerem sigilo ou discrição (1Ts 4.16-17; Mt 24.31).

 

Uma incongruência adicional dessa perspectiva é a concepção de um arrebatamento que removeria a Igreja e o Espírito Santo da Terra antes da revelação do Anticristo. Se isso fosse verdade, então, o Anticristo seria "anti" o quê? O termo "anticristo" refere-se a falsos profetas que já estavam presentes no mundo desde os primórdios da Igreja (1Jo 2.18-22; 1Jo 4.3 e 2Jo 1.7). Não se deve confundir o Anticristo com o Iníquo de 2 Tessalonicenses 2 ou a Besta do Apocalipse. As referências ao(s) anticristo(s) nas epístolas joaninas dizem respeito a hereges ou falsos profetas, enquanto o Iníquo ou a Besta se relacionam a imperadores tiranos.

 

Além disso, a ideia de que a Igreja e o Espírito Santo precisariam ser removidos da Terra para que Israel pudesse ser convertido em um período de apenas sete anos é questionável e até mesmo desonra o ministério da Igreja e do Espírito Santo. Isso pode, inclusive, promover uma mentalidade de escapismo e alienação.

 

Ao examinarmos cuidadosamente as Escrituras Sagradas, percebemos que tanto Jesus quanto seus apóstolos advertiram que a Igreja enfrentaria diversas tribulações, inclusive a chamada Grande Tribulação, e que isso não significa abandono ou derrota. O Arrebatamento da Igreja ocorrerá após a Grande Tribulação, como parte integral da Segunda Vinda de Cristo, que será um evento único e visível para toda a humanidade. Na ocasião de sua vinda, Jesus destruirá o Homem da Iniquidade com o sopro de sua boca. Por fim, além de demonstrar a falta de base bíblica da perspectiva pré-tribulacionista, abordarei algumas considerações sobre a preocupante origem dessa doutrina, que não encontra respaldo na Bíblia, mas sim na visão profética de uma pessoa do século XIX.

 

A Igreja, a perseguição e o martírio cristão. 

A trajetória da Igreja está intrinsecamente ligada à perseguição e ao martírio cristão. Jesus foi claro ao estabelecer que o primeiro requisito para se tornar cristão é "tomar a cruz" (Mc 8.34). Ele também alertou que "não é o servo maior do que o seu Senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros" (Jo 15.20, cf. 13.16, Jo 16.33). Portanto, o discípulo deve sempre estar ciente de que seguir o Servo Sofredor, que morreu na cruz, implica em identificar-se com ele em todos os aspectos, não apenas na glória de sua ressurreição, mas também na dor de seu sofrimento na cruz. Paulo enfatiza essa realidade ao afirmar que ao cristão foi concedida a graça não apenas de crer em Cristo, mas também de padecer por Ele (Fp 1.29). Ele exorta os crentes a permanecerem firmes na fé, mostrando que é através de muitas tribulações que entramos no reino de Deus (At 14.22).

 

Ao longo da história, a Igreja enfrentou perseguições severas. Como os cristãos primitivos poderiam acreditar que Deus os pouparia da Grande Tribulação quando eles próprios eram vítimas de crueldades e sofrimentos, muitas vezes morrendo por amor a Cristo aos milhares? Os primeiros séculos da era cristã são conhecidos como a Era dos Mártires. O Apóstolo Paulo não oferece ilusões de escape ao sofrimento; pelo contrário, ele desafia os cristãos de Roma ao declarar: "Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada? Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo; fomos considerados como ovelhas para o matadouro. Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou" (Rm 8.35-37). Paulo ainda afirma que "todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos" (2 Tm 2.12). O livro de Apocalipse é uma fonte de conforto e encorajamento para os cristãos que enfrentam tribulações (Ap 1.9; 2.3-13; 6.9s; 7.9-17; 11.1-10; 12.11, 17; 13.7,8; 14.1-5,13).

 

Uma Perspectiva Bíblica sobre a Tribulação e a Perseverança da Igreja

Muitos textos bíblicos destacam a realidade do sofrimento cristão e sua relevância para a fé e a perseverança dos crentes, reforçando a ideia de que a Igreja enfrentará tribulações e não será isentada das dificuldades do mundo, incluindo a Grande Tribulação.

  1. Apocalipse: Diversos versículos (1.9; 2.3,9,10,13; 6.9; 7.9-17; 12.11,17; 13.7,8; 14.1-5,13; 16.15; 22.14) mostram os cristãos enfrentando perseguições, sendo fiéis até a morte e recebendo consolação e recompensa de Deus. Isso ilustra que a perseverança na fé, mesmo sob perseguição, é central na experiência cristã.
  2. 2 Timóteo: Passagens como 1.8,12; 2.3,12; 3.12 reforçam a ideia de sofrer pelo evangelho e a promessa de reinar com Cristo se perseverarmos, apontando para a realidade de tribulações como parte da jornada cristã.
  3. Mateus: Em 5.11,12; 10.16,22,24,25,28-33,38-39; 22.2-6, Jesus prepara seus seguidores para a perseguição, enfatizando que sofrer por sua causa é motivo de recompensa, não de desespero.
  4. Efésios: Em 3.13 e 6.12, Paulo fala sobre não desanimar nas tribulações e sobre a luta espiritual contra as forças do mal, contextualizando o sofrimento dentro do conflito espiritual mais amplo.
  5. Filipenses: Em 1.21,28,29; 3.10, Paulo destaca o valor de sofrer por Cristo e conhecer a comunhão de seus sofrimentos como parte essencial da vida cristã.
  6. 2 Tessalonicenses: Em 1.4,5, Paulo elogia os tessalonicenses por sua perseverança e fé nas perseguições, mostrando como o sofrimento fortalece a esperança cristã.
  7. 1 Pedro: Nos capítulos 1.6,7; 3.14,17; 4.1,12-19, Pedro encoraja os crentes a regozijarem-se no sofrimento por Cristo, pois isso prova sua fé e os prepara para a glória futura.
  8. Outros textos: Em João 15.18-20; 16.33, Jesus adverte que os discípulos enfrentarão oposição. Atos 14.22; Romanos 8.17-39; 12.12,15; 5.3; Hebreus 11.35-40; 12.2-3; Salmo 34.19; Tiago 1.2-4,12; 5.7-11; 1 Tessalonicenses 1.6; 3.4; 2 Coríntios 1.3-10; 2.4; 4.7,8,11,17; 5.4; 7.4; 8.2; 11.23-27 ressaltam a importância de suportar o sofrimento com paciência e fé, vendo-o como parte do caminho para a maturidade e a vitória final em Cristo.

Esses textos coletivamente mostram que o sofrimento e a tribulação são esperados para a Igreja e não uma exceção, apoiando a ideia de que a Igreja estará presente durante tempos difíceis, incluindo a Grande Tribulação.

 

 

O martírio não é derrota

Alguns pré-tribulacionistas sugerem que os "santos" mencionados em Apocalipse 13 não representam a Igreja, argumentando que esses "santos" serão derrotados pela Besta. No entanto, interpretar o martírio como derrota não está em linha com o cerne do Evangelho. Na verdade, foi através do martírio que Jesus triunfou sobre Satanás: "e, tendo despojado os poderes e as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na cruz" (Cl 2.15; ver também Jo 12.32; 19.30; At 2.23 e 24). 

 

Portanto, a morte não foi capaz de vencer Cristo e, igualmente, não prevalecerá contra a Igreja. Como demonstrado em 1 Coríntios 15:55-57, onde é questionado "Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?", e a vitória sobre a morte é atribuída a Cristo. Ademais, em Mateus 16:18, Jesus assegura que "as portas do inferno não prevalecerão contra ela [a Igreja]". Além disso, Romanos 8:37 afirma que, "em todas estas coisas, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou", reforçando que diante de todas as adversidades, incluindo a morte, os cristãos triunfarão.

 

Para os cristãos, como Paulo, sofrer por Cristo é um privilégio inigualável! O que para os não crentes é sinal de destruição e derrota, para nós é motivo de vitória e honra: "sem de forma alguma deixar-se intimidar por aqueles que se opõem a vocês. Para eles isso é sinal de destruição, mas para vocês, de salvação, e isso da parte de Deus; pois a vocês foi dado o privilégio de não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele" (Fp 1.28-29).


A narrativa dos mártires em Apocalipse é intensa e interligada, destacando sua devoção a Cristo até o sacrifício supremo de suas vidas. As almas dos mártires, apresentadas no céu, jamais são descritas como derrotadas, mas como aqueles que, pelo sangue do Cordeiro, triunfaram sobre a Besta e contra toda a oposição (Apocalipse 12:11). Elas demonstram consciência ativa, clamando por justiça (Apocalipse 6:9-11), entoando louvores a Deus e ao Cordeiro (Apocalipse 7:9-10), recebendo consolo (Apocalipse 7:17), servindo ao Senhor continuamente (Apocalipse 7:15) e vivendo e reinando com Cristo (Apocalipse 20:4) em uma existência plena de significado e recompensa celestial.

 

  1. Apocalipse 2:10 - Onde a igreja em Esmirna é encorajada a ser fiel até a morte para receber a coroa da vida. 
  2. Apocalipse 2:13 - Menção de Antipas, "meu fiel mártir", que foi morto em Pérgamo, um lugar onde Satanás habita. Este é um exemplo explícito de um crente que sofreu martírio.
  3. Apocalipse 6:9-11 - As almas dos mártires estão sob o altar, clamando por justiça. Este é um ponto central para entender como os mártires são reconhecidos e consolados no céu.
  4. Apocalipse 7:9-17 - A grande multidão de almas de crentes de todos os povos, tribos, línguas e nações, que são os mártires provenientes da Grande Tribulação, tendo lavado suas vestes no sangue do Cordeiro. Eles cantam louvores, são consolados e servem ao Senhor continuamente. 
  5. Apocalipse 12:11 - Os crentes vencem o acusador "pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho, e não amaram as suas vidas até à morte". Este versículo ressalta a disposição dos fiéis em enfrentar o martírio.
  6. Apocalipse 13:7, 15 - evidencia a intensa perseguição dos santos pela besta, onde muitos são martirizados por sua fé. Este episódio ilustra o martírio como um desafio significativo para os crentes, situado dentro do plano soberano de Deus. Foi-lhe permitido, também, que lutasse contra os santos e os vencesse” (Ap 13.7). Este é um tema ecoado por Paulo em Romanos 8:36-37, onde ele afirma: "Por amor de ti, somos entregues à morte todo o dia; fomos considerados como ovelhas para o matadouro." No entanto, Paulo assegura que "em todas estas coisas, somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou." Este contexto bíblico reforça a ideia de que, apesar do martírio e da perseguição, nada pode separar os crentes do amor de Deus em Cristo Jesus, conforme afirmado em Romanos 8:38-39. Esta perspectiva sustenta a visão de que o sacrifício dos mártires, embora doloroso, é uma vitória final na jornada da fé.
  7. Apocalipse 17:6 – Babilônia é descrita como embriagada com o sangue dos santos e dos mártires de Jesus, indicando a extensão da perseguição e do martírio.
  8. Apocalipse 20:4 - As almas daqueles que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, que não adoraram a besta nem a sua imagem, vivem e reinam com Cristo. Este texto é crucial para entender o destino e a recompensa dos mártires.

 

Que honra é poder seguir os passos do Grande Mestre e carregar nossa própria cruz! Como Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará" (Mt 16.24-25).


 

A Vinda de Cristo, o Arrebatamento da Igreja e o Dia do Senhor

 

O texto de 1 Tessalonicenses 4:15-18 é central para muitas discussões sobre escatologia, especialmente no que diz respeito ao arrebatamento e à vinda de Cristo. Este trecho descreve vividamente a vinda do Senhor (v.15) e o arrebatamento dos fiéis (v.17), colocando-os em um mesmo evento e momento. O evento é marcado por uma clara manifestação audível: a palavra de ordem do Senhor, a voz do arcanjo e o som da trombeta de Deus; e visível: “descerá dos céus” (v.16), “sobre as nuvens” (v.17). Esses elementos destacam a natureza pública e grandiosa da vinda de Cristo, contradizendo a ideia de um arrebatamento secreto ou separado temporalmente da vinda visível de Cristo. 

 

No capítulo seguinte, Paulo relaciona o arrebatamento descrito anteriormente com o "Dia do Senhor", caracterizando-o como um tempo que virá como "ladrão de noite". Este não é um momento de terror para os crentes, mas um alerta sobre a súbita e inevitável natureza deste dia para aqueles que não estão preparados. O "Dia do Senhor" é, portanto, uma extensão da "Vinda do Senhor", indicando não apenas a reunião dos fiéis, mas também o juízo sobre o mundo. “Irmãos, no que se refere aos tempos e às épocas, não há necessidade de que eu lhes escreva. Porque vocês sabem perfeitamente que o Dia do Senhor vem como ladrão à noite. Quando andarem dizendo: “Paz e segurança”, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à mulher que está para dar à luz; e de modo nenhum escaparão.” (1Ts 5.1–3 – NAA).

 

2 Tessalonicenses 1 reforça a visão da vinda de Cristo como um tempo de alívio para aqueles que são perseguidos e um dia de retribuição para aqueles que perseguem a Igreja. Paulo descreve este evento, de forma vívida, em 2 Tessalonicenses 1:7-10. Ele especifica que Jesus será revelado do céu com seus anjos poderosos (v. 7), trazendo vingança para aqueles que não conhecem Deus e não obedecem ao evangelho (v. 8). Para os fiéis, no entanto, este será um tempo de alívio e glorificação, conforme enfatizado nos versículos 7 e 10, onde Paulo assegura que aqueles que têm sofrido por sua fé serão considerados dignos do Reino de Deus, para o qual também estão sofrendo (v. 5).

 

No contexto de 2 Tessalonicenses 2, Paulo esclarece uma questão perturbadora entre os tessalonicenses: a preocupação com alegações de que o Dia do Senhor já havia ocorrido (V.2). Este capítulo é essencial para compreender a cronologia e a natureza dos eventos que precedem a segunda vinda de Cristo, que é marcada tanto pela consolação para os fiéis quanto pelo julgamento dos perseguidores (2 Ts 1:6-10).

 

Inicialmente, Paulo refuta os boatos de que o dia do Senhor já tinha acontecido e reafirma o ensino que ele já havia transmitido em sua primeira carta aos tessalonicenses (1 Ts 4:13-18; 5:1-11). Ele tranquiliza os fiéis, enfatizando que dois eventos significativos devem ocorrer antes do arrebatamento: a apostasia e a revelação do Homem da Iniquidade (2 Ts 2:3-4).

 

Jesus também alertou sobre sinais que antecederiam a Sua Segunda Vinda. Dois deles se assemelham às descrições feitas por Paulo aqui. Apostasia: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará" (Mt 24.12; cf. 1Tm 4.1). E, embora, a figura específica do "Homem da Iniquidade" como tal não seja diretamente mencionada nos relatos do Evangelho, o conceito de uma liderança opressiva e antagonista pode ser inferido das descrições de Grande Tribulação e enganos promovido por um tirano denominado: "abominação da desolação” (Mt 24.15). De modo que os ensinamentos de Paulo não introduzem sinais novos, mas reforçam e expandem o entendimento dos sinais previamente relatados por Jesus nos Evangelhos.

 

Alguns pré-tribulacionistas interpretam o substantivo grego "ποστασία" (apostasia), comumente traduzido como "apostasia", sugerindo que ele deveria ser entendido como "partida", referindo-se ao arrebatamento. Portanto, eles propõem que 2 Tessalonicenses 2:3 indica que o Dia do Senhor não ocorrerá até que o arrebatamento aconteça primeiro. Contudo, essa interpretação é logicamente contraditória. De acordo com essa perspectiva, Paulo estaria dizendo que nossa reunião com Ele (o arrebatamento) não aconteceria antes da "apostasia" (que eles também entendem como arrebatamento). Isso implicaria, segundo essa interpretação, que o arrebatamento não aconteceria antes do próprio arrebatamento, o que é claramente incoerente. A interpretação tradicional e mais amplamente aceita de "ποστασία" como "apostasia" se refere a um afastamento ou rebelião, não a uma "partida" no sentido de arrebatamento. Além disso, em 1 Timóteo 4:1, Paulo claramente trata a apostasia como uma deserção da fé, que é um sinal dos tempos finais, afirmando: "O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a ensinos de demônios". Esta passagem reforça que a apostasia é uma renúncia à fé, e não um evento de reunião com Cristo.

 

Paulo enfatiza que a manifestação do Homem da Iniquidade será um precursor direto do retorno visível de Cristo. Este antagonista será derrotado pelo próprio Senhor Jesus, que o "matará com o sopro de sua boca e o destruirá com a manifestação de sua vinda" (2 Ts 2:8, cp. 2 Ts 1.6-10). 

 

O apóstolo Paulo ensina que a Segunda Vinda de Cristo e nossa reunião com Ele, que ocorrerá através do arrebatamento quando nos encontraremos com o Senhor nos ares (1Ts 4.16,17 cf. 2Ts 2.1-3), não se dará antes da apostasia e da revelação do homem da iniquidade, o filho da perdição, que se opõe e se exalta sobre tudo o que é chamado de Deus, ou objeto de culto, a ponto de se assentar no santuário de Deus, proclamando-se como Deus (2Ts 2.3b,4). É importante ressaltar que até mesmo os pré-tribulacionistas ensinam que o Homem da Iniquidade será revelado durante o período da Grande Tribulação. Dessa forma, o apóstolo assegura que a Segunda Vinda de Cristo e nosso encontro com Ele (o arrebatamento) só ocorrerão após a revelação do "homem da iniquidade", tornando claro que o arrebatamento não pode ocorrer antes da Grande Tribulação.

 

Ao analisarmos conjuntamente os textos de 1 Tessalonicenses 4:13-17, 5:1-11, 2 Tessalonicenses 1:6-10, e 2:1-12, obtemos uma visão integrada e coerente sobre a vinda do Senhor, o arrebatamento dos fiéis e o Dia do Senhor. Essas passagens delineiam uma perspectiva que entrelaça esses eventos como aspectos distintos, porém intrinsecamente conectados, de um único acontecimento escatológico global.

A Vinda do Senhor é apresentada como um evento visível e portentoso, com um significado duplo: ela constitui o Dia de Cristo, quando os fiéis serão arrebatados para se encontrarem com o Senhor nos ares (1 Ts 4:17), e simultaneamente marca o Dia do Senhor, destinado ao julgamento e à completa destruição do Iníquo, assim como à condenação de todos os inimigos de Cristo e dos que perseguem Sua Igreja (2 Ts 1:6-10; 2:8).

Dessa forma, Paulo não apenas vincula o arrebatamento à vinda de Cristo, mas também esclarece que ambos são componentes do "Dia do Senhor"—um período marcado por julgamento divino e consolação para os crentes. Esta visão integrada contradiz a ideia pré-tribulacionista de uma separação temporal significativa entre o arrebatamento secreto e a vinda visível de Cristo. Ao invés disso, a visão paulina apresenta uma sequência de eventos que são visíveis, interconectados e culminam no estabelecimento do reino de Deus.

 

Essa interpretação proporciona uma compreensão mais completa e contextualizada dos ensinamentos de Paulo sobre os eventos finais, oferecendo aos fiéis um quadro mais claro do que esperar no fim dos tempos.

 

O ensino de Paulo está em perfeita harmonia com o ensino de Cristo, conforme Cristo claramente prenunciou que Sua Segunda Vinda, bem como o encontro subsequente com Ele, ocorrerá "logo após a tribulação daqueles dias" conforme Mateus 24:29. Tanto Jesus quanto Paulo defendem uma perspectiva pós-tribulacionista. Os tessalonicenses, por sua vez, não esperavam um arrebatamento que os livrasse da Grande Tribulação, uma vez que compreendiam que a tribulação faz parte do desígnio divino para os cristãos: "para que ninguém se abale por estas tribulações; porque vós mesmos sabeis que para isso fostes chamados", conforme expresso em 1 Tessalonicenses 3:3, bem como nos versículos subsequentes e em 2 Tessalonicenses 1:4-7.

 

Jesus também alertou sobre as adversidades que seus seguidores enfrentariam, conforme registrado em João 15:18, 20-21 e 16:1-2, 33: "Se o mundo vos odeia, lembrem-se de que antes odiou a mim. Lembrem-se da palavra que eu disse: o servo não é maior que o seu senhor. Se me perseguiram, também perseguirão a vocês... Mas tudo isso eles farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou. Eu lhes disse estas coisas para que não se escandalizem. Eles os expulsarão das sinagogas; e chegará a hora em que quem os matar pensará estar prestando culto a Deus... Eu lhes disse isso para que em mim vocês tenham paz. No mundo vocês terão aflições, mas tenham coragem; eu venci o mundo." Estas palavras sublinham a inevitabilidade da perseguição para os seguidores de Cristo, oferecendo, ao mesmo tempo, conforto e encorajamento, e reafirmando a vitória final de Jesus sobre as adversidades do mundo.

 

Se sabemos que a ressurreição dos mortos precederá, mesmo que em um instante, o arrebatamento (1Ts 4,16-17). E se também sabemos que a ressurreição ocorrerá apenas no último dia (Jo 6.39, 40, 44, 54; 11.24)! Então, podemos concordar que o arrebatamento ocorre no último dia, não sete anos antes, como ensinam os pré-tribulacionistas. O Último Dia também é o Dia da última trombeta. Apocalipse afirma que quando o sétimo anjo tocar a sua trombeta, haverá vozes fortes no céu, proclamando: "O reino do mundo tornou-se de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre" (Ap 11.15); em seguida, um sinal extraordinário aparecerá no céu (Ap 12.1)! Portanto, após o toque da última trombeta, não haverá Grande Tribulação, mas a plenitude do Reinado de Cristo! E, após o toque da última trombeta, não haverá nenhum evento secreto, mas a aparição gloriosa do Filho de Deus, vindo sobre as nuvens do céu como Rei dos reis e Senhor dos senhores (Ap 19.16).

 

Interpretando Apocalipse 3.10

Um argumento frequentemente utilizado por pré-tribulacionistas para defender que a Igreja será poupada da Grande Tribulação é baseado em Apocalipse 3.10: "Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei (tereo) da (ek) hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra." No entanto, Erickson apresenta uma exegese profunda deste texto, destacando o significado primário da preposição ek, que é "sair de dentro". Segundo essa interpretação, para a Igreja emergir de dentro da hora do teste, ela deve ter estado presente durante esse teste. Isso é similar ao que ocorre em Apocalipse 7.14, onde os mártires saem "da (ek) grande tribulação". Erickson questiona por que João não utilizou a preposição apo em Apocalipse 3.10, que poderia sustentar uma leitura pré-tribulacionista.[1]

 

Erickson também analisa o verbo tereo em Apocalipse 3.10, que geralmente significa "guardar" em contextos de perigo. Se a Igreja já estivesse no céu, conforme argumenta o pré-tribulacionismo, qual seria então o perigo que necessitaria da proteção divina? Essa análise sugere que a interpretação pré-tribulacionista pode não estar alinhada com o uso linguístico e contextual dos termos usados no versículo.

 

Em João 17:15, encontramos um exemplo claro de como Deus guarda Seu povo em meio ao perigo sem necessariamente removê-lo da situação adversa. Jesus orou usando a preposição "ek" e o verbo "tereo", dizendo: "Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal." Este versículo ilustra que é possível ser preservado do mal sem ser removido do contexto em que este mal existe. Um exemplo bíblico disso é o povo hebreu, que foi guardado das pragas no Egito, apesar de estar fisicamente presente onde as pragas ocorreram; eles não foram removidos ou arrebatados do Egito para receberem proteção.

 

Essa mesma ideia é reforçada em 2 Pedro 2:9, onde se afirma que "o Senhor sabe livrar da provação os piedosos", utilizando novamente a preposição "ek". Este texto indica que Deus protege os piedosos no meio das provações, e não necessariamente os remove do ambiente onde as provações ocorrem. Eles são guardados e protegidos mesmo estando expostos às circunstâncias desafiadoras.

 

Além disso, é essencial distinguir entre a "ira de Deus" e a "perseguição da Besta". Embora as Escrituras afirmem claramente que seremos protegidos da ira divina, como mostram passagens como 1 Tessalonicenses 1:9-10 e 5:9, bem como Romanos 5:9, não há garantia de remoção física das tribulações mundanas ou perseguições. O princípio de ser guardado, conforme evidenciado em João 17:15 e 2 Pedro 2:9, sugere que Deus pode oferecer proteção em meio às adversidades, sem necessidade de um arrebatamento físico. 


Jesus, ao interpretar as Setenta Semanas de Daniel (Daniel 9), profetizou em Mateus 23, Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 sobre a Queda de Jerusalém, a destruição da cidade e do templo, e a dispersão dos judeus como resultado de sua constante rebelião contra Deus. Ele destacou que eles mataram os profetas e aqueles que Deus enviou, incluindo o próprio Cristo. Jesus afirmou que tal juízo ocorreria ainda naquela geração (Mateus 23:36), e isso se concretizou com o cerco do exército romano, que durou anos, culminando na invasão e destruição da cidade e do templo em 70 d.C.

 

Como esse juízo se destinava apenas aos infiéis da cidade, Jesus advertiu seus discípulos a fugirem ao primeiro sinal da aproximação do exército romano (Mateus 24:16; Lucas 21:21). Assim, a Igreja, de modo geral, foi poupada da Grande Tribulação que se abateu sobre Jerusalém.

 

Por outro lado, o Apocalipse descreve uma Grande Tribulação de caráter universal, não restrita a Jerusalém ou ao povo judeu (Apocalipse 7:9-14). Os cristãos de todas as nações, povos, tribos e línguas enfrentam não a ira dos justos juízos de Deus, mas a perseguição da Besta e de todos os inimigos de Deus (Apocalipse 13:7). Portanto, trata-se de uma outra espécie de Grande Tribulação. A tribulação de Jerusalém já se cumpriu completamente. O termo agora adquire uma nova conotação. A Igreja não sofre a Ira de Deus, mas está sujeita a perseguição impetrada pela Besta e por todos os opositores de Cristo. Mas tudo, debaixo da soberana vontade de Deus que vive e reina sobre tudo e todos. 

 

Essa compreensão é crucial para uma teologia que reconhece a presença constante e protetora de Deus, mesmo quando Seus seguidores enfrentam tempos de grande tribulação e adversidade. Ela reafirma a promessa de que, embora possamos estar no mundo, não estamos desamparados diante do mal que nos rodeia.

 

A Ira de Deus e o Dia do Senhor

A Igreja não está destinada à ira de Deus. A ira divina é caracterizada como um justo julgamento sobre toda impiedade, conforme descrito em Romanos 1:18, e referenciada como "O Dia da Ira" em Romanos 2:5 e simplesmente "a Ira" em Efésios 5:6. Estes termos são também conhecidos como "O Dia do Senhor", citado em Isaías 13:9, Joel 2:1-11, 1 Tessalonicenses 5:2 e 2 Tessalonicenses 2:2. Este dia é descrito como um período de julgamento final onde, segundo Isaías 13:8-11, ocorrerá uma devastação extrema da terra, um escurecimento dos corpos celestes, e um julgamento severo sobre os pecadores por suas iniquidades.

 

É crucial entender que qualquer tentativa de separar "O Dia do Senhor" de "O Dia de Cristo" e atribuir diferentes programas escatológicos para Israel e para a Igreja é problemática. No Novo Testamento, a identificação de Jesus como o Senhor (conforme Filipenses 2:11 e Romanos 10:9) unifica essas concepções. George Ladd destaca que tanto a vinda de Cristo para reunir Seu povo—vivos e mortos—em 1 Tessalonicenses 4:13-17 quanto Sua vinda para julgar os ímpios em 2 Tessalonicenses 2:2 são referidas como "O Dia do Senhor". Assim, para os cristãos do Novo Testamento, não há distinção escatológica que separe o julgamento divino destinado a Israel e à Igreja; ambos estão integrados na soberania e no senhorio de Cristo.4 

 

Em 1 Tessalonicenses 5:9, Paulo destaca claramente: "Porque Deus não nos destinou para a ira, mas para recebermos a salvação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo". Aqui, Paulo contrasta "Ira" com "Salvação", indicando que os salvos em Cristo estão isentos da condenação do Juízo Final, o que é corroborado em diversas outras passagens, incluindo Romanos 2:5, 5:9; Efésios 5:6; Colossenses 3:6; e Apocalipse 14:10 e 19:15. A promessa de "nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Romanos 8:1) e a advertência de que "quem rejeita o Filho não verá a vida, mas a ira de Deus permanece sobre ele" (João 3:36) reforçam essa verdade. 

 

No entanto, essa garantia de isenção da ira divina não implica uma isenção das tribulações. De fato, a Bíblia ensina que a Igreja enfrentará tribulações. Textos como 1 Pedro 2:20-21; Atos 14:22; João 16:33; Romanos 8:18, 23, 35, 36; e 2 Coríntios 8:2 enfatizam que os crentes passarão por adversidades. Jesus mesmo avisou Seus discípulos das tribulações que enfrentariam por causa dEle, como destacado em Mateus 24:9, onde diz que eles seriam perseguidos e odiados por todas as nações.

 

Adicionalmente, Apocalipse 7:14 descreve os que emergem "da grande tribulação" como aqueles que "lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro", ilustrando que, mesmo em meio a grandes provações, existe a possibilidade de vitória e purificação. Tiago, por sua vez, exorta os fiéis a perseverarem na provação, pois após serem aprovados, "receberão a coroa da vida, que Deus prometeu aos que o amam" (Tg 1:12).

 

Portanto, enquanto 1 Tessalonicenses 5:9 nos assegura que não estamos destinados à ira divina, outras passagens reiteram que as tribulações são parte do caminho cristão, um meio de testar e refinar a fé dos seguidores de Cristo.

 

O Arrebatamento não será secreto


Não existe fundamento bíblico para a ideia de que haverá incertezas sobre a identidade de Jesus ou sobre a realidade de Sua vinda quando Ele retornar. A Segunda Vinda de Cristo e o consequente arrebatamento da Igreja são consistentemente retratados nas Escrituras como eventos abertos e evidentes, nunca como secretos ou silenciosos.

Um evento retumbante:

  • “grande clangor de trombeta” (Mt 24.31; 1 Ts 4.16,17);
  • “assim como o relâmpago” (Mt 24.27);
  • "bramido do mar e das ondas; haverá homens que desmaiarão de terror... pois os poderes dos céus serão abalados" (Lc 22.25-28)
  • “Virá, entretanto, como ladrão, o dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo e os elementos se desfarão abrasados” (2 Pe 3.10; ver também v.12);


Um evento visível:

  • “assim virá do modo como o vistes subir” (At 1.11);
  • “aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem” (Mt 24.30);
  • “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele.” (Ap 1.7; ver também 19.11-21; Mt 26.64; Mc 14.62 e Dn 7.13) ; “pela manifestação de sua vinda” (2Ts 2.8);
  • “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas... bramido do mar e das ondas; haverá homens que desmaiarão de terror... pois os poderes dos céus serão abalados. Então se verá o Filho do homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória. Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei as vossas cabeças; porque a vossa redenção se aproxima.” (Lc 22.25-28; ver também Mc 8.38);
  • “aparecerá segunda vez” (Hb 9.28);
  • “Virá, entretanto, como ladrão, o dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo e os elementos se desfarão abrasados” (2 Pe 3.10; ver também v.12);
  • Paulo diz que nós os cristãos não estamos aguardando um evento secreto não visto pelo mundo, pois o que nós aguardando é “a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” (Tt 2.12; ver também Cl 3.4 e 1 Pe 5.4; 1 Jo 3.2; Mt 16.27; 25.31; 1 Co 4.5; 1 Tm 4.1; Jd 14,15; 1 Co 1.7; 2Ts 1.7,8).


Além disto, nenhuma das três palavras gregas usadas no Novo Testamento para descrever a Segunda Vinda de Cristo favorece a idéia de um arrebatamento secreto, pois todas apontam para algo visível e manifesto: parousia, apokalypsis e epiphaneia.


O pré-tribulacionismo: Uma doutrina recente sem fundamentos bíblicos ou apoio nos escritos da Igreja Primitiva

O pré-tribulacionismo é uma doutrina relativamente recente que não encontra respaldo nos escritos da Igreja Primitiva. Não há registros de apoio a essa perspectiva em textos dos primeiros séculos, nem em escritos posteriores, até 1830, quando Darby formulou a teoria, provavelmente tomando por base uma visão de Margaret McDonald, uma profetiza da Igreja Católica Carismática. Pelo contrário, diversos textos antigos corroboram que o ensino original do cristianismo previa que a Igreja enfrentaria a Grande Tribulação. George E. Ladd, após estudar o período patrístico, afirmou: “Cada pai da Igreja que trata do assunto prevê que a Igreja sofrerá às mãos do Anticristo”[2].

Até mesmo Walvoord, destacado representante do dispensacionalismo, reconheceu que o "pré-tribulacionismo", isto é, uma vinda de Cristo antes da Grande Tribulação da Igreja, não é explicitamente ensinado nas Escrituras[3]. Ladd complementa essa visão, destacando que a verdadeira esperança cristã não é um evento secreto, mas o aparecimento visível da glória de Deus no retorno de Cristo (Tt 2.13), e a revelação ao mundo de Jesus como Senhor, quando Ele vier com os anjos do Seu poder (2Ts 1.7).

 

 

Conclusão

Portanto, não há fundamentos bíblicos que apoiem a ideia de que a Igreja será isenta da Grande Tribulação. Pelo contrário, diversos textos bíblicos evidenciam que a Igreja enfrentará esse período desafiador. A análise histórica até o surgimento do dispensacionalismo em 1830 apresenta uma perspectiva claramente pós-tribulacionista, sem qualquer registro nos quase dois mil anos de história da Igreja que endosse a visão pré-tribulacionista de um arrebatamento secreto para eximir a Igreja da Grande Tribulação.

 

Dessa forma, concluímos que a Igreja não apenas passará pela Grande Tribulação, mas em muitos lugares e em diversos momentos, já tem vivenciado aspectos dela. Além disso, Apocalipse 20 descreve a soltura de Satanás, que promoverá um grande levante contra a Igreja no último capítulo da era presente. Essa intensa ofensiva satânica contra os discípulos de Cristo nos últimos tempos é reforçada por Apocalipse 12:12, que adverte: “ai da terra e do mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco tempo lhe resta”.

 

Adicionalmente, 2 Tessalonicenses 1 e 2 descrevem a perseguição que a Igreja enfrentará e a vinda do Senhor para destruir o homem da iniquidade e todos os que perseguem a Igreja. Essas passagens, juntamente com todas as demais mencionadas neste estudo, reiteram que a Igreja estará presente durante os momentos críticos da história humana, testemunhando e enfrentando as forças da iniquidade até o triunfal retorno de Cristo.



[1] Erickson, J. Millard - Opções Contemporâneas Na Escatologia - Ed. Vida Nova - 1a ed. SP, 1982, p. 126.

[2] Ladd, George, “A teologia do Novo Testamento”, JUERP, 1993, p. 513).

 

[3] J. Walvoord, The Rapture Question (1957) ,p. 148, Apud Ladd, George “Teologia do Novo Testamento. JUERP, 1993, p. 514.

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